Cotidiano

CRF alerta sobre riscos de consumo da ‘pílula do câncer’ como suplemento

Com a venda proibida no Brasil e sem ser considerada um remédio pela Anvisa, pílula foi autorizada a ser vendida pela internet

A fosfoetanolamina, conhecida como “pílula do câncer”, teve a sua venda somente para consumo próprio permitida pelo Governo Federal nesta semana. A substância está sendo oferecida como suplemento alimentar produzida por uma empresa no Estado da Flórida, nos Estados Unidos. É possível encomendá-la pela internet, diretamente no site. As entregas começarão mundialmente no dia 16 de março. O vice-presidente do Conselho Regional de Farmácia de Roraima (CRF-RR), Paulo Tamashiro, alerta sobre os riscos de se comprar o produto.

Continua sendo proibida, no Brasil, a venda, a produção e a compra em larga escala da pílula, que foi criada em laboratório, no Estado de São Paulo, no ano de 2015. Portanto, o rótulo de “suplemento alimentar” ao invés de “medicamento” é para evitar problemas com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que fiscaliza todos os remédios comercializados no país.

Tamashiro lembra que o produto nunca foi plenamente testado em laboratório, existindo apenas um grupo pequeno de pessoas que o consumiu e relatou seus supostos efeitos. Ele acredita que a venda online é uma estratégia para proliferar o acesso à substância e preocupa o fato de as pessoas poderem comprar como “suplemento” sem conhecerem suas reais ações no organismo.

“As pessoas não vão consumir o ‘fosfo’ como suplemento, e sim como medicamento de uma patologia grave, que é o câncer, cujo tratamento exige acompanhamento médico e farmacêutico. Só que toda vez que um remédio chega ao mercado, antes ele passou mais ou menos 10 anos sendo testado primeiro em animais, depois em um pequeno grupo de portadores daquele mal e, por último, em pessoas com características variadas. Cada etapa com consentimento dos pacientes e com garantias toxicológicas de seus efeitos antes de o remédio ser aprovado para a próxima fase de testes. Tomar algo sem ter feito tudo isso é um tiro no escuro”, alerta Paulo Tamashiro.

O vice-presidente ressaltou que a demora é para assegurar situações como a do chá de boldo. Segundo ele, o boldo comercializado nas farmácias vem da Cordilheira dos Andes, no Chile, respeitando uma determinada condição climática. O boldo plantado no Brasil e consumido de forma caseira tem metabolismo diferente, podendo até ser cancerígeno. “É muito comum uma substância usada popularmente ter efeito diferente em laboratório”, frisou.

Como a encomenda online da “pílula do câncer” já foi liberada, o que os usuários que se sentirem prejudicados podem fazer é entrar em contato com a Anvisa no 800 642 9782, de segunda a sexta-feira (exceto feriados), das 7h30 às 19h30 ou preencher o formulário do “Fale Conosco” no site: portal.anvisa.gov.br/contato. “Mesmo a pílula sendo vendida como suplemento, a denúncia irá para o banco de dados do órgão e do Ministério da Agricultura, que é quem supervisiona os suplementos alimentares”, aconselhou Tamashiro.

POLÊMICA – A fosfoetanolamina na sua versão sintética foi criada pelo químico Gilberto Chierice no Instituto de Química da Universidade de São Paulo, na cidade de São Carlos, no ano de 2015. Após se tornar conhecida pelos supostos benefícios nos pacientes de câncer, a venda da pílula foi autorizada em abril do ano passado pela ex-presidente Dilma Rousseff. Meses depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu o seu comércio, pois até hoje não foram comprovados os efeitos do produto.

Desde então, a substância está passando por novos testes pelo Instituto de Câncer de São Paulo. Mas ainda no final de 2015, dois colaboradores do químico, o biotecnólogo Marcos Vinícius de Almeida e o médico Renato Meneguelo, decidiram se separar do grupo original do Instituto.

Eles estão à frente da pílula como suplemento alimentar, firmando a parceria com a empresa da Flórida na produção e distribuição. Por causa da decisão do STF, toda a propaganda precisou ser direcionada para a versão como suplemento, pois o produto não é enquadrado como medicamento pela Anvisa. Almeida e Meneguelo alegam que a comercialização se deu porque o “fosfo” continua sendo procurado e pode ajudar muitas pessoas, além de que o processo da liberação das vendas no Brasil e os próprios testes em São Paulo estariam demorando demais. (NW)