Jessé Souza

De Espirito Santo a Roraima 3662

De Espírito Santo a RoraimaEstar longe da realidade do Espírito Santo faz com que muitos se sintam confortáveis para lançar críticas e avaliações sobre o que está acontecendo por lá, com policiais militares aquartelados e seus familiares bloqueando o portão principal do quartel para que ninguém saia para cumprir o expediente no policiamento ostensivo.

Roraima já passou por situação semelhante. Felizmente, naquela época, o crime ainda não estava organizado dentro do sistema prisional nem a bandidagem se sentiu livre para agir diante da deficiência no policiamento por causa daquele aquartelamento. Talvez hoje a situação fosse diferente, com sérios prejuízos para a sociedade, diante do avanço da criminalidade e das drogas.

Mas o ângulo a ser analisado diante da realidade que parte do ES, e agora do Rio de Janeiro, é outro: as polícias há muito tempo estão largadas ao descaso pelos governantes; o caso do Espírito Santo tão somente revela a realidade da maioria dos estados brasileiros, onde os policiais têm trabalhando no limite há muito tempo.

Não fosse aquele movimento feito pelos policiais militares, além das seguidas manifestações dos policiais civis, a situação estaria bem pior em Roraima.  Mas isso não significa que a realidade local esteja perto da ideal. Ela segue a realidade de sucateamento e desvalorização da segurança pública em todos os estados, com o policial sofrendo todos os tipos de pressão diante de um sistema precário.

Assim como ocorreu com o sistema presidiário, os governos não fizeram esforços para investir na polícia e na segurança pública como um todo. O policial, pressionado no quartel, pela violência da rua e em casa para manter sua família com seus rendimentos cada vez mais apertados, tornou-se um “bomba ambulante” que sequer recebe acompanhamento psicológico e psiquiátrico como deveria.

O trabalhador policial se tornou mais uma vítima desse sistema que destroçou a saúde, a educação, a segurança, o sistema prisional e os demais setores importantes da sociedade. E não se trata deste ou daquele governo, mas de todos que largaram o setor público ao descaso enquanto mantinham seus grandes esquemas, a exemplo da Lava Jato.

A propósito, não é fácil estar numa instituição militar hierarquizada, recebendo pressão dos superiores e dos governantes, e do outro lado pressionado pelos familiares e, acima de tudo, sendo julgado pela sociedade, já que a lei diz que qualquer movimento por parte dos militares é ilegal. Então, só o tempo fará o julgamento do que está acontecendo. Por enquanto, é juntar os cacos e seguir adiante.

*[email protected]: www.roraimadefato.com