Opinião

Opiniao 24 04 2018 6070

A dor do princípio e o princípio da dor

Walber Aguiar*

Compaixão é fortaleza… Renato Russo

Fazia escuro quando tudo aconteceu. Barulho, tremor, destruição. Escura também estava a alma dos que faziam contabilidade de terremotos, vendo nisso sinais da vinda de Jesus. Em trevas o coração dos que explodiam numa espécie de gozo escatológico; dos que verticalizavam a relação com Deus, passando de largo pelos desgraçados e marginalizados do caminho.

No começo de tudo, na gênese das coisas, Ele viu um abismo cheio de escuridão. Depois da luz, a explosão de vida. Infelizmente, o homem, em sua arrogante autonomia, passou a curtir e a ser curtido por uma existência completamente absurda. Imerso num universo frio, mudo e assustador, passou a conhecer a dor do princípio, a chaga da desobediência, o estigma da separação.

Junto com a dor do princípio e desolado pelo divorciamento da alma, passou o homem a elaborar códigos de conduta, a fim de que se tornasse melhor e mais suportável o existir. Assim surgiu a Torah, os Vedas, o livro dos Mortos, Hamurábi e outras formas de conduzir a vida.

Mas o rigor legalista era extremo. De sorte que a dor continuava, junto com humilhações, guerras, escravidão e trabalhos forçados. A lei apenas atenuava o doloroso processo histórico com suas tiranias, aviltamentos e opressões.

A dor do princípio sempre foi o princípio da dor. Isso porque, começamos a morrer no exato momento em que nascemos.

Isso derruba todas as teologias do êxtase escatológico, do gozo da parousia, do contentamento exacerbado com a destruição de milhares de pessoas, de gente alcançada pela graça comum e até pela graça salvadora. Esses precisam ler a I epístola de Paulo aos Tessalonicenses (4:9-12), a fim de desenvolverem uma espécie de teologia do afeto, num tempo em que o único dogma que permanece é o amor.

Resta desafiar a esses “corvos” de uma religiosidade sem fruto, “pássaros” agourentos que não sentem a dor do outro, que não são capazes de chorar com os que choram.

O que eles fazem para que o Reino de Deus se estabeleça? Eles se valem do amor fraternal, esticam a mão na direção dos desgraçados deste mundo? Estão do lado da misericórdia ou daquele que veio somente para matar, roubar e destruir?…

*Poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected]

 

Reserva de cotas

Marlene de Andrade*

“E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas…” (Atos 10:34).

Se somos todos iguais, como explicar o sistema de cotas para ingressar em Universidades Públicas? Não seria isso discriminação e não acaba ferindo a nossa Constituição Federal no seu artigo 5º que afirma que somos todos iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza? Sendo assim, qual é a diferença entre negros, índios, pardos, brancos e pessoas com deficiência? E por falar em pardos, existe essa etnia?

Todos devem participar do vestibular em Universidades Públicas competindo de maneira justa, ou caso contrário, estamos diante de algo como o apartheid, pois somente alguns terem privilégios no vestibular é antidemocrático.

Dizer que negros e índios não têm as mesmas oportunidades dos brancos é mentira, porque eu era empregada doméstica desde os meus 14 anos, parei de estudar aos 10 anos, reiniciei os estudos aos 15 e aos 22 anos passei no meu primeiro vestibular de medicina da UFF. E quem era eu? Branca sim, porém pobre, feia e morava longe e mesmo assim passei no vestibular porque estudava com garra.

Ah, diriam alguns, existe uma ineficiência estatal no que concerne aos direitos públicos de inclusão. Isso é mentira também, pois mesmo sendo pobre corri atrás de bolsas de estudo, inclusive na Cultura Inglesa e na Aliança Francesa e sabe por quê? Mesmo com a dificuldade de me inserir no mundo intelectual, fui à luta e não fiquei esperando pelo governo me incluir em cotas que evidentemente nem existiam. Para mim, essa medida de cotas é mera ação populista.

