Opinião

Opiniao 14 05 2018 6187

Maternidade e Responsabilidade – Tom Zé Albuquerque*

O Dia das Mães, embora muitos apontem como momento puramente comercial cuja finalidade é aquecer o mercado, é um átimo que gera reflexão, proporciona reencontros e reconhecimentos e aflora emoções várias. No entanto, cabe uma ponderação quanto à prudência na decisão de ser mãe. A decisão de parir deve considerar fatores pessoais, mas também as condições atuais e futuras para quais estruturas devem estar condizentes àquele ser humano a vir ao mundo. Nesse espectro, surge uma discussão que paira há anos no Brasil sobre um dualismo voltado ao planejamento familiar e o controle de natalidade. O problema é cultural, envolve submissão religiosa e decorre da omissão do poder público que sem ânimo de se indispor com seu eleitorado prefere enxergar os direitos sexuais e reprodutivos como um fator teológico ou de valores, e não como uma questão de saúde pública e, principalmente, de humanidade.

O foco do Planejamento Familiar é a orientação, a prevenção, de acordo com o discernimento de cada um. É uma linha puramente romântica e utópica para o Brasil, uma sociedade majoritariamente dotada de analfabetos funcionais, farta de grupos anárquicos e provida de milhões de pessoas fadadas de comportamentos irresponsáveis. Portanto, planejar a família não é uma questão de preferência, é uma realidade a ser prudentemente coordenada através do poder público, evitando assim problemas sociais graves, sobremaneira a miserabilidade alastrada.

Já o Controle de Natalidade se volta à organização social, o respeito aos direitos à saúde, à moradia, à educação e outras faculdades naturais a qualquer cidadão brasileiro. Isto tudo, como sabemos, são prerrogativas inacessíveis para famílias cuja prole cresce anualmente, por vezes ultrapassando15 filhos, comumente de pessoas sem mínima condição para sobreviver, extensivo todo calvário aos seus inúmeros filhos. Por que, então, mães não se postam nas condições de condutoras na formação de sua família, seja por imposição, ou por prevenção através dos abundantes métodos contraceptivos?

Enquanto os países desenvolvidos mantêm taxas baixíssimas de natalidade, no Brasil a bagaceira é grande, especialmente no Nordeste, cuja média de crescimento populacional (segundo o IBGE) é bem acima da média nacional, boa parte de famílias de renda familiar até ¼ do salário mínimo, transferindo assim a responsabilidade de criar sua exagerada família para os governos. Será que uma mãe se sente bem com uma situação dessas? O que leva uma mãe a colocar uma fartura de filhos no mundo para sofrerem com fome, desnutrição, deseducação, vergonha…

Planejamento familiar no Brasil é um contrassenso. A religião defende essa sistemática, mas se esquiva do caos social instalado, proveniente dessa deformidade conjuntural. Um caso emblemático nessa querela está no distrito de Campo Grande (RN), pelo aposentado Luiz de Oliveira, considerado “paquerador insaciável”, fez 69 filhos, tem 100 netos e 60 bisnetos, maior parte debandada para vários rincões no país, jogados à própria sorte, para se virarem como podem. Pela condição econômica desse frenético reprodutor, era ele pra ter sido castrado ou preso no segundo filho, para evitar sofrimento, suplício, mortificação e desilusão de tanta gente.

A quem interessaria o aumento populacional, a dependência social e a alienação sistêmica? A negligência dos governos em tentar deter os desarranjos familiares chega a ser abominoso. A quem beneficia isso tudo? Às mães, certamente, não.

*Administrador

A ilusão de ser representado – José João Neves Barbosa Vicente*

Em uma democracia denominada de representativa, o povo costuma escolher seus representantes, mas estes nem sempre escolhem o povo ou trabalham para ele; de um modo geral, os interesses e os objetivos dos representantes eleitos, caminham quase sempre no sentido contrário daqueles que os elegeram. Muitas vezes, depois de eleitos, alguns se acham melhores do que o povo e simplesmente deixam de lutar por aquilo que a ele interessa diretamente. Ou seja, desligam completamente das suas questões, isso significa silenciar a voz do povo onde ela mais precisa ser ouvida.

