Cotidiano

32% da população acima dos 55 anos está ‘de bem com a vida’

Pesquisa foi realizada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, em parceria com Bayer

Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), em parceria com Bayer, foi divulgada durante evento realizado esta semana, em São Paulo, para discutir o envelhecimento de idosos no país, e mostrou como a terceira idade pensa sobre longevidade e a transição demográfica que aumentou a expectativa de vida dessa população. 

A pesquisa, realizada em outubro de 2017, ouviu 2.000 entrevistados em lugares estratégicos e com grande fluxo de pessoas em dez capitais do país: Curitiba, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Brasília, Goiânia e Belém.

De acordo com o resultado do estudo feito com homens e mulheres acima de 55 anos, 63% dos entrevistados pensam sobre o assunto e mais da metade não se sentem velhos. Cerca de 32% afirmam que não pensam no assunto porque “deixam seu destino nas mãos de Deus”. Em relação a expectativa de chegar a uma idade mais avançada, 27% responderam que almejam estar no futuro com uma grande família e curtindo os netos.

Em relação ao sentimento de velhice, 54% afirmam que não têm essa sensação, ao mesmo tempo 32% relatam que estão de bem com a vida. Dos entrevistados, 65% afirmam conviver com algum tipo de doença crônica, 64% dizem ter uma vida saudável e 62% fazem uso de medicamentos.

Questionados quanto à primeira coisa que vem em mente quando pensam sobre envelhecimento, das dez respostas mais citadas, o abandono ou medo de ficar sozinho representa um número de 29,3%. Já 21,3% dizem que não poder andar ou enxergar os preocupa, em seguida vem o de desenvolver de doenças graves (18,2%), depender do Sistema Único de Saúde (11,8%), sofrer de algum tipo de doença mental (9,9%) e depender financeiramente dos filhos representa 9,5%.

Para debater o tema e apresentar os resultados, a Bayer reuniu especialistas de renome no assunto como a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia em São Paulo, a médica geriatra Maísa Kairalla, o gerontólogo e presidente do Centro Internacional da Longevidade Brasil no Rio de Janeiro, Alexandre Kalache, e as jornalistas Márcia Neder e Marília Gabriela.

“Não existe uma pessoa de 100 anos que seja completamente independente, quanto mais velho mais aparecem às dependências, mas é possível minimizá-las enfrentando de uma maneira diferente para que não seja tão pesado o fardo. Envelhecer é bom, tem que ser positivo. Temos que empoderar esse idoso mostrando que ele é importante”, destacou a presidente da SBGG-SP, Maísa Kairalla.

Conforme a geriatra, é necessário o planejamento para entender o envelhecimento e mudar esse pensamento acompanhado por estigmas que precisam ser quebrados. “Quem escolhe como envelhecer somos nós mesmos, envelhecer é uma realidade e precisamos nos preparar”, ressaltou. “Levando em consideração que a população idosa brasileira triplicará até 2050, chegando a mais de 66 milhões de pessoas, segundo o IBGE, é fundamental ter atenção quando o assunto é o envelhecimento ativo e saudável. O idoso precisa ser autônomo, independente e praticar atividades que tragam propósito ao seu dia-a-dia”, acrescentou.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa média de vida do brasileiro é de 77 anos. De 1940 a 2020 a expectativa média de vida terá aumentado em 167%, de 45,5 para 78 anos. Ainda segundo dados do (IBGE) divulgados em 2015, existem cerca de 22 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, o que representa, aproximadamente, 14,3% do total da população brasileira. (E.M)

A geração da longevidade que continua ativa

Em um passado não muito distante, chegar à terceira idade era motivo de preocupação para muitas pessoas, mas essa perspectiva tem mudado positivamente e chegar à maturidade aos 50, 60, 70, 80 anos ou mais, tem sido uma prova de que a terceira idade se tornou o começo de um novo ciclo cheio de descobertas e aprendizado.

