Cotidiano

Centro de Referência ao Imigrante já realizou mais de 275 mil atendimentos

Ações são resultado da implantação do Gabinete Integrado de Gestão Imigratória, que completa um ano de existência nesta semana

Criado em novembro do ano passado, o Centro de Referência ao Imigrante (CRI), localizado no bairro Pintolândia, zona oeste da Capital, já realizou aproximadamente 275 mil atendimentos em Roraima. De acordo com a Defesa Civil Estadual, as ações são um resultado do trabalho implantado pelo Gabinete Integrado de Gestão Imigratória, que completa um ano de existência nesta terça-feira, 17.

O tenente Emerson Lima, da Defesa Civil Estadual, realizou um balanço das ações realizadas, durante o programa Agenda da Semana, na Rádio Folha 1020 AM. Para Emerson, desde o início, foi dado um direcionamento no trabalho para tentar amenizar o impacto da imigração, principalmente de venezuelanos em Roraima. “O trabalho é feito até hoje com apoio de novos parceiros, do Governo Federal, de organizações não governamentais e da sociedade civil, que vem ajudando a gente desde o início das ações”, avaliou.

Dentre as ações realizadas, Emerson Lima pontuou a criação do Centro de Referência ao Imigrante em Pacaraima para verificar a entrada de estrangeiros em Roraima. “Nós verificamos que passava legalmente uma média de 120 venezuelanos por dia, mas a informação de quantos venezuelanos entraram no Brasil é difícil conseguir. Solicitamos da Polícia Federal em Roraima, que é nossa parceira, e mesmo assim ainda existe um grande número de venezuelanos que entram ilegalmente no país”, explicou.

O tenente informou que os venezuelanos pedem visto de turista, no momento da entrada no País, mas sabe-se que essa não é a realidade. “É uma forma que eles podem entrar no Brasil de forma regular para depois tentar se regularizar e conseguir alguns direitos, como os trabalhistas, por exemplo”, pontuou.

O representante da Defesa Civil disse que, no início, se falava em aproximadamente 30 mil venezuelanos morando em Roraima, mas ele acredita que esse número já foi ultrapassado, bastando apenas avaliar a população do Estado. “Hoje percebemos que o espanhol está fazendo parte da cultura roraimense. Você passa no semáforo, passa pelos restaurantes, pelos bares e escuta o espanhol. O idioma está inserido na nossa sociedade por conta dessa inserção dos venezuelanos, que já estão trabalhando e exercendo atividades no estado de Roraima, então não há como estipular um número certo”, comentou.

Emerson Lima também salientou que é preciso levar em consideração que são dois tipos de públicos que estão vindo da Venezuela: os indígenas e os não indígenas. “Sabemos que grande parte do povo venezuelano é bem qualificada. Aqui em Roraima você encontra operadora de caixa de supermercado que é advogada, engenheiro, médico, pessoas que buscam o mercado de trabalho e tentam trabalhar na sua área. E se não há, já que Roraima carece de indústria, eles procuram outros polos, vão para outros estados. Mas a questão indígena é diferente. Eles têm uma cultura diferente”, pontuou. (P.C)

Atendimento aos estrangeiros só foi possível com apoio da população

A Defesa Civil Estadual ressaltou que a atuação junto aos estrangeiros só foi possível com apoio da população, organizações não governamentais e demais grupos, principalmente na questão da doação de alimentos. “Tanto é que desde o início estamos trabalhando junto com a Fraternidade [Federação Humanitária Internacional], que ajuda os imigrantes no abrigo. Eles fazem a captação de recursos juntos da sociedade civil e aos comerciantes, que fazem doações regularmente”, explicou. “Hoje nós contamos com um público de 484 pessoas dentro do Centro de Referência ao Imigrante aqui em Boa Vista, então imagina alimentar essa quantidade de pessoas diariamente com café da manhã, jantar e almoço”, frisou o tenente Emerson Lima.

O tenente esclareceu ainda que a Defesa Civil trabalha na coordenação e no gerenciamento na questão imigratória, mas quem está lidando diretamente com a questão da alimentação é a Fraternidade. “Nosso trabalho é focado em outros pontos, como o transporte de um estrangeiro para um posto médico ou um hospital, algum interno que esteja doente. Diariamente temos um bombeiro militar no local para realizar atendimentos. Nós estamos dando esse tipo suporte”, afirmou. (P.C)

Estado ainda sofre com falta de apoio do Governo Federal

Durante o balanço das atividades do Gabinete Integrado de Gestão Imigratória, o tenente Emerson Lima afirmou que, desde o começo da atuação da Defesa Civil, o Estado procurou apoio do Governo Federal e das Prefeituras de Boa Vista e Pacaraima, tendo em vista que a intensidade do fluxo migratório era uma situação nova em Roraima.

Emerson informou que, no mês de abril, o Ministério de Desenvolvimento Social e Agrário chegou a fazer um repasse de um montante de R$ 480 mil, destinados a cerca de 200 imigrantes que estavam instalados no Centro de Referência ao Imigrante na época. No entanto, quando o recurso foi liberado, o número de imigrantes só no Centro de Referência de Boa Vista ultrapassava 500 pessoas.

“Lembrando que esse recurso foi disponibilizado pra ser dividido tanto no atendimento a Boa Vista quanto no de Pacaraima. Esse montante foi utilizado pela Setrabes [Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social] para fornecimento de alimentação, mas teve que ser readequado, pois não houve aumento do valor, mesmo com o crescimento do número de pessoas no abrigo”, afirmou.

PRÓXIMOS PASSOS – Mesmo com a falta de apoio, o tenente salientou que foi lançado na última semana um edital para a contratação de pessoas que possam trabalhar no Centro de Referência, tanto no de Boa Vista como em Pacaraima. “Já está sendo montada uma estrutura que foi cedida pelo Governo do Estado. O espaço vai ser coordenado com ajuda de organizações e igrejas, que estão dando suporte e estruturando a nova locação”, disse Emerson.

Enquanto isso, a Defesa Civil tem se concentrado para tentar disponibilizar o atendimento das pessoas que estão morando em locais abandonados ou em outros locais públicos, como a Rodoviária Internacional. “Agora, nós vamos ao local e tentamos encaminhá-los para um espaço mais adequado, também passando para a Setrabes, para que o estrangeiro possa receber um encaminhamento para o mercado de trabalho e se estabeleça da melhor forma”, disse. “Nós também realizamos uma reunião na semana passada entre várias instituições, buscando soluções para essa questão imigratória, junto com aqueles que trabalham na Rodoviária”, acrescentou.

Por fim, o tenente afirmou que a Defesa Civil Estadual entende que a solução para a questão migratória não surgirá de uma hora para a outra. “O problema não se instalou repentinamente e a solução também não virá dessa forma. Trabalhamos com projeto de curto e médio prazo porque sabemos que a imigração começou por um problema interno da Venezuela e talvez demore para voltar à normalidade”, concluiu. (P.C)