Jessé Souza

No meio da tarde 3726

No meio da tarde

Não é meu costume ficar um dia dentro de casa, parado na frente de uma TV ou conectado na internet. Porém, depois de uma viagem cansativa para o Uiramutã, por exigência do corpo, fiquei quase toda a segunda-feira de Carnaval no quarto, com a televisão ligada. E, vez ou outra, acessava as redes sociais e alguns sites de notícias.

Mas o que me impressionou mesmo foi, no meio da tarde, ver os programas policialescos transmitidos principalmente de São Paulo, na TV aberta. Os programas locais, nesse mesmo tom, não deixam a desejar os de fora. Quando estive em Belém (PA) e em Fortaleza (CE), há um certo tempo, também pude assistir aos programas policialescos e vi que todos são irmãos siameses, mudando apenas o endereço.

Em poucos minutos, zapeando pelos canais, vi que esses programas de grande audiência exploram a violência e entram na mente do telespectador, que passa a viver as cenas de tragédia como se fosse sua própria vida. A reatividade é imediata. É como se fôssemos sugados para dentro daquela carnificina selecionada pelos programas.

É por isso que o populismo tem impregnado a vida das pessoas, que passaram a tomar o veneno diário por meio da violência que passa praticamente ao vivo. Achando-se indefesas e acuadas, elas começam a enaltecer os políticos populistas como remédio imediato para as desgraças que acometem o mundo, sem refletir sobre suas verdadeiras causas.

As pessoas não estão mais parando para ler, refletir e analisar a realidade. Os venenos vão sendo inoculados a doses cavalares no meio da tarde pela TV e a qualquer momento pela internet. E não será de se duvidar que, nas eleições de 2018, um desses apresentadores de programas vespertinos vire candidato a presidente do Brasil, popularizado por suas bravatas.

A propósito, as pessoas nem estão sabendo mais distinguir se os bravateiros são piores ou melhores do que os canastrões da política envolvidos nas bandalheiras da corrupção. Tudo se tornou uma incógnita. Afinal, os países mundo afora têm colocado no poder os bravateiros, os xenófobos e os que se colocam como “não políticos”, embora sejam de caráter duvidoso, a exemplo dos Estados Unidos.

O fato é que as pessoas precisam parar de se envenenar com essa ostensiva massificação da violência cultuada pela mídia. A crônica policial como notícia deve servir de alerta às pessoas, até para se precaver, mas não como veneno diário que adoece a mente e a alma, deixando o cidadão vulnerável às manipulações de quem usam como discurso o populismo, pronto para pegar aqueles que ficam alheio à realidade fora da TV e das desgraças na internet.

*[email protected]: www.roraimadefato.com