Opinião

Opiniao 20 02 2018 5672

Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade/TDAH – Marlene de Andrade*

Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz… (Hebreus 12:11)

O portador de TDAH sofre na maioria das vezes de insônia e é mais tendente a sofrer acidentes domésticos, de trabalho e de trajeto. Eles, na grande maioria das vezes, não conseguem ser produtivos e apresentam um maior número de faltas tanto no trabalho quanto na escola.

Quando crescem, essas pessoas tendem ser inconsequentes no falar e no agir. No mundo do trabalho, são bastante improdutivas e por isso o número de demissões é muito alto nos portadores desse transtorno, pois não conseguem fazer suas tarefas adequadamente. Eles também não conseguem cumprir prazos e cometem muitos erros, pois são bastante distraídos e não se adequam às regras instituídas pelas sociedades organizadas.

Essas pessoas desde pequenas são agressivas, possuem mau humor, dificultando a interação com seus familiares e com as pessoas em geral. Sendo assim, são mais tendentes à violência e ao crime, pois são bastante antissociais e por isso, mais tendentes a se envolverem com o mundo do crime e o uso de drogas psicotrópicas lícitas e ilícitas.

Muitas famílias, por todos esses fatos, acabam perdendo a paciência com a criança e começam a denominá-la de preguiçosa e passam apontar o dedo em riste contra ela, fazendo-a piorar bastante de seu quadro clínico, pois o estresse faz agravar e piorar qualquer doença ou transtorno.

Os colegas do colégio podem perder a paciência com a criança portadora de TDAH, pois ela não consegue permanecer parada e concentrada piorando seu relacionamento profundamente com as pessoas à sua volta e por isso, podem sofrer bulling. Tudo isso vai dificultando sua inserção no seio familiar e na sociedade, levando-a perder de sua autoestima e se tornando muito revoltada como tudo e com todos.

Pessoas com TDAH são muito irritadas, não seguem as regras da moralidade e não conseguem terminar suas tarefas, principalmente as que envolvem esforço mental. Crianças com esse transtorno, na escola não conseguem ficar sentadas nas carteiras como deveriam e apresentam dislexia. Outra característica é que falam demasiadamente e não suportam esperar.

O TDAH pode apresentar mais de uma comorbidade, entre as mais comuns, depressão, ansiedade, compulsão alimentar, distúrbios do sono e, quando adultos, drogadição. Assim sendo, devido ao comprometimento em múltiplas esferas da vida, adultos com TDAH, apresentam baixa autoestima crônica e frequentemente quadros depressivos e ansiosos.

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT

Assembleia dos homens – Walber Aguiar*

Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos

Houve um tempo em que a piedade se apossava com mais facilidade da alma humana. Homens e mulheres buscavam uma resposta para os mistérios que não compreendiam, fenômenos naturais e angústias pessoais e particulares. Tempo de absoluta internalização daquilo que poderia preencher as vagas e brechas do existir humano, na expectativa de tornar a vida algo mais suportável.

A partir dessa busca pelo sagrado, variadas vertentes surgiriam nesse chão da fenomenologia e da historicidade. Não apenas a vaziez existencial para preencher, mas a mensurabilidade, a concreção histórica, o desejo de construir a fé sistematizada, sobre colunas e pilares. Aí começou a Constantinização do evangelho, fazendo com que os cristãos saíssem das cavernas para os templos.

Na esteira da historicidade surgiram as estruturas eclesiásticas. Daí para as denominações e suas placas foi um processo extremamente rápido e efetivo. Assim vieram calvinistas e arminianistas, os primeiros com a exacerbação da soberania divina transformaram o homem num boneco nas mãos de Deus; os últimos seguiriam na afirmação de que o homem tinha poder pra querer, deixando Deus praticamente fora do processo.

Ora, daí vieram congregacionais, presbiterianos, luteranos, adventistas, batistas e assembleianos; Estes últimos representados historicamente por Daniel Berg e Gunnar Vingren. Assim, o pentecostalismo surgiu, no afã de “aquecer” o “esfriamento” das chamadas denominações históricas. No entanto, trouxe com ele vícios doutrinários, legalismo, exacerbação de doutrinas, fixidez comportamental, como “não toques nisso”, “não pegues naquilo”, coisas que valor nenhum tem diante da sadia espiritualidade.

Como se não bastasse o legalismo e exacerbamento doutrinário, que ensina preceitos de homens e inventa agenda pra Deus, explodiu dentro da igreja uma enorme vontade de fazer política. Na verdade, politicalha, pois, sem ética e sem evangélicos políticos, o que restou foi a quantidade no lugar da qualidade, como moeda de troca, ou seja, o rebanho vendido de porteira fechada, e a sede do poder pelo poder, bem como a comercialização da fé e a mercadejação do sagrado.

Nesse viés, o que era pra ser Assembleia de Deus, tornou-se algo bizarro, caricaturesco, pois foi hipertrofiada a graça e o rosto de um Deus cheio de vida e grandeza. Daí a igreja que era de Deus, passou a ser Assembleia dos homens, visto que foi sangrada pelo grande capital, na perspectiva de Max Weber e sua teoria weberiana.

Pastores que se estereotipam como caudilhos dos regimes vigentes, lobos que “lideram” a alcateia alienada e sem rumo; muitos fascinados pela poder e pela facilidade em conseguir terrenos para templos, aparelhagem de som, material de construção, cargos comissionados e tantas outras benesses.

