Cotidiano

Assistência pública a deficientes visuais ainda está longe do ideal em Roraima

60% das doenças que causam cegueira podem ser revertidas com diagnóstico precoce. Mas uma vez perdida a visão, a assistência estadual e a municipal deixam a desejar

Pelo menos 60% das doenças que causam cegueira são tratáveis se tiverem diagnóstico precoce, apontou o Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Mas detectar dificuldades na visão pode ser um caminho demorado quando se tem pouca assistência por parte dos governos e pouco conhecimento acerca das doenças que podem afetar os olhos.

A fundadora da Associação dos Deficientes Visuais de Roraima (Adivr), Vera Lúcia Sábio, deficiente visual, há 17 anos criou a entidade para oferecer aulas de informática, linguagem Braille, mobilidade e artesanato para cegos, por meio de professores também sem visão. Mas com a troca da gestão municipal de Boa Vista em 2012, o aluguel do imóvel cedido pela Prefeitura deixou de ser pago e os funcionários tiveram que ser demitidos.

A Prefeitura possuía o Centro Municipal Integrado de Educação Especial (CMIEE), conhecido como “Centrinho”, atualmente em reforma devido à necessidade de apoio clínico para alguns tipos de deficiência.

Segundo Vera Lúcia, restaram o coral “Visão da Arte” e os encontros esporádicos com os associados do Advir, e também salas multifuncionais com materiais pedagógicos voltados aos alunos com todos os tipos de deficiência, nas 58 escolas da zona urbana. “Mas poucas funcionam, devido à falta de profissionais qualificados. Estamos totalmente desassistidos, nem um Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência nós temos”, lamentou.

No âmbito estadual, a situação é um pouco melhor. Existe o Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência (COEDE), agregando diversas associações voltadas à pessoa com deficiência. E nos últimos meses, tem sido discutida a criação de um fundo para o COEDE.

“Uma deputada apresentou um projeto de lei para teste de acuidade visual dentro das escolas estaduais (PL 37/2015). Uma cartolina com letras de vários tamanhos seria afixada na parede e o professor colocaria o aluno com um olho fechado e o outro aberto, para que tentasse ler a cartolina. Um projeto tão básico e sem custos, mas não foi sancionado pela governadora”, lamentou Vera Lúcia.

Fazer cirurgias como a de catarata é possível pelo SUS (Serviço Único de Saúde), mas quem precisa utilizar o TFD (Tratamento Fora de Domicílio) encontra dificuldades.

“Um deficiente visual sempre precisa de um acompanhante. Pela Secretaria Estadual de Saúde, que faz o TFD para pacientes a partir dos 15 anos de idade, a diária paga com um acompanhante é de R$ 89,50. Pela Secretaria Municipal de Saúde, que assiste menores até 15 anos incompletos, essa diária é de R$ 49,50”, lamentou Vera Lúcia.

PREFEITURA – Sobre os valores de diárias pagas pelo TFD, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Boa Vista disse que são estabelecidos pelo Ministério da Saúde e pactuados entre os estados e os municípios, de acordo com a capacidade de recursos disponíveis.

GOVERNO – A assessoria jurídica da Casa Civil do Governo do Estado disse que o veto ao PL 37/2015 se deu devido o mesmo gerar ônus para o Executivo, o que a legislação não permite.

Algumas doenças visuais que podem ser descobertas na infância

A rubéola é a maior causa de cegueira em recém-nascidos. Perigosa se contraída por mulheres grávidas, ela também causa má-formação e problemas cardíacos nos bebês. A vacinação é a melhor arma contra ela. A carência de vitamina A, causando a cegueira noturna nas mães, também pode afetar os fetos, pois esta substância é responsável pelo fortalecimento do sistema imunológico.

A toxoplasmose, transmitida por parasitas nas carnes mal cozidas ou mal passadas, em fezes de gatos, pombos e ratos, pode causar abortos espontâneos no primeiro trimestre da gravidez. A partir do segundo trimestre, o bebê tem menos chances de contrair a doença, mas pode nascer com retardo mental e lesões na visão.

A catarata, o glaucoma e a retinopatia congênita (falta de circulação sanguínea na retina) são outras patologias que o recém-nascido pode ter. As mesmas podem ser identificadas por meio de exames na UTI Neonatal antes do primeiro mês de vida. No caso da catarata, a cirurgia de sua retirada deve ser feita antes de um ano de vida do bebê.

Em adultos, diabetes tipo 2 causa cegueira, mas esta informação ainda é desconhecida por boa parte da população. Glaucoma (grupo de risco: acima dos 40 anos de idade), degeneração macular (grupo de risco: acima de 60 anos), catarata, retinopatia hipertensiva e retinopatia diabética, junto com diabetes tipo 2, são as doenças que mais acometem os adultos. A ida ao oftalmologista pelo menos uma vez ao ano é recomendada para preveni-las. (NW)