Opinião

Opiniao 17 02 2018 5661

Quaresmeiras – Francisco Habermann*

Sei que a festa nem acabou ainda em alguns lugares do Brasil enquanto a realidade retorna crua para a maioria sobrevivente nos caminhos da existência. Nesse cotidiano mais real eis que o pensamento é despertado para as belezas mais profundas da vida.

Venho observando quaresmeiras floridas na cidade já há algum tempo. É um brilho surpreendente, todo especial. Seus arbustos simples, até rústicos, são acostumados às terras fracas, quais dos corações humanos enganados ou desenganados com as ilusões do mundo. Suas flores buscam o brilho da simplicidade. Esta lembrança me vem com uma história real.

Nunca mais me esqueci da cena alertada pela minha ilustre professora quando me deu carona de retorno para casa, após as tarefas hospitalares. Ao passar por uma rua pela qual eu trafegava diariamente, mostrou-me o canteiro de flores que eu nunca havia reparado antes. Fiquei surpreso com minha cegueira ou desatenção diante daquelas belezas. O diagnóstico não era de visão defeituosa, mas de sensibilidade pobre, qual terra fraca. Isso me marcou para sempre.

Hoje, presto atenção no trajeto que faço independente do destino. Chego a me perder, mas quero apreciar o caminho. E fico feliz com as sensações colhidas nessa jornada, qualquer que seja, podendo mesmo ser a da própria vida. Aliás, dizem os entendidos que felicidade não é mesmo o destino, é o próprio caminho. Acho que estou aprendendo, caminhando. Seguirei em frente.

As flores roxas do caminho já me levaram a confundi-las. Outro dia mesmo imaginei, ao longe, estar vendo uma daquelas conhecidas quaresmeiras, mas eis que estava diante de um manacá da serra. Para distingui-las é necessário observação de detalhes botânicos.

São duas belezas trazidas da Mata Atlântica para o nosso convívio. Li que o manacá diferencia-se das quaresmeiras principalmente pela coloração das flores, que ao se abrirem são brancas, no dia seguinte ficam de cor lilás e no terceiro dia tornam-se roxo-violáceas. Já as quaresmeiras têm o centro da flor branco e este fica avermelhado depois de visitada pelo inseto que a poliniza. A quaresmeira roxa é comum, a de coloração rosa foi conseguida através mutação gênica. Entre quaresmeiras e manacás, fico com todas as flores.

O importante mesmo é que foram as pequeninas e multicoloridas maria-sem-vergonha ( beijinhos ) que despertaram tudo isso em mim, aquelas do canteiro extenso que eu nunca reparara antes, mesmo passando tantas vezes naquela rua da vida. Agradeço à gentil e sábia professora.

E nem era tempo da quaresma. Beijinhos florescem o ano todo!

*Professor da Faculdade de Medicina da Unesp de BotucatuContato: [email protected]

Refletir e Agir – Paulo Eduardo de Barros Fonseca*

Passados os festejos de final de ano, as férias de verão e o carnaval, aparentemente, as pessoas assumem uma postura mais séria e se voltam para os problemas do cotidiano. É comum ouvir dizer: agora o ano começou!

Este ano favorece a reflexão sobre alguns temas que, em minha opinião, devem ser sopesados pela sociedade como um todo, sobretudo quanto ao pleito eleitoral que se avizinha.

É inegável que há algum tempo o país vive momentos de transformação. A mídia tem revelado que os princípios da democracia são aviltados por comportamentos inadequados daqueles que mantêm relações próximas ou exercem o chamado poder político e, aproveitando-se dessa situação, favorecem a corrupção, o tráfico de influência, os rombos nas contas públicas etc., subvertendo com tais atitudes os valores morais e éticos que devem nortear a vida do indivíduo em sociedade.

Desta maneira, o pleito eleitoral que se realizará neste ano propicia uma grande oportunidade para que todo cidadão, ao exercer seu dever-poder de votar, participe do processo de aprimoramento do sistema social e político, sobretudo, porque a todos será dada a chance de se manifestar, de se posicionar quanto àquilo que deseja para si e, sobretudo, para o país.

Nas democracias o governo é escolhido pelo povo e em seu nome deve ser exercido, simplesmente porque o povo é soberano em suas vontades. Nesse passo, o exercício da cidadania deve ser responsável e consciente, notadamente em relação à escolha daqueles que irão conduzir o poder político da nação.

É de se ter sempre em mente que essa responsabilidade é intransferível e que a má escolha, inevitavelmente, resulta em representantes inconsequentes que continuarão a fazer triunfar os vícios e as nulidades que desnorteiam as gerações forjadas em valores corrompidos.

Mais do que simplesmente criticar e se envergonhar da forma como parte dos políticos tratam a coisa e o interesse públicos, muitas vezes desvirtuados e desconsiderados em prol de conveniências personalíssimas ou de alguns poucos, é preciso compreender que cada cidadão tem a ferramenta para coibir a ação daqueles que maculam os bons costumes, as leis e a representação que lhes foi outorgada, ao utilizarem instrumentos de corrupção, da mentira e da fraude para obter vantagens ilícitas e indevidas.

Aliás, urge que essa reflexão seja feita para que se crie consciência de que o povo, a população, cada cidadão, pouco importando sua condição social, é imprescindível na formatação de uma sociedade mais justa e que busca a construção de uma ordem social que valorize a ética, a moral, que leve em conta os princípios cristãos e, como finalidade, privilegie o bem comum.

