Cotidiano

“Minha filha é normal”, diz mãe de bebê com microcefalia

Em 2018, apenas um caso de microcefalia decorrente do zika vírus foi registrado na maternidade

A microcefalia, anomalia rara na qual a criança nasce com a cabeça e o cérebro menores que o tamanho considerado normal, ficou conhecida em todo o Brasil há três anos, quando começaram a nascer crianças com essa condição, filhas de mães com zika vírus. Em Roraima, no ano de 2016, foram confirmados 18 casos de crianças que nasceram com essa condição. Em 2017, apenas um foi registrado.

Neste ano, nasceu uma bebê com a doença. É Yohana Pinto da Silva, de três meses. A mãe de Yohana é Ligia Pinto da Silva, de 18 anos. Antes de descobrir que estava grávida Ligia teve zika e foi medicada normalmente. “O médico me orientou a ficar hidratada e me passou medicamentos”, contou.

Após a descoberta da gravidez, aos cinco meses de gestação, ela fez pré-natal e todos os exames, e ainda assim não teve conhecimento da condição de sua filha. Ligia só descobriu que a filha tinha microcefalia na sala de parto. “Eu ouvi o médico dizer que minha filha tinha microcefalia, ali na mesa de operações. Fiquei desesperada e comecei a chorar e nem quis segurá-la em meus braços”, contou à Folha.

Assim como outros bebês de três meses, Yohana é uma criança ativa e atenta a todos ao seu redor. Para Ligia, a filha é totalmente normal. “Os médicos que me atendem estão surpreendidos com o desenvolvimento dela, pois ela não tem nada do que eles disseram que teria”, afirmou. “O maior medo que tenho é o preconceito que minha filha vai sofrer. Eu a vejo como normal. Ela ri, chora, balbucia e nem vejo mais que a cabecinha dela é menor”, disse.

A CONDIÇÃO – A médica Eugênia Moura explicou que a microcefalia não chega a ser uma doença, mas um sinal de destruição ou déficit do crescimento cerebral, que pode ser primária (de origem genética, cromossômica ou ambiental, incluindo infecções) ou secundária, quando resultante de evento danoso que atingiu o cérebro em crescimento, no fim da gestação ou no período pré e pós-natal.

Crianças com microcefalia podem apresentar rigidez muscular, com ocorrência de espasmos, convulsões e epilepsia, déficit intelectual, retardo mental, paralisia e surdez. Para o tratamento dessas crianças, o Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth tem uma sala, conhecida como Follow Up, para o atendimento especializado nos casos de crianças que tiveram alguma dificuldade ao nascer e que necessitaram ficar na UTI Neonatal, como é o caso de bebês com microcefalia. No local, elas recebem atendimento de profissionais como pediatras, com médico neurologista e realizam tratamento com a fisioterapeuta, fonoaudiólogos e oftalmologistas.

Eles são atendidos também no setor de estimulação precoce no programa Rede Cidadania Atenção Especial, administrado pela Secretaria Estadual do Trabalho e Bem Estar Social (Setrabes) e que atende diariamente 14 crianças. “O importante é que as mães possam amar seus bebês. Crianças bem cuidadas e amadas têm ótimo desenvolvimento e nós temos tido surpresas muito agradáveis no cuidado diário de crianças que apresentam esse quadro”, disse a pediatra neonatologista, Ana Carolina Brito.

ORIENTAÇÃO – “Uma mulher que pretende ter filhos precisa se preparar para uma gravidez, então, ela deve começar a ter um estilo de vida mais saudável, alimentação adequada, evitar tomar medicamentos que possam atrapalhar a gestação e ficar muito atenta com seu ciclo hormonal”, orientou Ana Carolina.

De acordo com a pediatra, existem mulheres que não fazem o acompanham do ciclo hormonal e descobrem tardiamente uma gestação, perdendo um tempo precioso que é o primeiro trimestre da gestação. São nos primeiros meses da gestação que a criança está sendo formada e principalmente nesse período as mães devem evitar alguns esforços físicos, algumas medicações que podem interferir na formação do bebê. “A primeira coisa é a mulher estar atenta a si mesma, descobrir que esta grávida no tempo certo e iniciar acompanhamento pré-natal”, salientou a médica.

A médica explicou que é durante o pré-natal que exames de sorologia e ultrassom devem ser realizados para que os ginecologistas possam traçar um perfil da paciente e acompanhar a gestação. “Se ela teve uma história de uma infecção semelhante a do zika vírus deve ser confirmado com a sorologia”, disse.

Ana Carolina disse que muitas vezes algumas mulheres podem ter a pele pintada por outros motivos, por uma febre, por exemplo. “Grávidas não podem ter achismos e não podem em hipótese alguma ficar doentes. Porque tudo pode ter repercussão na formação da criança” ressaltou.

Na maternidade, são atendidas 15crianças com quadro de microcefalia, destas apenas uma foi confirmada a causa por zika. “Não é só o zika vírus que pode causar essa má formação na cabeça de um bebê”, explicou a pediatra. (C.O)