Cotidiano

Após crítica do governo, Prefeitura nega falta de agentes

Capistrano disse concordar que a prefeitura precisa mesmo contratar novos agentes

Após aacusação feita pelo secretário-adjunto de saúde do Estado, Paulo Linhares, de que o aumento do número das doenças causadas pelo mosquito tenha se dado em conseqüência da falta de agentes de endemias, a Prefeitura de Boa Vista informou que mantém um quadro de 150 agentes de endemias, com 100 deles em atividade de campo conforme preconiza o Ministério da Saúde.

De acordo com a correlação entre o número de agentes em atividade e casos de dengue, chikungunya e zika não tem se mostrado positiva, ou seja, não é cálculo matemático maior número de agentes, menor incidência de casos das doenças.

“Independente do número de agentes que nós temos hoje, os números apontam que isso não tem influenciado na questão de ocorrências ou casos de surto ou disseminação das doenças causadas pelo mosquito Aedes aegypti”, disse Capistrano, enfatizando que essa definição faz parte de um estudo científico realizado pelo técnico Rodrigo Lins Frutuoso, do Ministério da Saúde, em 2013, sobre uma análise do que ocorre em todo o País.

Segundo ele, o discurso foi taxativo: “Acho que foi um discurso muito político, sem conhecer na verdade as teorias e os trabalhos científicos que demonstram que isso não colabora com o que foi dito pelo secretário”.

Segundo o cientista do MS, alguns estudos demonstram definitivamente que essas atividades não foram suficientes para eliminar o risco de epidemias mesmo em locais onde se alcançava a cobertura de imóveis trabalhados próximo a 100%. Capistrano, por sua vez, enfatiza que, mesmo que todas as residências de Boa Vista fossem visitadas, chegando a 100%, isso não seria garantia de que o mosquito não voltaria a se proliferar, vez que vários fatores contribuem para isso, como o período chuvoso vivido em Roraima, a falta de cuidados da parte dos donos de terrenos baldios, recorrência da existência de criadouros em uma mesma residência, entre outros.

Capistrano disse concordar que a prefeitura precisa mesmo contratar novos agentes. Essa contratação, segundo ele, deve se dar de forma gradual, respeitando a responsabilidade fiscal. Mas esse reforço, não será garantia de erradicação do mosquito. Para comprovar, ele citou o caso de um estudo feito em Cingapura, onde o vetor se manteve em menos de 1% ao longo de muitos anos, mesmo assim a infestação de dengue continuava a ocorrer.

O superintendente ressaltou ainda que os trabalhos para o combate das doenças causadas pelo Aedes aegypti não se restringem apenas às visitações feitas pelos agentes de endemias, mas também a prefeitura tem aplicado multas a donos de terrenos encontrados em situação de risco para a disseminação do mosquito, entre outras penalidades.

“Estamos pensando também em multar os donos de residências onde houver recorrência de criadouros, ou seja, os agentes eliminam os focos existentes e, ao voltarem àquela mesma residência, outros criadouros são encontrados”, disse Capistrano, ressaltando a necessidade de uma colaboração efetiva da parte dos donos das casas em cujos quintais são encontrados tais focos.  

Novas tecnologias – Emerson Capistrano disse que os estudos demonstram que as atividades precisam ser repensadas. “Eles conseguiram provar que uma alta cobertura de imóveis trabalhados não se traduziu numa baixa densidade vetorial [números de casos]. É importante que nós incorporemos novas tecnologias, que é o que Boa Vista está fazendo agora, com a introdução das unidades disseminadoras.”

A prática das unidades disseminadoras teve início no mês de maio deste ano em dez bairros com maior incidência de casos das doenças. “A primeira avaliação ocorreu em junho, apresentando eficácia. Nesses bairros, houve uma queda na incidência de casos entre 16% e 81%”, disse Capistrano.

Unidades disseminadoras são recipientes com água infestados com produtos químicos usados para eliminar o mosquito, os mesmos usados na pulverização. Esses recipientes são colocados em locais estratégicos, ao lado de possíveis outros criadouros. Ao se contaminar com esses produtos, o mosquito tende a voar, contaminando, assim, novos locais, provocando a morte de possíveis larvas.