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FILHOS DO NORTE NETOS DO NORDESTE 2636

FILHOS DO NORTE, NETOS DO NORDESTE.

O Arraial junino promovido pelo o Governo do Estado de Roraima, e que está ocorrendo no Parque Anauá no período de 24 de junho a 03 de julho deste ano de 2016, traz como tema principal a frase: “Quem é filho do Norte é neto do Nordeste”, constante na letra da Música: “Netos do Nordeste”, de autoria do poeta roraimense Eliakin Rufino.

O tema traz em sua essência a valorização do trabalho dos migrantes nordestinos, principalmente dos pioneiros que chegaram a Boa Vista ainda no início do Século passado e aqui fincaram raízes. A partir do momento em que puseram os pés nesta terra, passaram a trabalhar, a produzir e a participar do desenvolvimento socioeconômico deste ex-Território Federal. E, com o passar dos anos, os seus descendentes constituíram suas próprias famílias.

Hoje, os filhos destas novas famílias, são netos do “Nordeste” – dos valorosos avós nordestinos. E, destes netos, já descendem bisnetos e trinetos que, com o passar dos anos, deram continuidade à história dos seus pais e dos seus avós. Portanto, quem é filho do Norte é realmente “Neto” do Nordeste.

Desde a construção do Forte de São Joaquim (1775 – 1778) já há registro de nordestinos entre os militares. O fundador da Fazenda Boa Vista, que deu origem à cidade, o capitão Inácio Lopes de Magalhães, era cearense. Assim como também era cearense o capitão Bento Ferreira Marques Brasil. Ambos foram Comandantes do Forte São Joaquim.

Em 1877 ocorreu uma grande seca no Nordeste brasileiro. Milhares de famílias deixaram seus municípios, suas terras e suas casas e procuraram outros estados onde pudessem trabalhar e ter melhor condição de vida. A maioria veio para a Região Norte, principalmente para o Amazonas, Acre e para o vale do rio Branco (Boa Vista – Roraima). Praticamente, todos os dias, chegavam à Boa Vista (na época um pequeno povoado em torno de uma fazenda) dezenas de famílias vindas do Nordeste. Eram cearenses, maranhenses, pernambucanos, paraibanos, piauienses, e tantos outros que chegavam à procura de trabalho.

Emprego formal, com direito à carteira de trabalho assinada, não havia, e o jeito era procurar trabalho nas fazendas de gado ou na agricultura por conta própria, já que havia muita terra ainda por ser desbravada. Neste caso, estas famílias passaram a plantar o que teriam de comer no dia-a-dia, no sistema que se chama hoje de “agricultura de subsistência”. Outras optaram por trabalhar nas fazendas dos “coronéis” – como eram chamados os fazendeiros proprietários de grandes áreas de terra e de muito gado.

Nestas fazendas, os vaqueiros – com suas famílias – trabalhavam sob o regime de “Quarto”, isto é, de cada quatro bezerros que nascesse eles tinha direito a um dos bezerros. E, assim, durante seguidos anos, foram adquirindo o seu próprio gado e, por conseguinte, formaram o seu próprio rebanho, e passaram a instalar a sua própria fazenda.

No final do ano de 1943, o governador do Território Federal do Rio Branco, o capitão Ene Garcez dos Reis, criou duas Colônias Agrícolas: a Colônia Coronel Mota (no Taiano) e a Colônia Braz de Aguiar (no Cantá), com o objetivo de produzir gêneros alimentícios para Boa Vista, principalmente Arroz, Feijão e Milho. E, em 1951, na época do governador Gerocílio Gueiros, foi criada mais uma Colônia, a “Fernando Costa” (que deu origem ao hoje Município de Mucajaí). E, para povoar estas Colônias, os governadores enviavam representantes para os estados do Nordeste, com a missão de convidar famílias para vir pro Território. As que aceitassem, recebiam passagem, alimento, e ajuda de custo na viagem. E, quando já instaladas nos lotes de terra nas Colônias Agrícolas, recebiam materiais para o trabalho na agricultura (foice, enxada, machado, facão, etc) para que começassem o plantio nas roças.

