Cotidiano

Carnes impróprias para o consumo podem causar infecções graves, afirmam especialistas

Segundo a PF, carnes estragadas recebiam ácido ascórbico para maquiar o aspecto físico deteriorado

O consumo de carnes contaminadas e fora do prazo de validade pode causar infecções gastrointestinais graves, mas dificilmente levará ao desenvolvimento de câncer, segundo especialistas ouvidos pelo “Estado”.

Mesmo que os alimentos tenham recebido aditivos e conservantes em níveis acima do permitido e que essas substâncias favoreçam o aparecimento de tumores, é necessário um período de exposição prolongado a esses agentes para que eles causem danos significativos ao organismo.

Segundo a investigação da Polícia Federal, algumas carnes estragadas recebiam ácido ascórbico (vitamina C) para maquiar o aspecto físico deteriorado.

“Todas as substâncias que são usadas para conservar o alimento são lesivos paras as nossas células, mas para que elas causem problemas sérios, como câncer, seriam necessários anos ou até décadas de consumo desses produtos”, explica o infectologista Marcos Boulos, coordenador de controle de doenças da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Mesmo a relação entre alto consumo de ácido ascórbico e o aparecimento de tumores não está bem embasada na literatura científica.

“Esses ácidos e vitaminas podem ser prejudiciais se usados em grande quantidade e por muito tempo, mas não há um vínculo forte na ciência que comprove que o uso de vitamina C cause câncer”, diz o oncologista Fernando Cotait Maluf, membro do Comitê Gestor de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e chefe do Departamento de Oncologia Clínica do Hospital Beneficência Portuguesa.

Segundo os especialistas, o principal risco associado ao consumo dos alimentos deteriorados é o desenvolvimento de infecções gastrointestinais graves causadas por bactérias resistentes.

“A maioria das infecções gastrointestinais que vemos no dia a dia são consideradas autolimitadas, ou seja, a pessoa tem um quadro de diarreia, põe as toxinas para fora e fica boa depois de alguns dias. Já as bactérias geralmente presentes em carnes putrefatas podem entrar no intestino e levar a quadros mais graves, com muita diarreia e febre. Há casos em que as bactérias causam lesão no tecido intestinal e é necessário que o paciente passe por cirurgia”, diz Boulos.

Bactéria encontrada em alguns frigoríficos investigados pela Polícia Federal, a salmonella é um dos microrganismos que levam a problemas gastrointestinais graves.

“Ela é muito resistente, podendo resistir a temperaturas muito baixas, até mesmo dentro de um freezer”, afirma o médico Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto Emílio Ribas.

O especialista afirma ainda que crianças e idosos são os pacientes mais vulneráveis a desenvolver formas graves de infecções causadas pelo consumo de carne estragada.

“A gravidade do caso vai depender do tipo de bactéria, da quantidade de agentes contaminantes e do sistema imunológico da pessoa afetada As crianças ainda têm o sistema de defesa imaturo, então respondem pior a essas infecções. Os idosos têm imunodeficiência Nos dois casos, os quadros de diarreia podem ser mais graves, levando à desidratação e, em algumas situações, até a morte”, diz o médico.

Com informações do Estadão