Opinião

Opiniao 10 02 2018 5636

Um filme em que você é o herói – Pedro Panhoca da Silva*

Já há um tempo que a Netflix planeja um novo tipo de entretenimento: um programa/filme/curta no qual o próprio telespectador é quem decide como o enredo continua.

Esse tipo de entretenimento não é novidade: existe pelo menos desde a década de 1930 na literatura e desde 1980 na indústria de games, seja nos jogos dos primeiros computadores como os Text Adventures (sendo Zork um famoso expoente) ou os livros-jogos (séries como Fighting Fantasy, Lone Wolf e outras dezenas delas) os quais muito jogador de RPG tinha como “ritual de iniciação”.

Assim como antigamente se evitavam filmes de super-heróis por falta de recursos, hoje se acredita que o famoso provedor global de filmes e séries de televisão via streaming tenha tecnologia suficiente para fazê-los, e com sucesso. Mas será que o boom vai ser o mesmo conseguido pelas produtoras que apostaram nas eternas rivais Marvel e DC? Alguns creem que seja uma visão utópica, pois o que o assinante gosta mesmo é de consumir passivamente o que lhe é oferecido. Porém, o conteúdo muitas vezes pode ser de alto padrão de complexidade, fazendo-o refletir como questões, tabus e regras podem ser questionadas hoje no mundo. Pois então: o consumidor quer mais do mesmo ou inovação no formato?

Uma boa noite de sono pode ser uma boa metáfora para tal. Comparando tal situação com um sonho (com o perdão do trocadilho, ela ainda o é), os “passivos” diriam que já que tomaram inúmeras decisões em seu dia, como que caminho é o melhor para se chegar ao cliente, qual tarefa precisa ser prioritária nos serviços do dia, o que comer no almoço, entre outras. De fato, nossa vida é interativa. Por isso, o sono deveria nos guiar e não ser guiado, deveria apenas ser obedecido, seguido, aceito. Já os mais “ativos” adorariam aprender a controlar também seus sonhos e torná-los lúcidos para poderem não só vivenciarem 100% de seu dia, mas principalmente por poderem “realizar” atos impossíveis na vida real. Portanto, ambos têm bons argumentos.

De qualquer forma, só avaliamos o produto depois de finalizado. Custa à Netflix tentar, e seu público, avaliar. O certo é que se somos técnicos de futebol e mudaríamos a escalação de nossos times e jogadas em campo, e por vezes também somos roteiristas que fariam do enredo algo diferente.

Fazer o filme algo controlável? Se concorda, sorria e imagine essa novidade chegando em nossas telas. Se discorda, desacredite e torça para a Netflix também o fazer. Querendo ou não, já começamos nossas escolhas por aqui, não?

*Mestrando em Literatura do programa de Pós-Graduação em Letras da Unesp – Câmpus de Assis. Atualmente é professor de Leitura e Produção de Textos da Fundação Hermínio Ometto

A VIOLÊNCIA CRESCE E A PAZ DESAPARECE – Vera Sábio*

Felizes são aqueles que têm um lugar digno para repousar e comida básica para se alimentar. Pois não há paz sem o básico para sobrevivermos com dignidade.

É até difícil, quem não conhece a dor de uma barriga vazia, imaginar do que é capaz um ser humano com fome.

Em um local com a natureza rica, onde tudo que se planta nasce, onde o rio nos fornece água e peixes, e as árvores da cidade, produzem muitas frutas. Verificarmos tantas e tantas pessoas vivendo nas ruas e nas praças, como pedintes miseráveis.

Sabemos que há bastante tempo é propagado o controle de natalidade, afinal é impossível termos filhos a torto e a direita, sem um planejamento, uma análise da renda que ganhamos, para saber quantos podemos alimentar e educar com dignidade.

Isto não quer dizer que sou a favor do aborto, muito pelo contrário, sou totalmente contra, em qualquer hipótese. No entanto, a realidade não é um sonho ilusório, em que irresponsavelmente vamos procriando e deixando a sorte prover.

Só fiz esta pequena comparação, para relatar nossa atual situação, a qual fugiu de qualquer planejamento. Visto que todos os dias, aumenta mais e mais, a população venezuelana em nosso Estado. Deixando-nos sem condições de suprir nossas necessidades, quanto mais as deles.

Com isso cresce exageradamente a concorrência por atendimentos em postos de saúde e hospitais, vagas em escolas e maior falta de segurança.

Ser bom ou ser mau vai muito além de qualquer nacionalidade, todavia, com o grande aumento populacional, piora a crise. Acabam ficando nas ruas de Roraima, os venezuelanos mais pobres, sem quaisquer instruções, sem condições básicas de sobrevivência, pois aqueles com um pouco mais de condições, de instruções, com educação superior e que chegaram aqui por algum transporte e com algum dinheiro, tendem a conseguir emprego com maior facilidade, como também partem para outros locais em busca de uma vida melhor.

Morando nas ruas, junto com os pedintes brasileiros, os que passam fome e são sujeitos a serem violentados, como também praticarem diversos atos ilícitos, aumentando os furtos e roubos, a prostituição, a revolta e mesmo as facções e assassinatos.

A violência cresce e a paz desaparece. Fazendo os cidadãos de bem terem medo de sair de casa, terem maiores dificuldades com a saúde pública, que antes já não era tão boa. E para dizerem que os venezuelanos são os ruins, os bandidos brasileiros falam espanhol, colocando a maior culpa da violência nos venezuelanos, aumentando o preconceito e a revolta e a competitividade entre todos nós.

