Cotidiano

A luta de mães venezuelanas com filhos desnutridos

Como não possuem alimento para seu sustento, as mães não conseguem amamentar os filhos, que acabam ficando desnutridos

Além da crise econômica e política que os venezuelanos enfrentam no país vizinho, existe uma dor ainda maior que só quem é mãe pode entender. É o caso das mães de bebês desnutridos ou abaixo do peso que sofrem as consequências dessa crise, que afeta diretamente a alimentação dos venezuelanos, que estão passando fome.

A mãe da pequena Mia, de sete meses, Mariana Figueiroa, 26 anos, veio para o Brasil em busca de atendimento médico para a filha, que já estava com desnutrição. Ela conta que não conseguia amamentar a filha porque não tinha mais comida para o seu susteno, e consequentemente não tinha leite materno.

O jeito foi dar sopinha de verduras e leite industrializado para a bebê, quando encontrava no supermercado e tinha dinheiro suficiente para comprar. “Mas nem sempre a gente conseguia. Porque quando encontrava em algum supermercado estava muito caro. E só tinha dinheiro para comprar o necessário”, lembra.

O marido de Mariana já estava em Boa Vista e mandava dinheiro para ajudar no sustento. Mas quando procurou atendimento médico para a pequena Mia, por conta da desnutrição, achou melhor também atravessar a fronteira do Brasil e levar a filha ao médico em Boa Vista.

Ela lembra que quando chegou aqui, há três semanas, foi direto para um posto de saúde. Lá detectaram que a bebê estava com três quilos amenos do que deveria pesar. “Ela estava com 5kg quando deveria estar pesando 8kg. Chegou fraca, nem se sentava, molinha. Hoje está bem melhor e ativa”, comemora.

O mesmo dilema viveu a mãe das gêmeas Rebeca e Raquel, a adolescente Emilis Del Valle Aguilera. As filhas, de 1 ano e 4 meses, estão fazendo tratamento há três meses, no Centro de Recuperação Infantil (Cernutri).

Emilis também não conseguiu amamentar as duas crianças porque não tinha alimento na Venezuela. “A alimentação lá era restrita. Consegui amamentar muito pouco até os dois meses. Depois parei porque estava com anemia”, explicou.

Quando chegou em Boa Vista, se abrigou na Praça Simón Bolívar. Lá uma equipe de assistente social levou as crianças para uma consulta, quando foi identificada a necessidade de tratamento no Cernutri. Ela e as filhas estão semi-internadas no Centro. Quando chegaram da Venezuela, Rebeca e Raquel pesavam 6kg, quando deveria pesar 10kg.

Ela encontrou em Boa Vista o atendimento médico para salvar as filhas. “Aqui somos bem tratadas, cuidadas com muita atenção, com alimentação necessária para melhorar e passando nas consultas. Na Venezuela não encontraria atendimento”, ressalta.

CERNUTRI

O Cernutri, localizado na avenida Ataide Teive, nº 2493, oferece atendimento de referência promovendo a recuperação e o desenvolvimento de crianças, além de incentivar o aleitamento materno até os seis meses de idade.

Atualmente, realiza em média cerca de 1,5 mil atendimentos por mês, seja com consultas com pediatra, nutricionista, fonoaudióloga e psicólogo. Hoje a maior parte das internações têm sido de crianças venezuelanas que chegam ao Brasil com desnutrição ou abaixo do peso.

No Centro, as mães e filhos semi-internados recebem de quatro a cinco refeições por dia. Além disso, fazem acompanhamento com a equipe multidisciplinar, que possui ainda profissionais como assistente social, enfermeiro, farmacêutico e terapeutas ocupacionais.