Opinião

Opiniao 14 02 2017 3656

Fevereiros Dorvalianos – Walber Aguiar*

Tristeza não tem fim, felicidade sim                                               Vinicius

Era fevereiro. Mês da loucura, da festa e do vento.  Da crise e do encanto. Espaço da reflexão, do profundo encavernamento existencial. E das cavernas do obscurantismo e da ignorância saiu Dorval de Magalhães. Encontrou a luz, a realidade maior, o deslumbramento de ser e de conhecer. Entendeu o estético, a plasticidade da vida, cuidou da pétala, dialogou com o espinho.

Assim viveu o poeta da rua da jaqueira. Assim buscou o desvelamento da alma, o sentimento pétreo, a dor de curtir a vida, de ser curtido por ela. À semelhança de Kyerkegaard, Dorval tentou encontrar a felicidade.

No soneto, na ilusão, no contato com os seus iguais, na força do encanto, na profundidade da melancolia. Nas estrelas que não alcançava, no chão fértil da planta, na azáfama do cotidiano.

Com um olhar vislumbrou tudo o que pôde captar. Nada negou aos olhos ou ao coração. Suas mãos agarraram com força a concreção histórica e o abstracionismo do existir. No entanto, já não bastava o toque, o sentido, a captação visual. Por isso ele mergulhou na direção do ético. Tentou ser feliz na dimensão comportamental. Pagou as contas, amou os filhos, agiu com responsabilidade, respeitou o espaço democrático. Era britânico em relação a horários, métrico na sonetização do verso, firme nas opiniões, teimoso nas concepções sobre o gênero humano e o livre-arbítrio. Mesmo assim, a felicidade continuava sendo uma tentativa, um cão que tenta morder o próprio rabo. Esse foi o jogo de Dorval Magalhães. A procura sôfrega por alguma coisa que fizesse sentido, a busca renitente pelo fascínio, o desejo ardente de encontrar a “lâmpada mágica” e sua alegria permanente.

De uns tempos pra cá o velho poeta quis aperfeiçoar o elemento ético. Já não satisfazia o comportamento sério do cidadão de cabelos brancos. Daí o salto na direção de Deus. O alavancamento da fé, a operosidade por aquilo que não se pode amealhar. Acreditava, sobretudo, na arte como elemento redentivo. No belo como manifestação do sagrado, na força da palavra como sendo o logos, a verbalização do Divino, que habitou entre nós cheio de graça e de verdade. Sempre falava de aparições, de avisos do outro mundo, de recados do invisível. Por isso, percebeu que a felicidade ainda passa pelo infinito, ainda recorre ao eterno e à eternidade.

Era morrer ou continuar tentando. Mesmo que os pecados da estrutura e do indivíduo impedissem o caminhar. Mesmo que os homens públicos naufragassem no proceloso mar da corrupção e o cidadão se avacalhasse na chamada “lei do Gérson”.

Era fevereiro. Mês da folia, de Dorval, nosso Orfeu da Conceição. Mês em que ele faria 103 anos. Depois da chuva ele entendeu a lágrima, sorriu e se espreguiçou gostosamente em sua cadeira. Apesar de tudo, ele tentou ser feliz…

*Poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras [email protected]

Profissionalismo ou picaretagem? – Marlene de Andrade* Poderia alguém ser puro com balanças desonestas e pesos falsos? (Miquéias 6:11).Entendo o que se passa com as funerárias de Boa Vista, pois é duro buscar crescer profissionalmente, inclusive dentro dos regulamentos exigidos até mesmo pela Vigilância Sanitária e de repente, uma empresa não qualificada entra no mercado de trabalho de forma irregular, competindo com aquelas que estão regularizadas dentro dos padrões estabelecidos pela lei e normas sanitárias.

E não me venham afirmar que o sol nasceu para todos, pois esse discurso está, completamente, fora de contexto. Ou o profissional é habilitado, ou não é, pois não existe meio termo. Ora, por que uns têm se especializar e cumprir as regras da lei e outros que não possuem a capacitação necessária podem entrar no mercado de trabalho? Nesse contexto a Bíblia assevera que tudo deve ser realizado com ordem e decência.

