Cotidiano

Agentes do CSE afirmam que situação da unidade é preocupante

Internos atearam fogo em móveis e destruíram alas do Centro Socioeducativo na madrugada de ontem

Mais uma ocorrência dentro do Centro Socioeducativo (CSE) Homero de Souza Cruz Filho mostrou a fragilidade que a unidade de internação de adolescentes em conflito com a lei tem encarado nos últimos tempos. Na madrugada de ontem, 13, internos atearam fogo em colchões, destruíram algumas alas e tentaram fugir por um buraco. A rebelião foi controlada por volta das 3h da manhã pela Polícia Militar, que adentrou no local.

De acordo com um agente socioeducador, que não quis ser identificado, os adolescentes destruíram o prédio e tinham a intenção de matar membros de organizações criminosas rivais. Todos os internos estavam envolvidos, exceto os que estavam sendo ameaçados de morte.

O socioeducador ressaltou que a situação atual é caótica e que não existe segurança para os funcionários atuarem e teme por uma possível rebelião mais grave. “Mesmo identificados, não tem como eles sofrerem as penalidades, pois não há espaço físico para abrigar os internos dentro do CSE. Eles deveriam ser retirados para outro local até que as reformas sejam finalizadas. Mas isso não está acontecendo e novamente teremos uma tragédia anunciada caso os internos não saiam daquele espaço físico para outro local”, disse.

Na semana passada, os agentes socioeducativos suspenderam as atividades ao afirmarem que o CSE não possuía funcionários suficientes dentro da unidade. 

Sobre as reformas que estavam ocorrendo por parte do Governo do Estado para melhorias no local, o agente afirmou que as obras não são suficientes para solucionar os problemas encontrados no CSE e que as condições de trabalho estão precárias. 

“Nunca teve condições de atividades no CSE depois da primeira rebelião. O Estado é que fica tentando mostrar que está tudo normal. É uma forma de maquiar dizer que tá funcionando. Por enquanto [os internos] vão continuar lá. O juiz [da Vara da Infância e Juventude, Marcos Oliveira] esteve lá pela manhã e enquanto não acontecer a chacina, eles vão deixar esses meninos aí dentro”, encerrou.

INTERNAS LIBERADAS – Localizado na região do Bom Intento, na zona rural de Boa Vista, o Centro Socioeducativo foi cenário no mês passado do homicídio de um adolescente de 16 anos, que foi decapitado e desmembrado por outros internos que confessaram a motivação como conflito com facção rival. Desde então, o Judiciário informa estar conversando com o Governo do Estado ecobrando celeridade na conclusão das obras dentro do CSE. 

Em entrevista recente à Folha, o juiz da Vara da Infância e Juventude, Marcos Oliveira, disse que, por temer a integridade física das meninas que cumprem medidas socioeducativas, as execuções foram suspensas. “Eu preferi resguardar a integridade física delas para que depois que se organizassem, elas pudessem voltar”, disse na época. 

Conforme disse o socioeducador, que não quis ser identificado, as meninas ainda não retornaram à unidade e não estão sendo levadas para outros locais para cumprirem às medidas. “Ele estava liberando porque não tinha local onde colocar elas e isso ainda continua. Isso é um absurdo porque já era para ter arrumado o local para colocar essas meninas”, criticou.

A equipe de reportagem procurou novamente a Vara da Infância e da Juventude para novos questionamentos, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

OUTRO LADO – Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) informou que estão sendo tomadas medidas emergenciais para garantir a segurança dos socioeducandos e minimizar os danos causados na infraestrutura do Centro Socioeducativo Homero de Souza Cruz (CSE) na madrugada desta segunda-feira, 13. 

A princípio, será retomada a reforma na infraestrutura do CSE, conforme necessidade de reparos e priorizando os danos desta madrugada, quando os adolescentes quebraram paredes, portas e atearam fogo em móveis dentro da unidade.

Desde o início de julho, o Centro está em reforma, conforme Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) estabelecido entre o Governo do Estado e o Ministério Público de Roraima (MPRR), para a reforma do primeiro bloco iniciada no dia 9 de julho, após ter sido praticamente destruído pelos internos.

Por fim, a nota informou que a segurança do CSE é realizada por socioeducadores e policiais militares e, por questões de segurança, o número do efetivo que fica diariamente no plantão não será divulgado. (A.P.L)

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