A cota, por exemplo, para negros é muito estranha, pois no Brasil não existe critério para explicar quem é ou não é negro. Já foi definido no Brasil quem é negro ou índio? Como é que se analisa esse assunto? Ser negro, branco, deficiente físico, amarelo e indígena nos coloca no mesmo patamar. Somos todos, sem exceção, pó da terra e isso tem que ser ensinado dentro das famílias e nas escolas desde a mais tenra idade das crianças, caso contrário o Artigo 5º da Constituição Federal deve ser eliminado da nossa Carta Magna e além do mais, não acredito que o sistema de cotas combata as desigualdades.

O que tem de negros ricos se valendo dessa lei de cotas é uma barbárie, pois existem cantores bem sucedidos, jogadores de futebol top de linha, juízes, legisladores e, entre outros, desembargadores, que têm a coragem de inserir seus filhos nas cotas das Universidades Públicas, mesmo não sendo eles pobres. Quanto aos índios, existe um monte deles que são muito bem de vida, mas que, no entanto usam a lei das cotas para dar aquele empurrãozinho nos “filhinhos de papai” que não gostam de estudar. Nesse caso o branco é que está sendo mesmo discriminado e por isso volto a repetir: somos todos iguais e por tal motivo temos que ter as mesmas chances.

*Médica Especialista do Trabalho/ANAMT

Meu universo

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Este céu azul que vedes não é céu nem é azul”. (Padre Antônio vieira) Em que universo você vive? Cada um de nós vive no e o seu universo. A menos que você não seja capaz de caminhar no universo dos seus pensamentos. A maioria de nós vive presa ao universo que nos impõem. Não é capaz de definir a própria vida. Só quando somos capazes de definir o que realmente somos e queremos, somos capazes de criar nosso próprio universo e caminhar por ele, livres e soltos. Crie seu universo e caminhe por ele sem receios e sem se importar com as nuvens que por ventura surjam no seu caminho. As coisas nem sempre são como as vemos. “As estrelas caminham livres no espaço, e nós as vemos presas no céu”. A vida é uma ilusão para quem brinca no circo
das ilusões.

Sorria sempre. Há sempre alguma coisa que nos faz feliz a qualquer momento. É só estarmos abertos à felicidade. E só somos felizes quando queremos ser. Nada nem ninguém pode nos impedir de ser feliz. Só nós mesmos temos esse poder. A maioria dos homens só descobre isso quando lhe é dado o primeiro neto. A partir daí ele vira um admirador de estrelas. Fica infantil na infância do rebento. E não tente fugir dessa realidade. Ela é natural e faz parte do desenvolvimento e da evolução do ser humano. Se se for esperto se descobrirá que a felicidade está em nós mesmos. Não adianta sairmos por aí à sua procura. Descubra isso no seu sorriso. Há alguém que pode até se assustar quando se deparar com seu sorriso no espelho. Mas não faz mal. Viva a descoberta. O que aconteceu foi que você acabou de descobrir a riqueza interna que você tinha e não sabia que tinha. E só.

Comece sua nova semana como se ela fosse sua primeira semana; sentindo a necessidade de viver uma vida feliz com a felicidade de hoje. Comece a admirar as coisas mais simples à sua volta. Pensar que isso é futilidade foi o que fez com que você vivesse até hoje sem ser realmente feliz. Tenho certeza de que você algum dia, pela manhã, olhou para aquela flor silvestre no pé do muro e comentou intimamente: “Nossa… eu nunca tinha prestado atenção à beleza dessa flor”. É uma flor silvestre. Simples como a beleza da vida. Mas aquele momento da descoberta foi o único momento de atenção que você lhe deu. E por isso você deixou de viver mais e maiores momentos em função daquele momento simples, singelo e grandioso. A vida é simples. Nós é que não sabemos vivê-la. Veja o céu azul mesmo sabendo que ele não é azul; veja as estrelas sempre naquele lugar, mesmo sabendo que elas estão em caminhada pelo universo. Pense nisso.

*[email protected]