Por causa de um ou de alguns que se apropriam indebitamente dos bens da igreja, a mesma é dividida, rachada, perdendo aos poucos sua santidade, sua influência como sal da terra e luz do mundo. Gente atrelada ao poder que o cargo oferece, ávida por negociar os votos do rebanho. Mas, ainda há muitos que não se dobraram a Mamon e a Baal. São os de coração sincero que buscam viver a palavra e as velhinhas de cocó que levam a igreja nas costas com suas orações e lágrimas. O que passar disso é apenas loucura de pseudopastores que desprezam a Deus e se atrelam aos homens, cheios de mercenarismo e possuídos pela síndrome de Balaão, usando Deus apenas como referencial para seus discursos vazios, sem poder e sem graça.

*Poeta, professor de filosofia, historiador, membro do Conselho de Cultura, advogado e membro da Academia Roraimense de [email protected]

ENSINAR: Uma atividade nobre – José João Neves Barbosa Vicente

Assim como todas as atividades exercidas pelos seres humanos, o ato de ensinar também exige alguns cuidados e conhecimentos. Certamente, ele não é uma atividade cujo objetivo é controlar ou dominar o outro, portanto, qualquer um cujo desejo é ensinar, precisa estar ciente disso. Ninguém pode acreditar que age corretamente quando ensina, se sua intenção é simplesmente incutir ideias ou opiniões pré-formadas ou preestabelecidas, cujo objetivo primordial é “produzir” seres que simplesmente obedecem. O ensino deve sempre visar o despertar; aquele que ensina, não deve se esforçar para induzir e nem interferir, ele deve sempre contribuir de forma eficaz, para que o indivíduo consiga, com sua própria mente e com seus próprios olhos, enxergar a realidade como ela é, sem qualquer tipo de retoque. Não se pode falar de ensino, enquanto não se trabalha incessantemente para que aquele que é ensinado se torne livre e ele mesmo; aquele que ensina não pode pretender transformar o “ensinado” em um produto da sua própria vontade. Qualquer indivíduo que pratique o ato de ensinar com a intenção de incutir unicamente suas ideias na cabeça daquele que é ensinado por ele, não entendeu ainda o que significa ensinar e, certamente, representa um grande perigo para o ensino. Para que o ensino seja livre e contribua para libertar os outros, o primeiro passo é libertar aquele que ensina, ou seja, se eles não forem livres, o ensino terá dificuldades para cumprir um dos seus objetivos básicos. Não se pode fazer um compromisso sério com a atividade de ensino, sem antes fazer um compromisso sério com o pensar livre e com o despertar dessa atividade em cada pessoa que é ensinada.

*Professor de Filosofia

Por que a cultura incomoda – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A cultura é um cadinho; nele se fundem todas as culturas”.

Mestres de fundição cultural são todos os que, sabendo ou não, estão sempre trabalhando em prol da cultura. Até mesmo os que a classificam como algo secundário. A dificuldade que há em se entender o sentido da cultura está em não entender sua abrangência. Ensinadores e educadores ainda não se deram as mãos. Não há ensino eficiente sem educação, nem há educação eficiente sem cultura. Um movimento aparentemente complexo, mas muito simples. E só vamos entendê-lo no momento em que soubermos se estamos atacando o inimigo de dentro para fora ou de fora para dentro. Simples pra dedéu. Normalmente tentamos ensinar para educar e educar para tornar culto. A cultura que é a base e o alicerce de tudo é vista como a cumeeira. Só chega lá quem tem asas pra voar. Vamos inverter isso e cuidar da cultura sem empáfia.

Os Fóruns de Cultura nos apontaram como devemos encarar essa batalha cultural. O “Fórum Permanente de Cultura de Roraima”, que nasceu dessa necessidade, sumiu. Desapareceu. O que não surpreende. E ele veio através de mentes cultas que não estavam no pico do telhado. Com um trabalho sério e eficiente, vamos avançando não tão lentamente como se espera de quem lida com cultura. Sobretudo os que realmente se preocupam com o desenvolvimento cultural; sem o qual nunca seremos um povo civilizado nem tampouco culto. Uma pessoa culta, independentemente do seu grau de estudos, é aquela que sabe que uma pessoa só é culta se for civiliza; e sabe que uma pessoa civilizada não atira papel no chão. É quando os cultos vão entender que cultura é simplicidade. É o resultado da fusão de conhecimentos e saberes. A argamassa clara que cobre o tijolo sujo, mas sem ostentação.

Alie-se a nós. As portas estão abertas para os que sentem e sabem da necessidade de sairmos dessa cultura anacrônica, sem, no entanto, criar acirramentos. Mentes e mãos abrirão os caminhos da igualdade, indiferentes às diferenças. Onde a fiscalização não deve ser vista como fiscalização, mas como entrosamento benéfico para o aprimoramento através do entendimento. Fiscalizar é nossa função, mas criticar, nunca. É até possível que um dia tenhamos um ministério da educação para educar; um do ensino para ensinar e um da cultura para civilizar. E finalmente, Estado e Municípios entenderam que não conseguiremos essa fusão sem a criação de secretarias de cultura estaduais e municipais. Uma barreira de não entendimentos, que se formou no enfrentamento da obsolescência ignorante. Mas a resistência não venceu e nunca vencerá a cultura. Pense nisso.

*[email protected]