Cansados da falta de energia, moradores do Cantá registram B.O contra Eletrobras

Quem mora em vilas, vicinais e até nas sedes dos municípios de Roraima costuma enfrentar problemas ocasionados pela inconsistência no fornecimento de energia elétrica, que compromete também a distribuição de água. Insatisfeitos com a situação, moradores do município do Cantá resolveram tomar uma medida mais séria: procuraram advogados particulares, fizeram um abaixo-assinado e registraram um boletim de ocorrência na delegacia da cidade contra a Eletrobras Distribuição Roraima.

A equipe de reportagem da Folha foi até o município do Cantá e acompanhou a ida de alguns moradores à delegacia para o registro do boletim de ocorrência. “Não temos o que fazer, porque já reclamamos de todas as formas possíveis e até hoje nunca resolveram o nosso problema. Moro no Cantá há mais de 15 anos e desde então tenho problemas quando a ‘luz falta’. Parece que eles não dão muita importância para quem mora no interior, porque até hoje nunca resolveram”, relatou o aposentado Francisco Alves Ferreira.

Após preencher o abaixo-assinado, o aposentado Higino Pereira Maia, que reside na Vila União, afirmou que o maior problema encontrado por quem reside na localidade é a interrupção na distribuição de água.

“Devemos ter aqui no Cantá cerca de 30 vilas. Todo mundo sofre com isso há muito tempo. A minha neta mora comigo, tem apenas três anos de idade. Imagine uma criança ficar no calor e sem água durante quase 72 horas. A gente tem que se virar como pode, guardamos água quando tem. Os adultos acabam se acostumando com isso e aprendem a lidar com a situação, mas as crianças não. Alguém precisa olhar por nós e solucionar esse problema”, disse.

Francisco Monteiro também reside na Vila União, onde é proprietário de uma loja de peças. Há oito anos na localidade, vivendo com a esposa, o comerciante afirma que já teve um prejuízo de mais de R$ 2.500. “Tenho uma pequena loja que ajuda a nos manter, mas ter que pagar por erro dos outros é complicado. A energia falta, oscila e, além de sofrer os transtornos comuns, ainda temos que enfrentar as despesas para mandar arrumar equipamentos que queimam ou danificam. Já perdi uma máquina de lavar, um freezer, dois ventiladores, sem contar os alimentos e outras coisas menores ao longos dos anos”, contou.

Poucos metros depois da loja de peças de Francisco, mora o agricultor Valdecir da Silva Guimarães, na Rua do Campo. Segundo ele, ficar sem água ainda é pior do que ficar sem energia elétrica. “São seis anos morando nessa casa. Seis anos que enfrento isso. A comida estraga, os mosquitos atacam quando vai anoitecendo, ficamos sem água direto para beber e para tomar banho. Depois que a Eletrobras assumiu parece que ficou pior. Antes resolviam mais rápido, agora chegamos a ficar até três dias sem energia”, relatou.

Na Vila Félix Pinto, alguns quilômetros antes da Vila União, reside Sheila Jandete. Ela mora em uma casa que fica em frente a uma madeireira. Para sobreviver, Sheila fornece alimentação aos trabalhadores. “Vivo disso, fazendo comida para o pessoal da madeireira. Quando falta energia, perco carne e outras coisas que ficam na geladeira. Antes eu vendia sorvete também, tive que parar porque estava tendo apenas prejuízos. Por conta disso, passei a anotar todas as vezes que a energia era interrompida. Tanto o horário que ‘caía’ quanto o horário que retornava. Vou apresentar isso na justiça”, disse a moradora.

ELETROBRAS – Por meio de nota, a Eletrobras Distribuição Roraima informou que o período chuvoso potencializou as ocorrências de moradores do estado, devido à precariedade da rede de distribuição de energia elétrica do interior. Para justificar, a empresa disse que herdou uma rede “sucateada e, com ela, todos os seus problemas”.

“O que está faltando é o cliente informar para a Eletrobras que está sem energia em sua localidade. Todas as sedes dos municípios têm atendimento presencial das 8h às 12h e das 14h às 16h, além do atendimento por telefone 0800-7019-120, que funciona 24 horas. A empresa já realizou diversos serviços de melhoria na rede elétrica do Cantá e continua realizando”, finalizou a nota.

CAERR – Em relação à distribuição de água, a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caerr) esclareceu que a falta de energia no município do Cantá, ocorrida nos últimos dias, afetou o fornecimento de água, porque todos equipamentos da estação de tratamento são elétricos.

“Técnicos da Caerr solicitaram da Eletrobras mais agilidade no restabelecimento da energia. Tão logo os serviços da concessionária de energia foram concluídos, o abastecimento de água foi normalizado gradativamente na área afetada. O problema é recorrente em todo Estado, inclusive na capital, pois dependemos de energia para operacionalização do sistema”, informou. Sobre a possível aquisição de geradores de energia, a Caerr explicou que é “economicamente inviável, tendo em vista que o orçamento da Caerr é destinado à captação, tratamento e distribuição de água, além de ampliação de rede, atividade fim da empresa”. (C.C)