Semana passada conversei com um empresário renomado a esse respeito, quando ele me sinalizou que não era para eu ficar com raiva devido esses fatos estarem ocorrendo em nosso estado e que se o CFM, CRM e Ministério do Trabalho e Emprego/MTE, não proibia o médico estar atuando na Medicina do Trabalho, devidamente especializado, não era para eu ficar, de fato, com raiva.

Olhei bem firme para ele e disse-lhe que eu não estava com raiva não e sim irada. Para quem não sabe, ira tem a ver com o senso de justiça. Ora, para que me submeti a uma prova a fim de adquirir título de Especialista em Medicina do Trabalho pela ANAMT, e entre outros, me tornei Técnica de Segurança no Trabalho/SENAI, se outros que não se esforçaram, na mesma medida, estão aí atuando tranquilamente e burlando a lei, sem que nada lhes ocorra?

Quais pais vão deixar seu filho recém-nascido ser acompanhado, digamos, por um Clínico Geral, em vez de um Pediatra? Infelizmente, dentro da Medicina do Trabalho ocorre aqui e acolá, essas aberrações.

Há uma lista no CRM/RR contendo os nomes dos médicos que podem atuar em Medicina do Trabalho, mas fazer o quê? Também existe uma legislação que proíbe médicos que não sejam especializados em Medicina do Trabalho atuar nesse ramo. Vide a NR7 do MTE. Ah, não estão nem aí, para essa lei? Então eu encerro este meu discurso, pois nada mais tenho a dizer a este respeito a não ser ficar, digamos: irritada. *Médica especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT, pós-graduada em Perícias Médicas e Saúde Pública, técnica de Segurança no Trabalho

No ritmo da vida – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Há momentos na vida que para você ser o mesmo tem que mudar”. (Leonardo Boff)O pequeno universo em que vivemos ainda vive em transformação. As mudanças são permanentes, constantes. E nós, enquanto ser humano, também fazemos parte dessas mudanças. Ainda vivemos num constante período de transformações. Para vivermos o dia de hoje temos que viver o hoje. Ontem já é passado. Se não mudamos não evoluímos. E sem evolução não iremos a lugar nenhum. Somos todos de origem racional. E o mínimo que devemos fazer é fazer o que pudermos fazer para mudar e evoluir. Já sabemos que a vida é como as chuvas, viemos vamos e voltamos. É nesse constante ir e vir que progredimos. Mas nosso progresso depende de cada um de nós.

Você já sabe que no universo de onde viemos não há unidade de tempo. E por isso, o tempo que já vivemos por aqui, que não é menos de vinte e uma eternidades, não é contado como tempo. Quanto tempo nós ainda vamos ficar por aqui não interessa ao nosso universo; o que implica responsabilidade para cada um de nós. E entender isso já é um grau de evolução. Porque mesmo não sabendo medir na escala do desenvolvimento, estamos nos desenvolvendo. Mas atente-se para o fato de que continuamos num desenvolvimento de progresso a regresso.

Procuremos viver nossas vidas dentro do padrão de racionalidade. E o importante é que a racionalidade não impõe limitações. Quando sabemos o que queremos e para onde vamos, não necessitamos que ninguém nos oriente. O importante é que saibamos, em todo momento, que direção tomar sem precisar perguntar ao sapo da Alice. E aprendemos isso quando aprendemos que todo o nosso poder está em nossos pensamentos. Quando sabemos dirigi-los, eles nos levam aonde queremos ir, sem a necessidade de orientações alheias. Mas precisamos nos conhecer para podermos corrigir e orientar nossos pensamentos. Não devemos permitir que alguém dirija nossas vidas, indicando-nos nosso caminho. E isso nós aprendemos na nossa infância, dentro dos nossos lares. E se não aprendemos, vamos aprender para que nossos descendentes aprendam com eles mesmos, com nosso apoio e nossa orientação, mas sem nossa direção. E até agora todo empecilho está em não entendermos isso. E não entendemos porque é simples pra dedéu. E os seres humanos são arredios à simplicidade confundindo-a com vulgaridade. E aí a jiripoca pia.

Vamos simplificar nossas vidas. Demos vivê-las como elas devem ser vividas. Com simplicidade e racionalidade. Somos todos de origem racional. E não temos por que viver como simples animais de origem racional. Porque é isso que somos. Pense nisso.

*[email protected]