Cotidiano

Catadores enfrentam dificuldades financeiras após serem retirados do aterro sanitário

Mesmo com o retorno de algumas pessoas ao local, não está sendo permitido catar garrafa PET, material que era mais vendido pelos catadores

Catadores do aterro sanitário da capital relataram à Folha que estão passando por dificuldades financeiras, depois que foram retirados do local pela Prefeitura de Boa Vista no início do mês de outubro. Mesmo com o retorno de algumas pessoas, não está sendo permitido recolher PET, material que era mais vendido pelos trabalhadores.

Uma indígena de 70 anos, que preferiu não se identificar, disse que começou a trabalhar como catadora há cerca de 10 anos, quando se tornou responsável pelo primeiro neto. Hoje, com três netos para criar, ela contou à equipe da Folha que está com três boletos de energia para pagar na casa onde mora, no bairro São Bento, conhecido como “Brigadeiro”, na zona oeste de Boa Vista.

Mesmo antes da retirada das famílias, a catadora explicou que não frequentava o aterro diariamente, tendo em vista a quantia que conseguia arrecadar com a venda do PET que coletava. Por dia, ela alcançava a margem dos R$ 200,00. Após a retirada das famílias e o fechamento do aterro aos catadores, ela pontuou que, quando consegue entrar, só pode retirar alumínio.

A catadora não soube explicar o motivo da proibição, mas lamentou a situação que ela e outras pessoas estão passando. “Quando eu venho de manhã, como hoje, catando no meu tempo, consigo até R$ 10,00. Se eu viesse à noite, poderia conseguir R$ 20,00”, disse. Com o dinheiro em mãos, ela precisa decidir se leva comida para casa ou paga as contas. No final, a fome dos netos fala mais alto.

Durante o fechamento do aterro, a presidente da associação Terra Viva, Evandra do Vale, explicou que o acordo firmado previa que os catadores das cooperativas teriam um local adequado e aparelhado para trabalhar com os materiais recicláveis e assim continuar tendo renda. No entanto, até o momento nada aconteceu. Ao todo, a Terra Viva possui 68 cadastrados.

Sem o cumprimento do acordo, ela frisou que há catadores morando nas proximidades do aterro, tendo em vista que não há outro trabalho ou maneira de se sustentar. A equipe de reportagem se dirigiu ao local e encontrou peças de roupas, chapéus e vários tipos de lixo na margem do igarapé. Em um dos locais, há pontes improvisadas que levam até o aterro.

A catadora indígena reforçou que há pessoas morando perto do igarapé por não ter pra onde ir ou como conseguir dinheiro. “É perigoso, porque alguns já tentaram entrar à noite, quando não tem ninguém, e foram vistos pelos guardas”, contou. Para Evandra, a Prefeitura de Boa Vista deveria fornecer bolsas e condução aos trabalhadores, a fim de que façam a coleta de material reciclado na capital e evitar que o mesmo chegue ao aterro.

AUDIÊNCIA – Segundo a presidente, está prevista para ocorrer hoje, 21, uma audiência no Ministério Público do Trabalho (MPT) para resolver a situação dos catadores em relação à contratação dos trabalhadores, do material reciclado que vai para o aterro e os que estão na cidade. “Porque há uma lei que ampara o catador, só que a gestão ainda não o viu como profissional. Ele ajuda o meio ambiente fazendo a limpeza e separando o que pode ser reciclado, já que não há coleta seletiva”, frisou.

PREFEITURA – Em nota, a Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Meio Ambiente informou que pessoas não são permitidas no Aterro Sanitário e aquelas que insistem em permanecer são retiradas pela empresa responsável por administrar o local e levadas para uma delegacia por descumprimento de mandado judicial. A secretaria ressaltou que está trabalhando pra inserir os catadores como funcionários da empresa na coleta regular, porém, já houve resposta negativa da parte deles. (A.G.G)