Opinião

Opiniao 21 11 2017 5193

A favor da vida – João Baptista Herkenhoff*

Sou a favor da vida. Contra a pena de morte e a guerra.

A favor de políticas públicas que favoreçam o parto feliz e a maternidade protegida.

Contra a falta de saneamento nos bairros pobres, causa de doenças e endemias que produzem a morte.

Discordo da percepção limitada, embora possa ser honesta e sincera, dos que reduzem a defesa da vida à proibição do aborto quando, na verdade, a questão é muito mais ampla.

Abomino a hipocrisia dos que sabem que a defesa da vida exige reformas estruturais, mas resumem o tema a um artigo de lei porque as reformas mexem com interesses estabelecidos e ofendem o deus dinheiro.

Sou contra o pensamento dos que não admitem o aborto nem quando é praticado por médico para salvar a vida da mãe, porém aceitariam essa opção dolorosa se a parturiente fosse uma filha.

Sou contra a opinião que obscurece as medidas sociais, pedagógicas, psicológicas, médicas que devem proteger o direito de nascer.

Reprovo a opinião dos que lançam anátema contra a mulher estuprada que, no desespero, recorre ao aborto quando, na verdade, essa mulher deveria ser socorrida na sua dor. Se não tiver o heroísmo de dar à luz a criança gerada pela violência, seja compreendida e perdoada.

Hoje eu debato esta questão doutrinariamente. Quando fui Juiz eu me defrontei com o aborto em concreto.

Lembro-me do caso de uma mocinha. Quase à morte foi levada para um hospital que a socorreu e comunicou depois o fato à Justiça.

O Promotor, no cumprimento do seu dever, formulou denúncia que recebi.

Designei interrogatório.

Então, pela primeira vez, eu me defrontei com o rosto sofrido da mocinha. Aquele rosto me enterneceu, mas não havia ainda nos autos elementos para uma decisão.

Designei audiência e as testemunhas me informaram que a acusada tinha o costume de toda noite embalar um berço vazio como se no berço houvesse uma criança.

No mesmo instante percebi o que estava ocorrendo. Nem sumário de defesa seria necessário. Disse a ela, chamando-a pelo nome:

“Madalena (nome fictício), você é muito jovem. Sua vida não acabou. Essa criança, que estava no seu ventre, não existe mais. Você pode conceber outra criança que alegre sua vida.

Eu vou absolvê-la, mas você vai prometer não mais embalar um berço vazio como se no berço estivesse a criança que permanece no seu coração.

Eu nunca tive um caso igual ao seu. Esse gesto de embalar o berço mostra que você tem uma alma linda, generosa, santa.

Você está livre, vá em paz. Que Deus a abençoe.”

A decisão nestes termos, em nível de diálogo, foi dada naquele momento. Depois redigi a sentença no estilo jurídico, que exige técnica e argumentação. *Juiz de Direito aposentado (ES), escritor, professor, um dos fundadores e primeiro presidente (1976) da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória

Consciência Negra – Marlene de Andrade*

Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com parcialidade. (Tiago 2:1) Chegamos ao ponto de ter um dia que nos reporte a questão da consciência negra porque as pessoas nascidas de pele escura eram discriminadas, escravizadas e arrancadas à força de seus países africanos para trabalhar como escravos aqui no Brasil. E o pior de tudo é que, a escravidão negra ainda não acabou e nem tampouco a de outras etnias, pois ainda existem vários países escravizando pessoas em campos de concentração.

Várias famílias africanas sofreram muito quando seus parentes eram sequestrados barbaramente do seu seio familiar. Aqui chegando ao Brasil trabalhavam o dia todo para os senhores de engenho a troco de nada, absolutamente nada.

Todo mundo sabe quem eram esses figurões, mas nunca é demais nos lembrar das barbáries que eles cometeram. Eles eram homens com alto poder aquisitivo à época da colonização portuguesa e se enriqueciam porque eram donos de engenhos, ou seja, de equipamentos usados pelos negros africanos que se tornaram escravos desses covardes senhores produtores do açúcar.

