Cotidiano

Boa Vista registra aumento de 21% nos casos de tuberculose

Nos últimos cinco anos não houve redução no coeficiente de incidência de tuberculose na capital

Roraima apresentou aumento de casos de tuberculose nos primeiros meses de 2017, com 45 novos registros contra 37 do mesmo período em 2016, o que representa 21% de aumento de casos. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) de Boa Vista, no ano passado, 113 pessoas adoeceram de tuberculose na Capital e quatro morreram em decorrência da doença.

Das 113 pessoas que adoeceram 94 nunca usaram – ou usaram por menos de um mês – drogas antituberculosas. São os chamados “casos novos” da doença. Desse total, nove pessoas adquiriram a doença em outro estado ou município. Ainda no ano passado, o Coeficiente de Incidência de Tuberculose foi de 28,8/100 mil habitantes, ficando abaixo da média nacional entre as capitais brasileiras, que foi de 52,5/1000 mil habitantes.

Mesmo com o número positivo, a SMSA observou que, nos últimos cinco anos, não houve redução do coeficiente na Capital, demonstrando a manutenção da carga da doença e indicando a necessidade de melhorar a identificação precoce de novos casos para quebra da cadeia de transmissão.

“É como se estivéssemos mantendo o número de casos. Não há diminuição, ou seja, a transmissão está ativa. Boa Vista é hoje um município considerado com ‘alto risco’ para tuberculose”, afirmou a diretora de Vigilância Epidemiológica da SMSA, Roberta Calandrini.

O diagnóstico precoce da doença ainda é fundamental para interromper a cadeia de transmissão da doença e, consequentemente, reduzir a incidência. Segundo Roberta, um dos problemas em relação à doença atualmente na Capital é o preconceito das pessoas. “Quando a gente nasce, tomamos a vacina BCG, que impede as formas graves da tuberculose. No entanto, isso não é o suficiente. Não existe medida preventiva. A única prevenção é: se apresentar algum sinal ou sintoma da doença, procurar imediatamente uma unidade de saúde. Qualquer um pode ter tuberculose, porque passa de uma pessoa doente para uma sadia. É importante desmitificar a tuberculose. É uma doença que tem cura e tem tratamento sim”, disse.

Como o tratamento é prolongado, equivalente a seis meses ou mais, muitas pessoas abandonam e voltam a ter problemas de saúde, o que pode ocasionar a morte, conforme ressaltou a diretora. “Depois de diagnosticada a doença, a pessoa inicia imediatamente o tratamento. Só que logo no início, o paciente já apresenta melhora. Muitos acham que, por já estarem melhores, não precisam continuar e abandonam na metade do caminho. Isso pode piorar a saúde dessa pessoa. Sem contar o risco de transmissão para outras pessoas”, comentou.

Em relação à transmissão, Roberta explicou que todos os membros de uma família passam por exames e/ou observação, quando uma das pessoas é identificada com tuberculose. “Se em uma casa moram cinco pessoas e uma delas adquiriu a doença, todas as outras passarão por exames, observação e orientações. Vale enfatizar que quanto mais cedo e precoce o diagnóstico, menor o risco de transmissão”, garantiu.

A DOENÇA – De acordo com informações do portal do Ministério da Saúde (MS), a tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões. Anualmente, são notificados cerca de 10 milhões de novos casos em todo o mundo, levando mais de um milhão de pessoas a óbito. O surgimento da Aids e o aparecimento de focos de tuberculose resistente aos medicamentos agravam ainda mais esse cenário.

A tuberculose é uma doença de transmissão aérea, ou seja, que ocorre a partir da inalação de aerossóis. Ao falar, espirrar e, principalmente, ao tossir, as pessoas com tuberculose ativa lançam no ar partículas em forma de aerossóis que contêm bacilos, sendo denominadas de, bacilíferas.

As formas bacilíferas são, em geral, a tuberculose pulmonar e a laríngea. Calcula-se que, durante um ano, numa comunidade, um indivíduo que tenha baciloscopia positiva pode infectar, em média, de dez a 15 pessoas.

Bacilos que se depositam em roupas, lençóis, copos e outros objetos dificilmente se dispersam em aerossóis e, por isso, não desempenham papel importante na transmissão da doença.

A maioria das pessoas infectadas com a bactéria que causa a tuberculose não apresenta sintomas. Quando ocorrem, os sintomas geralmente incluem tosse (às vezes, com sangue), perda de peso, sudorese noturna e febre.

TRATAMENTO – A tuberculose é uma doença curável, desde que sejam obedecidos os princípios básicos da terapia medicamentosa e que haja a adequada operacionalização do tratamento. A esses princípios, soma-se o Tratamento Diretamente Observado (TDO) da tuberculose, que consiste na ingestão diária dos medicamentos da tuberculose pelo paciente sob a observação de um profissional da equipe de saúde. Em Boa Vista, todas as 31 Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Município realizam diagnóstico e disponibilizam o tratamento.

O tratamento dura no mínimo seis meses e, nesse período, o estabelecimento de vínculo entre profissional de saúde e usuário é fundamental para que haja adesão do paciente ao tratamento e assim reduza as chances de abandono para se alcançar a cura. O paciente deve ser orientado, de forma clara, quanto às características da tuberculose e do tratamento a que será submetido: medicamentos, duração e regime de tratamento, benefícios do uso regular dos medicamentos, possíveis consequências do uso irregular dos mesmos e eventos adversos.

O município disponibiliza a vacina contra a tuberculose para os nunca vacinados e trabalha com a identificação precoce de casos e tratamento, através de campanhas e exames de contatos de casos identificados, além da busca ativa de casos. (C.C)

Brasil é um dos países prioritários para controle da tuberculose

No Brasil, a tuberculose é um sério problema da saúde pública, com profundas raízes sociais. A cada ano, são notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem 4,5 mil mortes em decorrência da doença, de acordo com o Ministério da Saúde (MS).

Tendo em vista a nova era para o controle da tuberculose, a Organização Mundial da Saúde (OMS) redefiniu a classificação de países prioritários para o período de 2016 a 2020. Essa nova classificação é composta por três listas de 30 países, segundo características epidemiológicas: 1) carga de tuberculose, 2) tuberculose multidrogarresistente e 3) coinfecção TB/HIV. Alguns países aparecem em mais de uma lista, somando assim, um total de 48 países prioritários para a abordagem da tuberculose. O Brasil se encontra em duas dessas listas, ocupando a 20ª posição na classificação de carga da doença e a 19ª quanto à coinfecção TB/HIV. Vale destacar que os países que compõem essas listas representam 87% do número de casos de tuberculose no mundo. (C.C)