Nesse sentido, a democracia representativa não garante uma verdadeira representação, uma vez que o povo não é verdadeiramente representado; sua participação na tomada das decisões políticas, não passa de ilusão. De forma indireta, alguns representantes usam o povo como meio para a realização das suas próprias vontades.

Um dos objetivos da democracia representativa é, sem dúvida, defender os interesses do povo, mas nem todos aqueles que são eleitos representantes têm a intenção de fazer essa defesa, isto é, representar efetivamente aquele que o elegeu; seus objetivos e interesses particulares costumam estar sempre em primeiro lugar, ainda que camuflados perante o olhar esperançoso do povo. Infelizmente, entre a virtude e astúcia, existem aqueles que sem qualquer perplexidade preferem a segunda opção, por isso a política dificilmente se livra de artifício, dissimulação e mentira. Na política o princípio de ação deve ser sempre a verdade e a autenticidade, mas não é difícil observar que ainda existem alguns indivíduos que preferem uma “ação” baseada na aparência e na falsidade. É lamentável que em política ainda existam pessoas que preferem passar por honesto do que sê-lo.

* Professor de Filosofia

Transformadores anônimos – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“O importante é que cada indivíduo tenha a oportunidade de evoluir, partindo das raízes do seu próprio ser”. (H. Chaudhur)

Como você vê um ajudante de pedreiro e como um ajudante de pedreiro vê você? Esse duelo começou na minha cabeça, ontem pela manhã. Diariamente eu passo por eles, quando vou pegar o jornal, pela manhã. Eles nunca me cumprimentam. Acho até que eles fingem não me ver. Vez por outra dou um bom-dia ao que está sempre enchendo o carrinho, de areia. Ele quase sempre não responde e quando não tem como fingir não ouvir, responde com um sussurro e sem levantar a cabeça. E eu ainda nem tinha percebido que além de mim ninguém os cumprimenta. Saí pen
sando, por que será que não se cumprimentam. Resolvi deixar de lado os que passam e me concentrei neles.

Formam um grupo pequeno. São pedreiros e ajudantes de pedreiros. Quando vou, eles estão no papo de esquenta. Preparo para o batente. Quando volto, eles estão no batente. Na volta de ontem, voltei pelo outro lado da rua para observar melhor o que eu via e o que vejo. Uma transformação extraordinária ainda não observada. Há poucos dias, naquele terreno de esquina havia uma mangueira, um, ou dois cajueiros, um coqueiro e sei lá o que mais. Além, claro, de tremenda sujeira. Hoje existem três casas, sendo construídas, uma das quais, já concluída. Acho que com a correria do dia a dia atual, ninguém mais se lembra de como era aquela esquina, dias atrás. E eles são os responsáveis por aquela transformação. Talvez nem imaginem que são. Não imaginam o valor que têm como construtores do progresso. Nem mesmo sabem que sem eles não haveria progresso. E por isso não se valorizam no valor que realmente têm.

O que estamos fazendo para a conscientização da importância que cada ser humano tem na sua tarefa para o desenvolvimento da humanidade? Mesmo quando sua missão é tão singela que nem mesmo é percebida e por isso mesmo não é valorizada? Por que você se acha mais importante do que o ajudante de pedreiro? Não estou dizendo que você não seja. A questão é: por que você se acha? O que você acha que seria seu escritório se a faxineira não o varresse, o espanasse? Por que não dizemos aos ajudantes de pedreiros e às faxineiras como o trabalho deles é importante para a sociedade? E se seus trabalhos são importantes fazem deles pessoas importantes. E que quem é importante tem que se sentir importante. E quando nos sentimos importantes nos valorizamos como seres humanos e cidadãos. É o que falta na nossa integração social. A consciência de que somos todos iguais nas diferenças. Pense nisso.

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