Jessé Souza

A grande industria 4160

A grande indústriaMorávamos em um barraco numa área onde hoje é a Vila Militar no bairro Mecejana, atrás do quartel do 6º BEC (Batalhão de Engenharia e Construção). Logo a prefeitura removeu todas as famílias para o bairro São Vicente, um dos mais antigos localizados na zona sul da cidade. Ficamos numa área plana, mas perto de uma lagoa, onde está a Cadeia Pública de Boa Vista.

Por certo tempo, algumas casas alagavam no inverno naquela região. São Vicente era a periferia de Boa Vista e ninguém queria morar lá. Mas a cidade foi avançando e hoje aquele bairro é um dos mais estruturados, onde ainda resistem algumas das famílias pioneiras.

Naquele tempo, podíamos escolher uma área, em qualquer lugar, e tomar posse bastando levantar um barraco, inclusive sítios às margens de qualquer igarapé ou rio. Mas éramos tão desprovidos de ambição e de visão de futuro que nem ligávamos para acumular nada. Até que os imigrantes finalmente chegaram, os ricos e os pobres, e tomaram conta de tudo, principalmente por meio de invasões – e assim surgiram praticamente todos os bairros da Capital.

Por sua vez, chegaram os políticos e, aproveitando a fartura de se apropriar das coisas, criaram a “indústria da invasão”, que não só alimenta algumas campanhas eleitorais como também arrebanha gente velhaca de todos os tipos, que se aproveita dos que não têm casa para invadir propriedades públicas e privadas.

O mais clássico dos casos foi a invasão “Brigadeiro”, que se tornou o bairro Professora Araceli, na zona oeste. Os invasores batizaram inicialmente o bairro para ganhar a simpatia do governador da época, que era brigadeiro da Força Aérea, Ottomar de Sousa Pinto (que Deus o tenha!).

Desde lá, a bandidagem da especulação e da política só profissionalizaram essa indústria organizada. Embora todos saibam que a maioria dos invasores está apenas se aproveitando, ninguém consegue pôr fim a isso. Porque rende voto e parece que conta inclusive com a conivência judicial.

E assim vamos permitindo que a esculhambação continue dominando o cenário político e social. Porque os esquemas estão enraizados nas instituições e alimentados pelos mesmos velhacos de sempre. É preciso aproveitar essa onda de indignação alimentada pela Operação Lava Jato para também extirpar os males que nos aprisionam. Ou continuaremos sendo alvo dos invasores de toda espécie e dos canastrões da política.*[email protected]: www.roraimadefato.com/main