Opinião

Opiniao 21 07 2017 4437

Medicina sem EaD pode? – Ronaldo Mota*Muitas vezes me perguntam, com certa ironia, se seria possível um curso de graduação de Medicina na modalidade educação a distância (EaD). Todas as vezes, sem titubear, respondo: “Tanto em Medicina como em um conjunto de outras carreiras, a formação exclusivamente a distância não seria adequada; porém, acho que seria igualmente inadmissível um curso contemporâneo de Medicina sem as ferramentas da educação interativa baseadas nas tecnologias digitais”.Na verdade, as terminologias que separam abruptamente as modalidades presenciais e a distância são anacrônicas e favorecem pouco o inexorável futuro de uma educação flexível, híbrida e personalizada. Essas denominações foram consolidadas naLei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira de 1996. Seria injusto exigir dos educadores e legisladores de então que tivessem a premonição do que seria este mundo atual em termos de absoluta preponderância das tecnologias digitais.A adequada formação de um médico, bem como dos demais profissionais na área da saúde,demanda que eles domine ma utilização de plataformas digitais e de tecnologias móveis e que tenham familiaridade com realidade virtual emissiva, impressoras tridimensionais e com técnicas de modelagem e simulação. Aquilo que era uma opção na formação do profissional do passado passa hoje a ser experiência obrigatória para qualquer formando na área. A simples dificuldade em operar sistemas digitais mais sofisticados pode, na prática, inviabilizar que um médico usufrua das facilidades que a Tele medicina e outros tantos recursos inovadores propiciam. Recentemente, a McKinsey&Company apresentou um Relatório sobre tendências e perspectivas internacionais acerca da dinâmica das organizações responsáveis por saúde em direção ao mundo completamente digitalizado. O Relatório aponta que há mais de 20 anos os detalhes de gestão das instituições de saúde já estão completamente digitalizados, mas, segundo o Relatório, esta onda é cosmética comparada com as novidades em curso e aquelas que ainda estão por vir.

O estado do Rio Grande Sul acaba de adotar,com aval da Sociedade Brasileira de Oftalmologia,a Oftalmologia a distância. Trata-se de inovador projeto de Tele medicina que prevê, conforme reportagem do jornal Folha de São Paulo, reduzir em 40% a fila de espera pelos procedimentos. Os pacientes das unidades básicas de saúde serão encaminhados a 8 consultórios espalhados pelo estado, onde serão atendidos por técnicos de enfermagem. Estes conduzirão a parte física e presencial do exame oftalmológico (pressão ocular etc.), supervisionados por oftalmologistas em tempo real a distância, os quais são abastecidos por imagens tele transmitidas via uma plataforma de teles saúde.Ainda que de forte impacto a cada um dos milhares que aguardam nas filas de atendimentos oftalmológicos, o caso em pauta é somente um pequeno exemplo dos recursos que gradativamente estarão sendo disponibilizados aos profissionais de saúde para enfrentar os gigantescos desafios em que estão envolvidos. Há inúmeros outros casos ilustrativos na área. Este ano completa dez anos o Programa Telessaúde Brasil Redes do Ministério da Saúde, reconhecido pela Organização Panamericana da Saúde como exemplo aos demais países, o qual oferece laudos diagnósticos de eletrocardiogramas, retinografias na detecção de retinopatias diabéticas, entre outros serviços, além da segunda opinião aplicada à atenção primária à saúde.Progressivamente, faremos uso cada vez mais intenso de “big data” agregando informações variadas sobre saúde, incluindo determinantes genéticos de doenças, controles de expressão gênica e as interações de indivíduos com ecossistemas. O mundo da internet das coisas, dispositivos baseados em nanotecnologia e inteligência artificial, entre outras novidades, por certo, darão novo significado para Medicina, área onde as novidades devem emergir com velocidades aceleradas nos próximos tempos.

Atualmente é imprescindível uma educação superior na área de saúde que incorpore no processo de formação básica desses profissionais as competências e habilidades no uso de múltiplas ferramentas digitais.A Tele medicina, por exemplo, deverá fazer parte obrigatória dos currículos, bem como técnicas para propedêutica médica a distância e o uso de ambulatórios didáticos virtuais.

Por fim, o uso apropriado de tecnologias e metodologias educativas interativas deverá propiciar a formação de redes de educação colaborativas integradas, via a articulação de desenvolvedores de conhecimento e o compartilhamento de infra-estruturar laboratoriais de ensino, tanto em nível nacional como internacional.

*Reitor da Universidade Estácio de Sá

Sociedade e família – Afonso Rodrigues de Oliveira*“O que conta não é o que acontece com você, mas sim como você reage ao que acontece com você.”Se prestarmos atenção aos acontecimentos veremos que eles nem sempre merecem nossa atenção. O que aprendemos com eles, isso sim, tem o valor que lhes damos. É simples. Quando vivemos nossa vida com intensidade, aprendemos a não dar muita importância a acontecimentos banais. Mas nem sempre são os banais que nos prejudicam, mas a banalidade que demonstramos na importância que damos ao acontecimento. Vamos desenrolar. Comecemos a valorizar nossas vidas no nosso ambiente familiar. É dele que levamos os bons ou maus comportamentos para a vida. Há um zilão de exemplos simples que por serem simples não lhes damos atenção. Já falei pra você daquele operário que trabalhava na empresa onde eu dirigia o Controle de Qualidade, em SP. Era um operário muito jovem, nordestino do interior do Ceará. Certo dia, percebi que ele estava relaxando no trabalho. Mas não era minha área e por isso não interferi. Mas comecei a cumprimentá-lo com mais frequência, no trabalho. Dias depois percebi que ele voltara à atividade com o mesmo entusiasmo de antes.Poucos dias se passaram. Certo dia quando me aproximei, ele me chamou à parte e me mostrou uma carta que tinha recebido do seu pai, lá do Ceará. Acho que já falei isso pra você. Ele, o operário, estava dando uma de esperto para ser demitido e receber a indenização para voltar para a família. E falou para o pai, da sua intenção para a indenização. A carta do seu pai era mal escrita, com muitos erros de português. Mas tinha um valor moral incomensurável. Ele falava para o filho, dizendo para ele nunca proceder daquela maneira. Porque aquela não era a moral que ele tinha lhe passado na infância. Que se ele quisesse voltar para casa e não tivesse dinheiro, a família o ajudaria independentemente das dificuldades financeiras. Alguém também já nos disse que: “A família é o núcleo básico da sociedade; viver sem harmonia familiar é como nadar contra a correnteza com um peso no pescoço.” A família é o núcleo. É no ambiente familiar que criamos a base da nossa educação. Não importa a condição social em que vivemos. O que realmente importa é que tenhamos os princípios básicos para a nossa formação moral e racional. E este princípio está no lar. Porque é nele que nos educamos para a vida. Preocupa-me ver maus exemplos no nosso cotidiano. É bem verdade que eles vêm de muito longe, mas o que devemos levar em consideração é que devemos nos preparar para irmos muito longe. E a caminhada é para o futuro. Cuide dos seus filhos. Pense nisso.

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