Opinião

Opiniao 27 11 2017 5232

Bobagens desfraldadas – Tom Zé Albuquerque*

Há anos que questiono sobre o porquê de a bandeira brasileira ser tão vulgarizada. Não é de hoje que me angustio sobre a forma desdenhosa com que se trata nosso lindo pavilhão. Impressiona-me quão mal tratado é o lábaro estrelado do Brasil.

A bandeira brasileira é um símbolo nacional, conforme prevê a Lei n°. 5.700/71 e alterações, e nestas estão descritas sua figuração, forma de modificação, representação, execução, feitura e outras informações concernentes.

A bandeira republicana brasileira vigora a partir de um conceito do filósofo e matemático Raimundo Teixeira Mendes, e sua aplicabilidade e uso não deveriam jamais ser algo marginal, paralelo ou comezinho. Não é comum vermos o pendão brasileiro balançar ao vento nas cidades brasileiras. Muitos Órgãos Públicos (principalmente os federais) o balsão do Brasil está lá, mas geralmente encoberto por uma árvore, uma estrutura física ou fora do trajeto constante das pessoas. Por vezes este símbolo nas Organizações Públicas está puído, desbotado, com aspecto envelhecido e até rasgado.

O uso da bandeira retrata o tamanho do nacionalismo de cada cidadão. Nacionalismo é um conceito de ideias iluministas, viés democrático na oposição ao absolutismo real, ganhado força pela linha napoleônica e recebendo novo trato nas primeira e segunda guerras mundiais. Por incrível que pareça a palavra “nacionalista”, no Brasil, tomou um rumo esdrúxulo àquele verdadeiro. Desfraldar a bandeira brasileira em dias normais dá ideia, para boa parte da população, de algo ditatorial, extremista e vinculado à força bruta. A alienação de muitas camadas brasileiras chega a ser risível. E isso se inicia ainda no ensino fundamental, e quando os alunos chegam no grau posterior sequer sabem o significado do hasteamento da bandeira nacional.

No entanto, basta a copa do mundo de futebol começar que aparecem bandeiras do Brasil de tudo que é canto. Isso é uma vergonha! De tal desmerecido que é este símbolo, o designer da rede globo, o alemão Hans Donner, sugeriu em evento para intelectuais (até imagino quem foram os pseudos-intelectuais que lá estiveram…) estilizar a bandeira nacional com tons degradê e inclusão da palavra “amor” ao texto positivista de Ordem e Progresso, além de mudar a direção da faixa branca. Faltou sugerir troca das estrelas por bolas de futebol, mesclar os tons da bandeira com as cores do Corinthians e Flamengo, incluir a gravura de uma boazuda dançando carnaval no círculo azul e trocar o losango por uma estrela vermelha. Palhaçada…

Um breve passeio pelos EUA, em qualquer Estado, a bandeira americana está à vista incrivelmente massificada em residências, empresas privadas e públicas, áreas de lazer, avenidas… E tenho inveja disso. Hastear o pavilhão em uma residência ou na janela de um prédio em dias normais não significará nada além de amor à pátria. Mesmo que o muro ou parede seja pichado por aqueles que se dizem intelectuais.

*Administrador

A arte dos manifestos – Oscar D’Ambrosio*

Você já pensou em escrever um manifesto sobre alguma causa? Talvez sim. Mesmo que a resposta seja negativa, mas, se a sua paixão pela arte te mobiliza, não deixe de ver o filme ‘Manifesto’, dirigido por Julian Rosefeldt, com a atriz Cate Blanchett interpretando 13 personagens.

Uma questão inicial que o filme coloca está naquilo que é um manifesto. De modo geral, está se falando de um texto de natureza dissertativa e persuasiva que traz uma declaração pública de princípios e intenções e que objetiva alertar para uma questão. Seu objetivo é declarar um ponto de vista e convocar para algum tipo de ação ou reflexão.

No filme, a australiana Cate representa, com figurinos e sotaques diferentes, em diferentes cenários, uma corretora de valores, uma mãe conservadora, uma gerente, uma oradora fúnebre, uma punk, uma coreógrafa, uma professora, uma operária, uma âncora de TV, uma repórter, uma marionetista, uma cientista e um sem-teto.

Ela interpreta trechos de movimentos artísticos, que vão do ‘Manifesto comunista’ (1848), de Marx e Engels, às ‘Regras de ouro para filmar’ (2002), de Jim Jarmusch, passando por textos dadaístas e surrealistas, além de muitos outros. O filme é imperdível e nos convida a escrever o próprio manifesto e agir de acordo com ele. Quem se habilita?

*Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, onde atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa

Eu si mi inganei – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Se há um idiota no poder, é porque os que o elegeram estão bem representados.” (Barão de Itararé)

Ninguém se engana com alguém, a não ser consigo mesmo. Lembre-se de que sempre que você se julgar enganado deve se olhar no seu espelho interior. Ainda há quem ria dessa verdade. Mas se você se olhar, não no espelho da parede, mas no seu espelho interior, vai se ver como você realmente é. E é aí que você vai se perguntar: ele me enganou ou eu me enganei com ele? Se você se viu realmente, vai rir de você mesmo. Porque o ingênuo, ou ingênua, foi você. E o que você tem que fazer é amadurecer e evitar o erro na próxima vez. Ou seja, na próxima eleição. Porque se o canalha está no poder é porque você o elegeu. Então a culpa é sua.

Ninguém engana você, você é que se engana. Esteja e seja mais esperto. Não tente fingir que não está nem aí para o seu futuro. Porque se você pensa que não vai viver no futuro, novamente você está se enganando, e agora, com você mesmo. Há um leque imenso para se considerar isso. Primeiro porque o futuro será amanhã, que amanhã já será hoje, e hoje será ontem. Outro ponto é que você, seja você quem for, está na gangorra do ir e vir. Sabendo, querendo, ou não, você estará vivendo o futuro por aqui. E querendo ou não, você vai colher, no futuro, o que plantou hoje.

Acordemos para a importância da política na nossa vida. E sem ela não seremos um povo educado, civilizado e respeitado. Estou com um medo danado se voltarmos a sermos reconhecidos no exterior, como o país dos macacos. Vamos nos educar para que possamos ser vistos como uma democracia. E sem ela não teremos liberdade. O que nos torna responsáveis pela nossa liberdade. E não conseguiremos isso sem Educação. E cá pra nós, maioria política, não está nem aí para isso. Então, vamos assumir cada um de nós, a responsabilidade pela nossa liberdade. Vamos parar de eleger marginais que fazem de nós verdadeiros fantoches.

Não se esqueça de que somos nós, os únicos responsáveis pela bagunça que estão fazendo no nosso poder público. E é nossa ignorância que faz com que nos sintamos inferiores aos que se julgam superiores pelo cargo que nós lhes demos. Não sabemos que somos nós, cidadãos, os poderosos que escolhemos os que queremos para trabalharem para nós. Em vez de irmos para as ruas gritar contra o erro que nós mesmos cometemos, vamos lutar civilizadamente, pela nossa Educação que está no fundo do poço. E só nós, cidadãos ainda incipientes, podemos fazer essa mudança extraordinária, que não conseguimos perceber. Vamos à luta pela nossa liberdade, através da Educação. Pense nisso.

*[email protected]

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