Jessé Souza

Uma realidade muito pior 6016

Uma realidade muito pior Tornaram-se corriqueiras as execuções macabras de pessoas que têm a cabeça decepada ou outras partes do corpo retalhadas. Embora seja visível que o anel viário é o local escolhido para desovar os corpos, no interior do Estado também têm ocorrido mortes com requintes de crueldades.

Que ninguém pense que a guerra entre facções na disputa pela venda de drogas e território seja o pior dos problemas. Essa é apenas uma das facetas da realidade que vem sendo construída em Roraima pelo crime organizado, não só das facções, mas também de outros tipos de crimes, tudo graças à incompetência do poder público.

No caso das facções, está muito clara a desorganização das forças policiais para enfrentar o problema, seja por falta de estrutura das polícias para atuar na investigação por meio da Inteligência, seja por efetivos defasados e pela falta de uma política de governo eficiente, o qual se mostra incompetente, realidade esta que vai de não conseguir pagar salários em dia até chegar à falta de um sistema prisional minimamente estruturado.

Mas os problemas no Estado se revelam muito piores. A guerra entre facções é apenas uma face. Devido à ausência do Estado, e até mesmo o conluio com ele ou alguns representes dele, surgem outros tipos de máfia, a exemplo da indústria da invasão de terras, que avança principalmente em tempos de campanha eleitoral.

A Polícia Federal revelou, na semana passada, a máfia que se valia da isenção de impostos da Área de Livre Comércio de Boa Vista e da Zona Franca de Manaus. Tem ainda a máfia que sustenta a garimpagem ilegal nas terras indígenas, que segue com força suficiente para desafiar as forças policiais federais e o Exército.

Existem outros exemplos, mas essa guerra de facções pode se ampliar e se tornar muito pior, não apenas decepando cabeças, mas passando a controlar as áreas onde o poder público não chega, ausência esta seja por meio das polícias ou por meio de suas ações sociais.

Com a ineficiência ou ausência do poder público, daqui a pouco as máfias vão começar a mandar nos moradores de bairro, nos pequenos comércios e nas lideranças comunitárias. Atualmente, primeiro o crime está limpando os adversários e cooptando para o vício e para o tráfico os jovens que vivem sem expectativa nos bairros de Boa Vista e nas cidades do interior.

Daqui a pouco, quem garante que as facções também não irão mandar na indústria da invasão, nas máfias nas fronteiras, no fornecimento de internet e luz aonde o poder público não chega? É isso o que ocorre nos grandes centros e é desta forma que surgem as milícias. E não estamos longe disso… Infelizmente…

*[email protected]: www.roraimadefato.com,br