Tudo isso revela que realmente um controle da entrada de estrangeiros neste Estado precisa ser rigoroso e melhor organizado, mais fiscalizado e menos permitido.

Somos nós brasileiros que temos entendimento da língua que falamos, somos nós que conhecemos de diversos mandatos, vários políticos no poder, os quais precisamos analisar muito bem e não mantê-los lá, diminuindo assim a enorme corrupção do país. Por isso não podemos aceitar que façam leis para permitir o voto de estrangeiros. Já que eles não conhecem nossos políticos e a falta da compreensão da língua faz com que sejam manipulados com maior facilidade.

Esta estratégia de políticos em se manterem no poder, somente comprova a falta de vontade que eles possuem, de resolverem esta situação caótica pela qual vivemos.

A realidade demonstra que a crise se instalou em todos os locais, mostrando que está na hora de uma profunda transformação. Pois temos muitos filhos brasileiros na miséria como nossos irmãos venezuelanos.

Porém, mesmo sendo complicado e difícil, mas é uma questão de sobrevivência, primeiro salvar nossos filhos, nossa família, nossa pátria, para depois ajudarmos o outro. Antes que sejamos destruídos todos nós.

Peço a Deus e à justiça que algo bom e eficaz seja realmente feito, na valorização da vida e pensando no melhor para todos.

*Psicóloga, palestrante, servidora pública, escritora, esposa, mãe, e cega com grande visão interna.CRP: 20/04509e-mail [email protected]

As flores no caminho – Oscar D’Ambrosio*

Italiana de nascimento e radicada no Brasil desde os 12 anos de idade, a médica cardiologista Floriana Bertini tem a palavra “flor” no nome e, embora a observação pareça ingênua, no caso dessa artista visual, parece haver um projeto do destino, pois a maneira que fotografa flores faz desabrochar nela e em quem a cerca um universo de afetos.

Essa dinâmica se expressa no projeto #asfloresnocaminho. Tudo começou no intervalo entre os exames que coordena. Viu uma flor e a fotografou. Repetiu a ação no dia seguinte e iniciou uma saga de imagens que ensinam a educar o olhar. Afinal, imersos na maratona cotidiana, corremos o risco de deixar de olhar para o que está ao nosso lado.

E não é pouco o que ali existe! As expressões visuais que Floriana apresenta são arte por diversos aspectos. O principal é a sua capacidade de envolver pessoas, foi assim criado o projeto #asflorzinhasnocaminho, que leva crianças a fotografar flores em parques. As ações com adultos e crianças se complementam com a produção de textos e o apuro de sensibilidades. Floriana Bertini gera debates e interações com suas flores. Que lindo!

*Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp

Desisti de tentar – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A mente está em seu próprio lugar e em si mesma. Pode fazer um céu do inferno, um inferno do céu”. (John Milton)

Como eu pensava que estava o dono de mim mesmo, resolvi viver minha vida. Foi a maior furada. Ultimamente quando alguém me telefona perguntando para onde irei, no fim de semana, respondo: “Não sei pra onde vão me levar?” Pensando, por que não, já que estava sozinho em casa, fiquei uma semana inteirinha sem ligar o televisor. O alívio foi tanto, lembrando-me de que, ligar o televisor é a primeira coisa que meu filho faz quando acorda, pela manhã. Mas o importante é que me desliguei, literalmente. Mas o tempo foi passando e eu fui percebendo que não estava só.

Aí passei a ouvir as notícias que vinham lá do quarto dele. Mas tive tempo bastante para concluir o quanto as notícias na televisão me incomodam. Dias depois me toquei pra isso. Foi quando ouvi uma notícia de uma garota que caiu num poço lá no interior de Goiás. Aí fiquei pensando no que interessa ao habitante de Roraima, um acidente de automóvel lá na África do Sul. E olha que há emissoras que ficam o dia todo martelando a mente da gente com assuntos que não nos dizem respeito.

Mas a coisa não é só isso. Sem intenção de ouvir, ouvi notícias sobre a quantia alarmante de dinheiro que as mulheres brasileiras gastam, por ano, com produtos de beleza. Fiquei feliz. O diabo é que logo ouvi a comentarista dizer que uma das preocupações das mulheres é que seus maridos fiquem bonitos e bem cuidados. Cara… Pra meu azar eu estava exatamente na frente do espelho do banheiro. Olhei para o espelho e tomei um susto. Será que a dona Salete ainda vai ter a felicidade de ver o marido dela bonito e bem cuidado? Você já me viu de boné? Eu estava de boné. Tirei o boné, joguei-o pra lá e me olhei com calma. Não tinha mudado nada. Meu cabelo é mais rebelde do que eu. E pelo que vi, ele estava se exibindo. Peguei a escova e o escovei. Não adiantou nada. Cocei a cabeça procurando uma solução. Nada. Aí sorri pro espelho. Até que melhorou um pouco, mas não vou poder ficar a vida toda sorrindo.

Saí da frente do espelho o mais rapidamente que pude. No quarto, fiquei pensando como foi que a Salete teve coragem de ficar mais de cinco décadas olhando pra essa cara feia, numa cabeça feia com cabelos brancos e rebeldes. Novamente sorri, agora longe do espelho e me senti mais seguro. Acho que o mal não está na minha feiura, mas com o espelho. Ele bem poderia ser mais complacente comigo. Afinal de contas não custaria nada ele mentir um pouco na minha frente. Mas será que eu seria feliz se ele fizesse isso? Pense nisso.

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