Em 1988, o Território Federal foi transformado em Estado de Roraima (conforme o Art. 14, das Disposições transitórias, constantes na atual Constituição Federal). E, se fez necessário convidar novamente famílias do Nordeste, principalmente do Maranhão e Ceará, para vir prá Boa Vista, a fim de compor o número de Eleitores que era exigido pelo Tribunal Superior Eleitoral, para que o novo Estado pudesse, efetivamente, ser instalado. O Governador Ottomar de Sousa Pinto enviou representantes com esta missão: trazer o maior número de famílias nordestinas para Roraima. E, assim foi feito.

Hoje, estas famílias estão inseridas no mercado de trabalho, produzem e contribuem com o desenvolvimento socioeconômico de Roraima.

Monumento aos Pioneiros: – Há em Boa Vista, diante da Orla Taumanan, na Praça Fábio Barreto Leite, um Monumento que retrata a chegada das primeiras famílias nordestinas em Boa Vista e, que por sua vez, através dos personagens ali inseridos, homenageia também os atuais descendentes destas ilustres famílias.

A história daquele Monumento é bem interessante. Em 1995, a Prefeita de Boa Vista, Maria Teresa Saenz Surita, em seu primeiro mandato (01/01/1993 a 31/12/1996, queria fazer uma homenagem às famílias pioneiras da cidade. A ideia seria a de um Monumento que retratasse estas famílias. E, neste projeto, contou com a colaboração do ex-vereador e, que depois se tornaria Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Amazonas Brasil. E, este, por sua vez, procurou a sua irmã, a artista plástica Petita Brasil (Luiza Carmem Brasil) para que, juntos, ajudasse na concepção da ideia do monumento. A Petita chegou a traçar alguns traços de sua imaginação criativa, acrescentando outros adereços e lendas que seriam retratadas. E, a partir daí, a ideia da Prefeita Teresa Surita passaria a ser posta em prática.

O segundo passo foi à escolha de quem faria o Monumento. Coube ao artista plástico, pintor e escultor Luiz Canará (Luiz Carlos da Silva Mota) a construção da obra, na qual pôs toda a sua criatividade e versão pessoal naquela obra, que seria o seu último trabalho artístico.

E, foi assim, por horas a fio, dia e noite, durante meses, sem parar, que o mestre  escultor Luiz Canará deu forma ao “Monumento dos Pioneiros”, instalado diante da Orla Taumanan, e inaugurado no dia 19/08/1995.

O Luiz Carlos da Silva Mota (nome artístico “Luiz Canará”)  era bisneto do Coronel Mota (João Capistrano da Silva Mota – o primeiro Superintendente de Boa Vista (1890). O Luiz Canará era filho do casal Cosme da Silva Mota e de América Clementina Mota. Ele nasceu no dia 19/06/1953 e faleceu no dia 13/09/1996.

Assim, como o Luiz Canará, homenageou as famílias pioneiras num Monumento, o poeta e cantor roraimense Eliakin Rufino, prestou também sua homenagem, através da música que ele pôs o nome de: “Netos do Nordeste”:

“Eu tenho um pé no Ceará / O meu avô era de lá / Eu tenho um pé no Maranhão / Eu tenho mais, eu tenho a mão / Eu tenho um pé no Piauí / o Rio Grande do Norte passa por aqui / Eu tenho um pé em Pernambuco / Tenho uma perna no sertão / Eu tenho um braço na Bahia / Uma costela em Alagoas / Na Paraíba, o Coração / Quem é filho do Norte / É neto do Nordeste / Sou chuva na floresta /Sou mandacarú do agreste / Quem é filho do Norte / É neto do Nordeste / Sou farinha de caboclo / Eu sou cabra da peste”.