Minha Rua Fala

Minha Rua Fala 17 01 2018 5501

PROFESSOR ODIR LUCAS DA SILVAGente da nossa gente, personagem que partiu e deixou saudade.

O professor roraimense Odir Lucas nasceu na Fazenda Santa Fé, na região do Uraricoera, em 31/05/1947. Iria completar 71 anos de idade no próximo mês de maio, e em quase toda a vida dedicou-se ao ensino da Educação Física, cuja formação se deu pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul.

Odir Lucas ministrou aulas e participou ativamente na preparação física de alunos em várias escolas de Boa Vista, dentre elas: Ginásio Euclides da Cunha, Murilo Braga, Monteiro Lobato, Barão de Parima, Penha Brasil, Lobo D`Álmada, Oswaldo Cruz, e em tantas outras.Foi por muitos anos o Técnico da Seleção de Handebol e Coordenador dos Jogos Escolares de Roraima. E, a convite do Governador, à época, Ottomar de Sousa Pinto, administrou as atividades esportivas do Estádio Canarinho, onde também coordenou a Colônia de Férias de alunos, que eram realizadas na própria instalação daquele Estádio. Aliado a este trabalho, também foi Instrutor de atividades físicas da Polícia Militar de Roraima.

Odir Lucas coordenou em muitos anos um Grupo Escoteiro em Boa Vista e foi destaque com este grupo nas atividades sociais e nos desfiles estudantis. E, com o seu ritmo dinâmico e preparado fisicamente para atividades que exigiam maior esforço corporal, subiu ao topo do Monte Roraima, numa época em que havia poucas estradas de acesso e os caminhos ainda tinham que ser feito pelos primeiros aventureiros. Nas suas andanças por todo o interior do Território de Roraima, visitou diversos sítios arqueológicos, dentre estes a Pedra Pintada, e registrou em livros os lugares por ele visitados.

Odir Lucas tinha uma memória privilegiada para guardar nomes de pessoas, fatos ocorridos, lendas, histórias e “causos” contados pelos mais antigos. É o que se constata nas páginas de um dos seus Livros: “A boa e bela sorte de uma vida roraimense”, publicado em 2010. Neste livro, ele juntou o real e o irreal do folclore roraimense, além do registro dos antigos carnavais de Boa Vista e dos personagens que fizeram a própria história de Roraima.

 Um dos seus hobbies, além da paixão pelo time do Flamengo, era a “Pescaria”, aliás, era um apaixonado pelos peixes dos rios e dos lagos roraimenses. Em seu livro, ele prosa com os seus antigos companheiros na arte de pescar: “Eu queria ver de novo, esses mestres da pescaria: o Demétrio, fisgar um peixe filhote; Gervásio, arpoar um Pirarucu; o amigo “Pé-de-galinha”, fisgar e titinhar o saboroso peixe Pacú”, e o Amorim flechar um peixe Jaú”.

Em seus registros históricos, OdirLucas escrevia o que lhe vinha na memória: “Hoje eu amanheci relembrando o meu tempo de menino, quando eu ia chupar cana na roça do senhor Marcelino. Já à noite, como era gostoso ir a uma festa na casa do senhor Pedro lambança. E, na manhã, ia tomar banho no açude, mas hoje isso só existe na lembrança”.

Odir Lucas, como escritor, registrava em suas anotações a vida pacata do interior de Roraima: “Como eram animadas as festas nas fazendas, com casamento, carreiras de cavalo e forró, carne de sol e linguiça no varal, galinha, pato e peru, e a vaquejada trabalhando com o gado no curral, com laço de couro cru, e o sanfoneiro era o bacurau!”.

Em suas crônicas memoráveis ele registrava os costumes e tradições da Boa Vista antiga e prestava homenagens, através de poesias, dedicatórias às pessoas que faziam parte da história de Roraima. Odir Lucas também era um crítico mordaz em relação aos maus políticos e a “incompetentes” (como ele gostava de mencionar) gestores de instituições públicas que apenas ocupavam cargos para se locupletar.

Odir Lucas era um apaixonado pela comunicação. Chegou a ter um Programa na Rádio Roraima e depois fez várias participações através de entrevistas em outras emissoras.

Há de se registrarque ele era um Mestre Maçom, obreiro da Arte Real na Loja Liberdade e Progresso nº 1, jurisdicionada à Grande Loja Maçônica do Estado de Roraima. O Cadastro de Odir Luca é o de nº 0144-1, e Iniciou na Sublime Ordem em março de 1974. Foi Elevado a Companheiro em 20/06/1974, e Exaltado ao Grau de Mestre em 29/09/1974, conforme atestou o atual Venerável Mestre daquela Loja, Erick José do Valle Oliveira.

Além destas atividades, Odir Lucas presidiu o “Conselho Estadual do Idoso”, onde atuou com firmeza na defesa dos direitos dos companheiros de “Cabelos de prata”.

Odir Lucas da Silva era casado com a senhora Mariza de Carvalho Silva, e com ela teve os filhos: Patrícia da Costa Silva, Valeska de Carvalho Silva, Leila Carvalho da Silva, e Rodrigo de Carvalho Silva. Deles descendem os netos: Larissa Costa (filha de Patrícia); Ohara e Izidora (filhas de Valeska); Kaique e Ana Clara (filhos de Leila); e Magno Carvalho (filho de Rodrigo).

O professor Odir Lucas da Silva faleceu no dia 15 deste mês de janeiro (de 2018).

O poeta Walber David Aguiar, assim se expressou: “Nesses dias tão estranhos / quero cantar o teu canto / feito ave do lavrado / Juriti no galho seco / Arrulhando para ti / Velho amigo Odir Lucas / que cantou em verso e prosa / essa vida roraimense.// Dançou no Uraricoera / com luz, paixão e quimera / feito amor de primavera / no tom da valsa vienense”.

 Eu, de minha vez, digo que amigos não se despedem para sempre. Dizem até breve. Um até breve já cheio de saudades e lembranças dos momentos partilhados no exercício da profissão de Professor, que fomos e continuamos a sê-lo (eu, de cá; e ele, de lá), até nos reencontramos no futuro “noutra” quadra de esportes.