Opinião

Opiniao 19 09 2017 4803

Flores de um setembro amarelo – Walber Aguiar*

Uma dor, um grito, e desagendamos o amanhã Acordou com um gosto de pé de pato na boca, já não sabia o que era torto ou direito, certo ou errado, espinho ou flor. Já não discernia angústia ou prazer, instituição religiosa ou submissão ao Eterno.

Sua mente estava absolutamente confusa com os acontecimentos daqueles dias. Sua esperança fora banida diante daquilo que ameaçava roubar sua sanidade. Cuspiu num canto, tomou um café morno e pensou em dar um fim a tudo aquilo que o atormentava naquela manhã.

Leu alguns fragmentos literários que encontrou sobre a mesa. Tentou submergir diante da voragem existencial que ameaçava tragá-lo para o grande abismo da desesperança, como que a sufocar aquele peito desgastado e cansado da rotina, do tédio, da mesmice. Já não era uma simples tristeza, vadia, fugaz, específica. Vinha sobre ele a terrível angústia, o tédio, a máscara melancólica do existir. Saltou da cama disposto a vencer a si mesmo e ao pálido fantasma da depressão.

Entendeu que estava encurralado entre o doce da alegria e o amargo da poderosa angústia. Percebeu que estar triste, acabrunhado, casmurro, não era um bicho de oito cabeças. Fazia parte do existir, dessa floresta nem sempre encantada que é a vida. Isso porque, conquanto feia, a angústia continha em si mesma o renascer, a grandeza, a fibra, a autenticidade. Por outro lado a alegria, filha da felicidade, podia conter a mentira, o cinismo, a falsidade. Embora usasse expressões de beleza e ternura, podia atolar os mais incautos no terrível pântano enganoso das bocas.

Saiu, pois lhe sufocava o hermetismo daquela manhã cinza e sem perspectiva. Torneiras pingavam, contas chegavam, relacionamentos acabavam, puídos que estavam pela mesmice, pelo enfado, pela vida sem aventura. A casa não lhe cabia, a rua não lhe dava sinais de justiça e graça. Apenas o silêncio dos transeuntes, de homens e mulheres que se espremiam entre a dor de ser e a avidez de consumir para dar alguma satisfação a tal felicidade, ensinada através dos comerciais em que todos aparecem lindos, magros e sorridentes. Foi para mais distante. Mas, ainda que o niilismo lhe conduzisse os passos, não lhe cabia a cidade com suas armadilhas e tragédias urbanas.

Naquela geografia da solidão e do vazio, percebeu que tudo estava dentro dele. Mesmo assim, insistiu no evento terminal, o suicídio. De tardezinha, observou o crepúsculo, beijou a si mesmo, ensaiou alguns versos e saltou abismo abaixo. Felizmente, descobriu que a psicologia de Deus podia invadir-lhe a mente e fazê-lo viver com sentido e graça. Tomou um banho, escovou os dentes, amou as pedras, o rio, os passarinhos. Amou a si mesmo e ao outro. Voltou a viver…

*Poeta, professor de filosofia, historiador, Conselheiro de Cultura e membro da Academia Roraimense de [email protected]

Chega de coação no mundo do trabalho – Marlene de Andrade*

O Senhor odeia os lábios mentirosos, mas se deleita com os que falam a verdade… (Provérbios 12:22).

Virou moda colocar no Programa de Controle Médico em Saúde Ocupacional/PCMSO uma série de exames desnecessários e o interessante é que certas “clínicas do trabalho” por este Brasil afora estão solicitando exames laboratoriais que nem as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego/NRs exigem, pois esse Ministério foi bastante comedido na exigência dos mesmos. Quanto ao Programa de Prevenção de Riscos Ambientais/PPRA, quanta insensatez vem rolando neste importante documento!

As principais razões para a realização excessiva desses procedimentos estão nas falhas da formação de alguns médicos e técnicos do trabalho e devido aos interesses financeiros. A solicitação de exames laboratoriais deve ser feito com muita precaução e tal assertiva também é válida no mundo do trabalho, pois o excesso dos mesmos despropositados só serve para dar prejuízo e mais nada. Se não há motivos clínicos e justificáveis, por que solicitar tantos exames laboratoriais?

