Política

“R$ 3 bilhões para custear campanhas é uma afronta ao país”, diz Remídio

O parlamentar afirmou que é contra o distritão, o fundo partidário e vê com preocupação a questão econômica do Brasil

O deputado federal Remídio Monai (PR) é o entrevistado deste sábado, 2, na série de reportagens sobre o cenário político que a Folha está fazendo com os membros da bancada federal em Brasília.

O parlamentar começou expressando sua opinião a respeito da Reforma Política afirmando que é contra alguns dos pontos apresentados, como o sistema do distritão e o fundo público de financiamento de campanha, que poderá custar R$ 3,6 bilhões em recursos da União. “Acredito que é fundamental ter uma ampla reforma, mas, antes de tudo, é necessário um diálogo com a sociedade, a fim de que as mudanças possam ser mais efetivas. O valor de R$ 3,6 bilhões para custear campanhas eleitorais é uma afronta no atual cenário econômico do país”, afirmou.

Para ele, o distritão restringe a possibilidade de surgimento de novas lideranças. “Neste modelo proposto, serão eleitos os candidatos mais votados, ou seja, torna-se uma eleição majoritária, como já acontece na escolha de presidente da República, governador, prefeito e senador.

Dessa forma, candidatos com mais recursos serão beneficiados, o que dificulta a renovação da Câmara, facilita e enfraquece os partidos”, analisou.

Monai também se posicionou contrário a Reforma da Previdência nos moldes em que ela foi apresentada. Além de discordar de diversos itens do texto, o parlamentar acredita que o momento é inoportuno diante da instabilidade política que o país atravessa. “Trata-se de uma matéria complexa e é preciso muita prudência a fim de garantir que os direitos dos trabalhadores brasileiros sejam de fato resguardados. Sou contra qualquer supressão de direitos, mas também sei que precisamos encontrar alternativas para equilibrar a situação”, disse.

Sobre a reforma tributária, Remídio Monai já tem um posicionamento mais cauteloso e acredita que ela merece ser revista, modernizada e simplificada. “A burocracia hoje é responsável pela elevação dos custos das mercadorias, bens e serviços. Com isso, o País tem uma elevada carga tributária concentrada no consumo e acaba prejudicando empresas, empresários e, principalmente, o consumidor”, comentou.

Sobre a crise econômica que o país atravessa com o déficit e revisão da meta fiscal, Remídio explicou que a medida da mudança da meta já era esperada. “Entendo que a mudança da meta foi agravada pela frustração de receitas. Reconheço que a crise comprometeu as previsões de arrecadação, em parte por causa da inflação que ficou muito abaixo do esperado. O PIB [Produto Interno Bruto] está reagindo muito timidamente e, com isso, levou à queda da arrecadação. Por outro lado, algumas receitas extraordinárias deixaram de entrar. Uma situação que não foi criada pelo atual Governo e é resultado das escolhas realizadas nos 12 anos”, afirmou.

O deputado federal destacou que o Governo Federal também teve sua parcela de responsabilidade ao ceder às pressões externas e não aplicar efetivamente aquilo que anunciou. “Não vimos nenhum corte significativo da máquina pública. E precisamos ter cautela para não repassar para o cidadão a conta por não ter adotado as medidas necessárias para conter o déficit. O Governo tenta ainda encontrar novas fontes de receita para evitar o aumento da previsão de déficit e, como isso, anunciou recentemente o pacote que contabiliza 57 privatizações. Porém, é necessário buscar alternativas para fecharmos as contas dentro do que está previsto na legislação”, sugeriu.

Ainda sobre as privatizações, Monai acredita que este não é o momento adequado para tratar sobre privatizações. “Este é um governo de transição, que não deve mexer com assuntos tão complexos. Na prática, o Governo quer vender empresas e conceder a operação de projetos de infraestrutura e pretende reduzir a dívida pública. No entanto, entendo que a desestatização precisa ser melhor discutida, construída de forma mais estratégica e com a participação de todos os segmentos da sociedade”, avaliou.

Remídio afirmou que tem muito receio de permitir que o setor hidrelétrico brasileiro passe a ser controlado por empresas privadas e até estrangeiras. “É algo que merece ser repensado, e muito me preocupa não ter mais a capacidade de planejar a produção e distribuição de energia no país”, disse.

Para o parlamentar, o cenário político existente hoje no Congresso Nacional é de uma expectativa diária diante das incertezas. “Neste momento, a maioria dos parlamentares ainda é favorável à continuidade do atual Governo. Mas, com o acordo de colaboração premiada que foi assinado por Lúcio Funaro, com a Procuradoria-Geral da República (PGR), esse quadro deve reverter. As revelações de Funaro podem originar uma nova denúncia contra Temer e chegando a esta Casa, a situação realmente fica insustentável”, concluiu.