Parabólica

Parabolica 13 08 2018 6737

Boa noite,

Uma reportagem publicada na quinta-feira (09) dá bem uma ideia do alcance, e dos desastrosos resultados até aqui colhidos pela ação do governo federal no acolhimento humanitário dos migrantes venezuelanos que já entraram aos milhares no Brasil através de Roraima. Dados colhidos pelos repórteres do jornal, junto às autoridades militares que coordenam esse acolhimento nos dez abrigos montados para receber esses migrantes, indicam que eles só conseguiram receber cerca de 8% do total de pessoas venezuelanas que já entraram em Roraima até junho deste ano de 2018. É muito pouco para amenizar a crise social que se instalou no estado nos últimos meses.

Um pouco mais de venezuelanos migrantes, e eles não chegam a 1.500 pessoas, segundo estimativas de observadores ouvidos pela Folha estão abrigados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e por Organizações Não Governamentais (ONGs), especialmente ligadas a igrejas, permitem concluir que apenas algo em torno de 10% dos venezuelanos que vieram para o Brasil através de Roraima foram efetivamente acolhidos em abrigos, financiados pelo governo federal (R$ 190 milhões) e por outras instituições internacionais, inclusive pela Organização das Nações Unidas (ONU).

E os restantes 90% dos venezuelanos que entraram no Brasil, a partir da cidade brasileira de Pacaraima, que faz fronteira com a Venezuela, onde estarão? O programa de interiorização – que leva esses migrantes para outros estados brasileiros -, apresenta até aqui resultados pífios: menos de 900 deles foram levados em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para estados da região Sul (São Paulo, Paraná e

Santa Catarina), e para estados nortistas entre os quais o Pará e o vizinho estado do Amazonas. Convenhamos, que a se concluir por esses números não é exagero dizer que essa interiorização é ineficaz. É um pingo sem solução, num oceano de problemas.

 Algumas centenas de migrantes, que chegaram a Roraima trazendo ainda um pouco da poupança que conseguiram fazer na Venezuela vendendo bens, inclusive propriedades, compram passagem áreas em Boa Vista, e se utilizam de voos aéreos comerciais com destino ao Sul do Brasil, especialmente para São Paulo, onde chegam atraídos pelo tamanho da economia, e também a chamado de outros patrícios já instalados naquela metrópole/cidade. Que tem viajado em aviões saindo de Boa Vista nos últimos meses tem percebido que a lotação dessas aeronaves quase sempre, é mais de 50% de migrantes.

E a grande maioria, especialmente a mais pobre e miserável de venezuelanos que migraram para Roraima, onde se encontra? Uma parte deve estar mendigando e praticando crimes para matar a fome na cidade de Manaus. Esses podem ser vistos diariamente caminhando a pé ao longo da BR-174, na direção Sul. Outros estão também vivendo de esmolas e favores nas pequenas cidades roraimenses do interior, ou trabalhando em sítios e fazendas do estado. É quase impossível estimar o número de venezuelanos que se encontram nessas situações descritas acima. Não há rigorosamente, um único órgão público interessado em informar dados confiáveis, parece haver um acordo tácito para escondê-los, e com isso mascarar a realidade perversa que estamos vivendo.

Outra maior parte dessa população miserável e sofrida está em Boa Vista. Ninguém sabe quantos são, mas certamente constitui a parcela maior da população venezuelana que migrou para o Brasil. Aqui, na capital do estado, uma parcela desses e dessas migrantes trabalham em estabelecimentos comerciais e de serviços, estreitando ainda mais as possibilidades de emprego da população local que já enfrentava uma das maiores taxas de desemprego da história recente do Brasil. A construção civil, para desespero igualmente dos profissionais brasileiros, emprega algumas centenas desses migrantes, assim como no emprego doméstico.

Outra parcela, também sem estimativa de migrantes venezuelanos, anda e dorme nas ruas de Boa Vista. É muita gente. Eles estão nos semáforos vendendo bugigangas, limpando para-brisas de carros; e também pedindo esmolas, especialmente mulheres muito jovens com bebês em fase de amamentação. Essa mesma gente aborda pessoas nas portas de restaurantes, supermercados, bancos e outros estabelecimentos. Ainda uma outra turma de migrantes fica batendo em portas de residências de quase todos os bairros de Boa Vista, solicitando comida para lhes saciar a fome. É uma tragédia que traz tristeza e angústia para quase todos os moradores boa-vistenses, especialmente daqueles que ainda conseguem cultivar a piedade alheia.

Ah! Mas, tem um outro contingente de migrantes que tem deixado a vida dos boa-vistenses mais triste e perigosa. São as centenas de prostituta que praticam o comércio do sexo à luz do dia, e em qualquer lugar, mesmo sob os olhares surpresos dos transeuntes. Nunca, na história de Boa Vista, a prostituição foi tão grande, a ponto de provocar a desvalorização dos imóveis onde a prática é mais intensa. É deprimente ver tantas jovens vendendo o corpo para poder ter um prato de comida. E não se trata de moralismo bobo, é tudo uma questão humana e de saúde pública.

Finalmente, uma outra parcela de migrantes, que também ninguém consegue saber o tamanho, é representada por criminosos, que praticam pequenos delitos, de outros que estão a serviço do crime organizado, e dela participam igualmente criminosos cruéis e bárbaros. Na semana que passou, três desses facínoras assassinaram cruelmente um servidor público e pai de família, que foi atraído por uma mulher venezuelana para uma residência; e lá foi barbaramente morto a golpes de faca, apesar de ter gritado por socorro e implorado que lhes deixassem vivo.

Esse é um pequeno, e mal-acabado retrato de um povo, que vivencia a pior crise de sua história, fruto de uma miséria importada, e da insensibilidade de um governo federal, e dos líderes que o representam, que estão muito mais preocupados em ganhar dinheiro com a situação.