Cotidiano

‘Contracheque’ responde por 49% do PIB

Entraves políticos impedem o desenvolvimento econômico de Roraima, diz secretário de planejamento

Desde os primórdios de Roraima, o que movimenta a economia e aquece o mercado local é o “contracheque chapa branca”. Ou seja, o salário dos servidores públicos das três esferas do poder. 

Segundo dados da Secretaria Estadual de Planejamento e Desenvolvimento (Seplan) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), este vetor da economia ainda é responsável por 49% do Produto Interno Bruto (PIB) de Roraima.

Em seguida vem o comércio e prestação de serviços com 36%. Outros 9% são movimentados pela indústria e apenas 6% pela agropecuária.

Em entrevista à Folha, o titular da Seplan, Haroldo Amoras, afirmou que essa dependência era maior na década de 1980. Naquele período, o salário dos servidores da administração pública movimentava 70% do PIB. “Esse cenário vem sofrendo mudanças de forma lenta no decorrer dos anos com o avanço das atividades do setor privado como a indústria e o setor primário”, afirmou.

O secretário ressaltou que existem possibilidades de mudança na estrutura econômica de Roraima. Para ele, uma das saídas é a ampliação da participação do setor agropecuário e industrial. Para isso, são necessários investimentos nessas áreas para abertura de novos mercados e atração de capital privado.

“Isso passa pela questão da segurança no direito de propriedade. Sem isso, prevalece a incerteza. Sob estas condições, possíveis investidores não tomam iniciativa, o risco é alto. Para que isso compensasse, só se o setor tivesse imensa taxa de retorno do investimento, o que a agricultura não proporciona. Garantir o direito de propriedade é fundamental”, disse.

Outro ponto destacado por Amoras como fundamental para o desenvolvimento da economia é a oferta de energia confiável e estável, tanto em quantidade, quanto em qualidade.

“Só teremos isso quando fizermos parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) por meio do Linhão de Tucuruí. Isso proporcionará uma mudança na agropecuária, agroindústria e no setor de prestação de serviços como o turismo, por exemplo”, pontuou.

O desenvolvimento econômico do estado é basicamente questão de prospecção de novos mercados. Outro vetor importante nesse processo é a logística em termos de transporte e infraestrutura de portos e aeroportos. Roraima é um espaço interior sem acesso direto ao oceano, ideal para exportações. Hoje o porto mais próximo fica em Itacoatiara, no Amazonas, por onde é escoada a produção de soja.

Conforme o titular da Seplan, a alternativa mais próxima do ponto de vista físico é o porto na Guiana. “Essa é uma proposta que existe há bastante tempo. Como a Guiana é um país pobre, sem condições de construir. Os interesses de capital são insuficientes para alavancar este investimento lá, de modo que isso fica com uma expectativa permanente no horizonte do planejamento estratégico do estado”, esclareceu.

Quanto aos passos curtos em direção ao crescimento econômico, Amoras afirmou ser necessário ação política para retirada de entraves que impedem a mudança. Frisou que o Governo Federal bloqueia o desenvolvimento do estado e citou como exemplo a transferência das terras, que não se resolve por questão eminentemente política.

“Hoje, não há qualquer impedimento técnico. É questão puramente política se fazer o assentimento. Isso vem se arrastando desde abril do ano passado, quando a justiça federal liberou as oito glebas que ainda estavam sob pendência judicial. As questões técnicas referentes à legalidade e georreferenciamento foram equacionadas e resolvidas e parou na burocracia federal”, disse.

Ressaltou que quem pode fazer esse processo andar são aqueles que têm mandato parlamentar. “Nós os elegemos para isso, para defender os interesses do estado, mas não é o que acontece. É necessária uma convergência de interesses para que isso aconteça, pois a maior prejudicada é a população”, criticou.

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