Cotidiano

Imigrantes ocupam a frente da PF para oficializar pedido de refúgio no Brasil

Devido ao grande número de estrangeiros que chegam ao Estado, muitos deles chegam a dormir em frente à PF em busca de atendimento

Desde o início desta semana, grupos de imigrantes estão se aglomerando em frente à sede da Polícia Federal (PF), no bairro 13 de Setembro, no trecho sul da BR-174, em busca de atendimento para solicitar refúgio. Alguns chegaram a dormir no local na madrugada de segunda-feira para terça-feira. No entanto, eles informaram à Folha que não há previsão de atendimento, visto que o sistema da PF se encontra lotado pelos pedidos já realizados.

A maioria dos estrangeiros busca o documento para conseguir emprego. Este é o caso dos venezuelanos Ivan Rodriguez, Flávio Tirinos e Alfonso Santander. Há um mês em Roraima, Rodriguez relatou que esteve na PF na semana passada para averiguar quando os atendimentos seriam iniciados. Ele foi informado que na segunda-feira, 23, o procedimento já seria realizado.

Contudo, ele explicou que a quantidade de pessoas na segunda-feira pela manhã, no local, causou tumulto. “Tentaram entrar à força, foi uma grande confusão. Então fecharam a porta e disseram que não dariam o refúgio naquele momento, mas que hoje [24] cedo estariam realizando as entrevistas. Só que hoje já disseram que não vão realizar”, ressaltou. Quando chegou ao local, à 1h da manhã, ele disse que cerca de 25 pessoas estavam acampadas em frente ao órgão.

Segundo o venezuelano, o motivo dado pela PF é que o sistema está lotado por conta dos vários pedidos realizados. Estudante de medicina veterinária, ele informou que não tinha pensado em ficar em Boa Vista, mas pelos problemas e notícias da Venezuela, preferiu não voltar ao país. “Tenho medo por conta da violência e da economia, não há comida e não tenho como fazer dinheiro para sobreviver”, disse. Em Boa Vista, Rodriguez trabalha produzindo arte. Espera conseguir o pedido de refúgio para conseguir um trabalho, ganhar dinheiro e começar a estudar em Roraima.

Alfonso Santander, estudante de Educação Física no país vizinho, trabalha hoje como cabeleireiro. Já formado em Engenharia Mecânica, Flávio Tirinos está trabalhando como pedreiro. Quando questionados, a resposta é a mesma: “Só queremos uma oportunidade”.

Polícia Federal nega tumulto

Em nota, a Polícia Federal informou que não identificou tumulto no prédio e o que houve foi acréscimo de pessoas buscando atendimento na sede da PF, principalmente do instituto do refúgio. “Na Polícia Federal é realizado atendimento com coleta de dados, identificação, entrevistas e encaminhamento de procedimento administrativo de refúgio ao Comitê Nacional para Refugiados (Conare), colegiado vinculado ao Ministério da Justiça responsável pela análise e julgamento dos pedidos de refúgio”, diz a nota.

Nos últimos três meses, 17 estrangeiros foram encaminhados ao mercado pelo Sine

Em razão do aumento da entrada de imigrantes em Roraima, especialmente de venezuelanos que cruzaram as fronteiras em busca de melhores oportunidades, o Sistema Nacional de Empregos em Roraima (Sine) constatou a necessidade de consolidar dados de atendimentos realizados ao público. No último trimestre de 2016, foram 17 candidatos estrangeiros encaminhados a entrevistas de emprego. Destes, somente dois foram inseridos ao mercado.

A Secretaria de Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes) informou que qualquer estrangeiro que esteja em situação regular no Brasil pode procurar a sala do Sine, localizado na sede da Setrabes, na Avenida Mário Homem de Melo, bairro Mecejana, zona Oeste. “Havendo oportunidade equivalente à área de atuação, o candidato será encaminhado para as entrevistas de emprego”, informou o órgão.

DIFICULDADES – O Sine realiza um trabalho de orientação a todos os candidatos, sendo estrangeiros ou brasileiros, com dicas de como se comportar em uma entrevista, no sentido de potencializar as chances de contratação. No entanto, a escolha ou não dos candidatos fica a critério de cada empregador.

Conforme a nota da Setrabes, uma das principais dificuldades para a contratação de candidatos estrangeiros é a falta de documentação ou regularização exigida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para oficializar a contratação do funcionário. (A.G.G)