Opinião

Okia 06 10 2017 4912

 

O homem na contramão da civilização – Sebastião Pereira do Nascimento*

No princípio o universo já existia, e a vida na terra surge há cerca de 4 bilhões de anos. Muito tempo depois surge o homem habilidoso (Homo habilis) há cerca de 2 milhões de anos. Depois surge Homo erectus há cerca de 1.5 milhões de anos e, mais recente, isto é, há cerca de 10 mil anos surge o homem moderno (Homo sapiens).

Primeiros os hominídeos vêm quase rastejantes e depois se movimentam lentamente em direção vertical. Há evidências que seja durante nesse trajeto que se inicia a linguagem falada, visto que a posição bípede dos hominídeos tenha sido fundamental para liberar a boca e facilitar o processo da fala, e ao mesmo tempo liberar as mãos permitindo a confecção de artefatos rudimentares a partir da pedra lascada.

Esses episódios culminaram ainda com o início da vida social, visto que os hominídeos já viviam agrupados em cavernas. Nessa época inicia-se também o uso do fogo pelo homem, o que permitiu modificar sua estratégia de sobrevivência, numa clara demonstração de que ele já surge trazendo a ânsia da inovação, algo que define a própria condição humana.

Já no transcurso do “Homo sapiens”, o homem prioriza as observações empíricas e começa a ligar as relações de causa e efeito ante o desconhecido. Porém, não conseguindo explicar alguns fenômenos naturais, ele é levado a criar algo que suprisse a lógica do mistério e passa acreditar em diversas divindades – isso provavelmente pode ter sido os primeiros passos para o homem desviar de sua própria essência, e também pode suscitar que toda a concepção de deus é humana.

A ideia das divindades progrediu até o momento em que o homem passa desenvolver a arte de previsão através da astrologia, a necromancia, etc no sentido de prever o futuro, além de criar “métodos” rudimentares para tentar modificar a trajetória humana a partir da magia, da bruxaria e dos encantamentos. Aqui é possível sugerir que todo o esforço do homem, desde os tempos remotos, foi sempre de gerar meios de transformar a natureza das coisas em benefício próprio, mesmo que tais transformações possam incidir em perdas irreparáveis.

Na medida em que o homem se apropriava de novas descobertas, aumentava a pressão pela necessidade de explicar o mundo ao seu redor, e essa carência incorporada à sua alma divina, leva ele ao monoteísmo, ou seja, acreditar num poder único, invisível e capaz de satisfazer suas inquietudes. Diante disso, surge deus! E logo se revela ao mundo como um ser onipresente, onisciente e onipotente.

Mais tarde, com o avanço sequencial mental do homem, surgem os primeiros pensadores, ou os sofistas como eram conhecidos na antiguidade. Os sofistas surgem num momento de transição na forma de interpretar e pensar do homem quando as fábulas e as divindades deixam de ser a explicação para os fenômenos naturais, colocando o pensamento racional como pressuposto de compreensão dos processos humanos.

Na sequência temporal, surgem os filósofos pós-socráticos, onde as ideias de Platão e Aristóteles adquirem grande importância nesta fase. Criou-se um movimento usando os conhecimentos disponíveis para entender e explicar a alma humana e a existência de deus. A partir disso o homem deu passos largos, ainda que sem rumo, potencializando o conhecimento e aperfeiçoando os meios de sobrevivência da sociedade medieval.

Estas acepções se acirraram também nas fases seguintes com o surgimento da ciência, onde o homem passa utilizar métodos de observação e experimentação com auxílio de instrumentos técnico-científicos, contribuindo com vários deleites para a humanidade. Ora fortalecendo os apelos da religião, ora renegando o paradigma divino, a partir de novas compreensões do universo.

Já nos tempos modernos, embora o homem continue com suas inquietações universais, seu principal foco de interesse é satisfazer o gosto da sociedade, sobretudo na busca intensa pelo novo, pelo mais fácil, pelo mais perto, etc. Isso faz com ele se desvie da sua trajetória inata, ao mesmo tempo em que emprega seus esforços tentando reparar os danos gerados às reais causas que favorecem a evolução humana, as quais já não são mais atributos de celebração, mas algo que reflete o quão distante o homem está da civilização. Desse modo, ficam as conquistas do passado, as lutas inglórias do presente e os fracassos do futuro,

Hoje podemos perceber que a pressa incessante é maior do que capacidade de reflexão do homem, ela não permite que ele dê respostas às suas inquietações. E diante desse vazio humano e das mudanças irreflexivas, a fase futura da humanidade deve ser considerada como a “fase do silêncio”, onde ninguém mais precisará praticar a fala, e junto sucumbirá também outras substâncias humanas, visto que tudo vai estar “pronto” e o homem só precisará de um toque ardil para saciar seus sôfregos desejos. Todavia, nessa fase ele já não é mais um ser civilizado, e sim uma criatura hostil, indiferente e esmaecida de todas as essências humanas.

*Filó[email protected]

Túnel sem luz – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Não existe para a libertação, uma estrada fixada nem um acesso a qualquer outro lugar. A libertação é a revelação das energias do Eu, quando se rompem as cadeias da ignorância.” (O Paramarthasara)

Preparei-me para um assunto legal e agradável para um fim de semana. De repente ouvi, lá da sala, e pela televisão, uma notícia absurda sobre um crime hediondo que acabara de acontecer lá por Minas Gerais. Os participantes do programa estavam todos emocionados. Mesmo sem o desenrolar das notícias não pude evitar de deixar o meu assunto para depois. Que o mundo está passando por um período assustador, está. Mas não mudará se nós não mudarmos.

Se prestarmos mais atenção aos ensinamentos da Cultura Racional, provavelmente encontraremos o caminho certo. A Cultura Racional nos diz: “O ser humano é o parasita mais monstruoso que existe sobre a terra, em razão dos crimes hediondos que pratica contra as leis naturais.” E enquanto não entendermos isso não nos racionalizaremos, e continuaremos sendo os animais apenas de origem racional.

Vamos começar pelo começo. Vamos parar de brigar, e fazer o que devemos fazer para sermos merecedores da nossa origem. Continuaremos sem entender que enquanto continuarmos lutando contra, teremos sempre inimigos. Nada mais tolo do que lutar contra. Por que não lutar a favor do que é contra o contra? Em vez de lutar contra o racismo, por que não mostrar sua superioridade no que você realmente é como um ser humano igual a todos os seres humanos? Nunca venceremos enquanto lutarmos contra o inimigo. A inteligência está em mostra para seu adversário que você é igual a ele, e que ele é que está sendo inferior, pensando que é superior. Mas isso só se faz com inteligência. E só os inteligentes sabem que somos todos iguais nas diferenças. Enquanto lutarmos pela igualdade, seremos desiguais.

Nunca nos livraremos dos problemas alimentando-os com nossos pensamentos. Quanto mais você pensa no problema, mais ele cresce. Então vamos nos educar e pensar mais nas soluções do que nos problemas. Enquanto ser humano, ainda estamos no nível troglodita. Ainda temos muito que aprender para sairmos do mundo dos animais ainda apenas de origem racional.

Vamos cuidar mais da nossa Educação. Só com ela poderemos nos tornar realmente racionais. E isso demanda muito tempo, e até eternidades. E não nos educaremos enquanto não nos respeitarmos. Lute pelo que você quer, e não contra o que você não quer. É aí que está a encruzilhada do sapo. Seu inimigo será sempre superior a você se você se preocupar com ele, tornando-o mais forte do que você. Pense nisso.

*[email protected]