Os negros além de terem que trabalhar como escravos eram espancados amarrados a um tronco de árvore, muitas vezes até morrerem e moravam nas senzalas, as quais ficavam próximas ao canavial sem nenhuma infraestrutura.

A sociedade açucareira explorava a mão de obra dos escravos de forma inadmissível e quem sabe ainda explora. Que lamentável situação! Infelizmente, a discriminação contra algumas etnias não acabou ainda. Pobre? Não tem vez.

Daqui a uns tempos talvez tenham que criar o dia da consciência do índio tão vilipendiado por grande parte da sociedade e assim por diante. Quanto às cotas para que negros e índios tivessem chance de se assentarem nos bancos das universidades surgiu devido toda essa discriminação endêmica em nosso país.

Algumas pessoas se julgam acima daqueles de baixa renda, negros, indígenas e, por exemplo, estrangeiros que vieram para o Brasil tentando escapar das atrocidades dos perversos ditadores ou dos desastres ecológicos. E o pior é que vivemos em um mundo mascarado e cheio de preconceitos, tentando mostrar uma realidade que não existe.

Temos que entender que só existe uma só raça humana, visto que as diferenças são somente as etnias. E tem mais: o livro de gênesis nos explica que fomos todos criados à imagem e semelhança de Deus, devido ao fato, não é possível excluir ninguém, pois tal prática é pecaminosa, cruel e injusta.

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho ANAMT

Tô nem aí – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Os lugares mais sombrios do inferno são reservados àqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise moral.” (Dante Alighieri)

Não posso ignorar que estou me tornando chato com o desejo de fazer você me entender. Mas vou continuar na chatice. Estou preocupado com o momento político que estamos atravessando, mundo afora. Na verdade é uma repetição. Mesmo porque faz parte da nossa evolução. Mas não devemos evoluir com lições repetidas. Quando o professor precisa repetir a lição anterior para que a aprendamos, a culpa é nossa e não do professor. Não prestamos atenção ao que deveria adiantar nossa evolução. Que é o que acontece mais uma vez, sobre a Terra.

Mas vamos cuidar do nosso Brasil para que ele, um dia, possa servir de exemplo para o mundo. Estamos vivendo uma crise moral incomensurável. E não se iluda pensando que não tem culpa nesse vendaval. Todos esses larápios que estão dirigindo nossa política com tornozeleiras nas canelas foram eleitos por nós. O que indica que a responsabilidade é única e exclusivamente nossa. Vamos acordar. As próximas eleições aproximam-se e não vejo nenhuma preocupação pública em corrigir o mal.

Não adianta ficar se martirizando com as notícias espalhafatosas e que não dizem nada. O que ouvimos hoje é a mesma coisa que ouvimos todos os dias. E o lamaçal vai crescendo como se fosse o rompimento de uma barragem moral. Estamos vivendo num mundo de banalidades estonteantes. A péssima administração pública que nos deixa cair no atoleiro é construída por nós.

Tudo bem. Vamos nos acalmar e conversar com parcimônia. Fique mais atento aos desmandos políticos que estamos criticando à toa. Vamos fazer nossa parte pensando no futuro dos nossos descendentes. E não conseguiremos isso, sem educação. Ontem eu vinha do supermercado, com o pão do café da tarde. Uma senhora estava sentada numa cadeira sobre a calçada. Uma garotinha de aproximadamente três aninhos de idade brincava com um carrinho de plástico. De repente um carro passou, fazendo muito barulho. A garotinha parou, ergueu o braço e gritou um palavrão que eu jamais teria coragem de falar pra você, aqui nem em lugar nenhum. A mulher da cadeira olhou pra mim, olhou para a garotinha e falou tranquilamente:

– Pare com isso.

Não acredito que possamos evitar uma crise moral maior, no futuro, dando esse tipo de educação aos nossos filhos. Ou limpamos o terreno ou o lamaçal aumenta. E é o risco que estamos correndo. Ou cuidamos da nossa Educação, ou continuaremos os mesmos títeres pensando ser cidadãos. Pense nas próximas eleições. Nelas você pode até mudar o mundo. Pense nisso.

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