Homens e mulheres com mais de 55 anos com vida ativa não só vivem mais, como vivem melhores, segundo a pesquisa da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. As atividades mais citadas para alcançar o envelhecimento saudável foram: visitar o médico uma vez por ano (37%) ou mais de uma vez por ano (51%); praticar exercícios físicos uma ou duas vezes por semana (38%), três a quatro vezes (22%), mais de quatro vezes (12%) ou estar matriculados em uma academia (36%); se alimentar de maneira correta (68%).

Tal mudança na estrutura populacional do país, além de ser causada pelos novos hábitos comportamentais, é proporcionada pela prevenção de doenças crônicas como a obesidade, hipertensão e diabetes. Além disso, avanços da Medicina em relação ao controle da saúde por meio de fármacos mais efetivos e procedimentos inovadores, possibilitam manter a qualidade de vida nesta faixa etária.

Segundo o gerontólogo e presidente do Centro Internacional da Longevidade Brasil no Rio de Janeiro, Alexandre Kalache, a revolução da longevidade é a expectativa de vida dessa população que aumenta a cada três meses ao ano. “Muitas das pessoas que estão nascendo hoje serão centenárias. É uma revolução pacífica e silenciosa, mas que terá influência ao longo do século. Isso vai se caracterizar por três coisas: o envelhecimento populacional no Brasil, o impacto no meio ambiente e da tecnologia para poder responder esses desafios”, confirmou.

Kalache frisou que a tomar medidas para prevenir doenças crônicas possibilita um melhor envelhecimento. “Quanto mais cedo começar a tomá-las, melhor, mas nunca é tarde demais. No entanto, o processo de envelhecimento muitas vezes é acompanhado de enfermidades”, pontuou. “Diferentemente do que acontecia há 20 ou 30 anos, os métodos de diagnóstico precoce e tratamentos adequados e com a segurança que o conhecimento médico da atualidade permite, fazem toda diferença”, acrescentou. (E.M)

Depois dos 60 anos, na visão de Marília Gabriela

Para a jornalista, apresentadora, escritora e atriz Marília Gabriela, a saúde é um fator fundamental no envelhecimento com qualidade. “O envelhecimento é um processo que começa bem cedo. Existe a possibilidade de conhecer medidas práticas que podem ser inseridas no cotidiano, trazendo formas de ajudar a lidar melhor com a longevidade, porém é um processo inevitável”, analisou.

Marília confessou que se preparar corretamente é essencial para esse processo. “Quando você se estrutura física e psicologicamente, se tratando corretamente sem medo, se torna mais fácil”, complementou.

Sobre planos para os próximos anos a jornalista contou que começou a desapegar aos poucos da sensação e da impressão de importância e em que as pessoas sempre esperam algo você. “Eu cheguei a esse raciocínio e hoje tenho o privilégio de escolher parar. Então resolvi me dedicar mais a outras coisas em minha vida e também escolhi parar de depender da opinião alheia”, completou a jornalista. (E.M)

A representatividade da mulher dos 50 anos na sociedade

Para a jornalista e autora do livro ‘A revolução das 7 mulheres – um perfil da geração 50+ que está reivindicando e reinventando a maturidade’, Márcia Neder, essa mulher na sociedade seria uma locomotiva. “Estou falando da mulher que liderou a revolução feminina nos anos 60, que construiu uma vida completamente diferente das gerações anteriores”, disse.

“Elas chegam na maturidade e não gostam do que veem, de como a sociedade encara a maturidade e a velhice. A partir daí ela arregaça as mangas e começa outra revolução para mudar isso, mostrando que existe uma série de preconceitos totalmente equivocados em relação ao envelhecimento. Essa mulher que foi forjada na desobediência luta e não vai ficar parada, não vai se omitir buscando novos caminhos”, analisou.

Márcia Neder ressaltou que a velhice deve ser encarada com positividade e que chegar nessa fase da vida é um privilégio. “Nós temos que almejar a longevidade porque o contrário disso é morrer jovem. A sociedade precisa tirar esse pensamento de velhice do gueto”, finalizou. (E.M)