O número exagerado de exames não proporciona o diagnóstico de uma doença, pois o exame clínico é soberano para se chegar ao diagnóstico de uma moléstia. Será que a solicitação, por exemplo, de RX anualmente para trabalhadores que pegam peso, ou para quem trabalha em alturas se faz necessário? Óbvio que não! Não podemos nos esquecer de que RX é altamente cancerígeno e só deve ser solicitado para confirmar uma hipótese diagnóstica. Portanto, solicitar exames, desnecessariamente, é um absurdo.

Hoje já existem até “clínicas do trabalho” solicitando RX de seis e seis meses para os empregados que trabalham em altura, o que não deixa de ser uma barbárie! Outra situação degradante e que até já virou rotina no Brasil, são algumas “clínicas” se equiparam com aparelhos de Eletroencefalograma/EEG, Eletrocardiograma/ECG e outros exames cujo laudo é realizado fora do Estado e pela internet. O que é isso, senão querer lucrar nas costas dos empregadores, os quais por não entenderem do assunto, pagam por uma enormidade de exames laboratoriais desnecessários.

E tem mais, não vale a desculpa, por exemplo, que trabalho em altura, exige, entre outros, que o trabalhador seja submetido ao exame de EEG porque o mesmo pode ser epilético e até morrer dentro do andaime. Tal raciocínio é esdrúxulo, pois o médico tem que detectar no exame admissional a hipótese do trabalhador ser epilético e solicitar EEG apenas para confirmar o diagnóstico. É importante entender que os exames laboratoriais podem dar falso positivo e falso negativo. Como se pode perceber o exame clínico é muito mais importante do que exames de laboratório. Chega de exploração.

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT

Na vereda da política – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Os partidos políticos nacionais são arapucas eleitorais e balcões de vendas.” (Afonso Arinos)

Não vamos vilipendiar a política brasileira. Deixemos que os políticos façam isso. Mas os que vilipendiam não são todos, apenas os que não conseguem fazer seu trabalho, como ele deveria ser feito. E é precisamente por isso que devemos prestar mais atenção a nós mesmo. Porque se alguma coisa está errada, o erro foi nosso. Nós o presenteamos ao político, através do voto. Então vamos nos corrigir.

Assistindo, com meu neto Iago, ao pronunciamento do General Martins Mourão, preocupei-me. Se se juntar o pronunciamento do General Mourão ao do Marechal Juarez Távora, ver-se-á que há uma semelhança assustadora. Os dois advertiram que a ocupação militar trará dificuldades e maus momentos. Mas que será necessária para pôr a casa em ordem. E, a meu ver, os anos serão longos.

No início da década dos sessentas, o Marechal Juarez Távora disse, pela televisão, que se os militares assumissem o der no Brasil teriam que ficar, pelo menos, trinta anos. E isso para arrumar a casa de maneira que os civis nunca mais conseguissem bagunçar. Mas só ficaram vinte e um anos. Já falei isso por aqui várias vezes. E não há mais como evitar, se se comparar os acontecimentos com o Presidente Temer, com os do Presidente João Goulart. O lamaçal era o mesmo. E quem viveu aqueles momentos sabe muito bem o que acontecia naqueles dias. Logo, vamos ter cuidado com o que acontecer depois do acontecido.

Sem alarde, mas vamos tomar juízo e aprender a caminhar pelos caminhos e veredas da civilidade. Ou nos civilizamos ou nunca seremos um país civilizado. E não vamos nos espelhar nos acontecimentos e comportamentos dos países que se dizem e são tidos como civilizados. Porque temos o mau hábito de só nos espelharmos pelos países espalhafatosos. Vamos começar a trabalhar pela nossa Educação. Ela está no fundo do poço. E os retalhos que estão nos apresentando para corrigi-la não são mais do que blá-blá-blás.

Eduque seu filho para que ele seja um cidadão de fato e de direito. Vamos educar nossas crianças para o mundo em que elas viverão e certamente não será mais o nosso mundo. A verdade é que se não educarmos as crianças teremos que punir os adultos no futuro. E é isso que vimos fazendo a longo tempo. E comecemos pela política que é o ponto positivo do sucesso. Enquanto não formos politicamente educados não seremos um povo civilizado. Uma tarefa que é nossa e de mais ninguém. Então vamos fazer cada a sua parte, como ela deve ser feita, para que sejamos todos iguais perante as leis. Pense nisso.

*[email protected]