Daí a importância de que todas as pessoas se conscientizem da sua fundamental importância no exercício da cidadania, do voto consciente, porque a omissão ou a eventual escolha incorreta, inevitavelmente, acarreta problemas de grande monta para toda sociedade.

Se enfrentamos – e enfrentamos – dificuldades com aqueles que exercem a representação política, seja no Poder Executivo como no Legislativo, é porque as individualidades não têm dado o devido valor ao ato de escolher quem deve desempenhar o dito poder político.

Todo cidadão – aqui como um dever, uma obrigação – precisa ter consciência de que é artífice na construção do bem comum e que isso, repita-se, irremediavelmente, passa pela escolha responsável de quem o representará.

Todo cidadão tem a oportunidade de influenciar de modo significativo no coletivo, ajudando na transformação da sociedade e do Brasil, influenciando para que a ordem social seja fundada na justiça e na solidariedade, notadamente ao escolher o justo para governar, dando vida e vivenciando o ensinamento bíblico, portanto, milenar, expresso em Provérbios 29:2 que diz: “quando o justo governa o povo se alegra”.

Com coerência filosófica e política Rousseau afirmou que “o povo é soberano e que a soberania é a superação do estado de fraqueza, guiada pela razão humana”. Assim, é o cidadão, cada cidadão, quem tem o dever e o poder de coibir a ação daqueles que, ao representá-lo, macula os bons costumes, as leis e a representação que lhe foi outorgada.

O bom trato da coisa pública, o bem comum, é o mote que deve orientar a atuação daqueles que exercem qualquer munus público, e essa representação deve ser exercida por pessoas que, em qualquer situação, atuem dentro dos princípios da ética e da moral.

Nessas circunstâncias e, parafraseando Ruy Barbosa, é de lembrar “que nos momentos de crise eu não troco a justiça pela soberba. Eu não deixo o direito pela força. Eu não esqueço a fraternidade pela tolerância. Eu não subestimo a fé pela superstição, a realidade pelo ídolo”.

Essa reflexão precisa ser feita para propiciar que cada cidadão, ao fazer o exame da sua atuação, exerça sua consciência e ação política com responsabilidade. Assim, que cada qual possa refletir e, sobretudo, agir com coerência moral e ética, exercendo sua cidadania em prol da construção de uma sociedade mais justa e perfeita.

*Advogado – Titular do escritório Sheldon Barros Fonseca – Advogados; Procurador Estadual aposentado (Unesp); Presidente da APAESP – Associação dos Procuradores Autárquicos do Estado de São Paulo; e Membro do Conselho Superior da ABRAP – Associação Brasileira dos Advogados Públicos

Amizades eternas – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“O sorriso é o idioma do amor universal, até as crianças entendem”. (A. C. Jesus)

O riso, o sorriso, enfim, a alegria, são os maiores valores do ser humano. Ruim é nem sempre prestarmos atenção a isso. O riso tem que ser sincero senão não é riso e assume papel de deboche. O sorriso é menos arriscado.

É mais difícil de ser disfarçado. Não há quem não reconheça um sorriso falso. Logo, se não puder sorrir sinceramente, não sorria. Sua cara amarrada pode lhe ser bem mais gratificante. Ninguém despreza você por sua cara ser amarrada. Mas não o suportará se seu sorriso for forçado. Deu pra sacar o blá-blá-blá? Mas é isso aí. Senti, ontem, durante todo o dia, a grandeza que tem um sorriso. Encontrei-me com velhos amigos a quem não via, fazia tempo. Todos sorriram franca e abertamente para mim. Foi legal pacas.

Na década dos setentas tive um amigo, no Rio de Janeiro, que se chamava José Barros. Era um cara legal. Eu trabalhava no departamento de compras de uma empresa de produtos navais e ele era fornecedor da empresa. Morávamos bem próximos; ele em Bonsucesso e eu em Higienópolis. Vez por outra nos encontrávamos depois dos expedientes e íamos juntos para casa. Foi ele que naquela tarde de trânsito terrível, na Avenida Getúlio Vargas, no Rio, ele cortou o barato de um oficial do exercito que queria ultrapassá-lo. Já falei disso aqui e não vamos tocar mais nesse assunto. Prefiro falar de minha amizade com o amigo Zé Barros.

Lembrei-me dele, ontem à tarde, quando eu esperava a dona Salete, no pátio do Hospital Coronel Mota. De repente surge na minha frente, um dos amigos que mais estimo, venero, respeito e quero bem. O roraimense José Barros. Uma das amizades que mais me orgulham. Pela simplicidade que ele irradia nos seus afagos verbais. Olho-lhe nos olhos, vejo e sinto a sinceridade que me impressiona no balanço de, pelo menos, três décadas de amizade. Grande Zé Barros. Mais um dos que me sorriem com sinceridade. Abração e carinho respeitoso para os Zés Barros que me fazem sentir-me feliz por merecer o que há de mais agradável na convivência social.

Simples pra dedéu, mas mais importante do que ser importante é sentir-se importante nos outros. E ninguém sorri sem se sentir feliz. Logo, respeite, venere e guarde no seu interior, a amizade dos que a oferecem, vinda do âmago do sentimento mais puro, que é o amor sincero. Seja sincero nas suas amizades e você será respeitado e amado. Ame, indiferentemente à resposta ao seu amor. Faça do seu amor uma dádiva e não um objeto de troca. É assim que sonos felizes; contribuindo para a felicidade dos outros. Pense nisso.

*[email protected]