Política

Coletivos chavistas invadem Assembleia e ferem 15 pessoas

Ataque sinaliza um passo além na escalada de violência na Venezuela

Um grupo de entre 80 e 200 militantes chavistas invadiu nesta quarta-feira, 5, a Assembleia Nacional venezuelana armado com paus, bombas caseiras e armas de fogo e agrediu parlamentares opositores, jornalistas e funcionários do Legislativos.

Ao menos 15 pessoas ficaram feridas, entre elas cinco deputados. Um deles teve de ser internado.

O presidente Nicolás Maduro condenou a violência, mas considerou o episódio “estranho”. A oposição qualificou o episódio de um novo passo do autoritarismo chavista. Os parlamentares feridos são Américo de Grazia, Nora Bracho, Armando Armas, Luis Carlos Padilla e Leonardo Regnault. De Grazia sofreu traumatismo craniano, desmaiou e teve costelas fraturadas, mas não corre risco.

Alguns opositores e servidores do Legislativos reagiram às agressões e trocaram socos com os chavistas. Ao menos um partidário do governo ficou ferido e coberto de sangue.

O ataque sinaliza um passo além na escalada de violência na Venezuela, envolta desde abril em violentos protestos de rua contra o governo, que já deixaram 91 mortos e 1,4 mil feridos. Não é a primeira vez que os chamados coletivos chavistas agridem políticos da oposição, mas a invasão da Assembleia Nacional, seguida de confronto é inédita.

A coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) responsabilizou oficiais da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) – subordinada ao governo – por facilitar a entrada dos chavistas nas dependências do Parlamento.

“Os coletivos entraram batendo em todo mundo. Um fotógrafo foi derrubado e teve a câmera roubada”, contou Jennifer López, funcionária da Assembleia. “Várias pessoas foram agredidas com pedaços de ferro e madeira. Havia buracos de bala nas paredes.”

Alguns manifestantes, com os rostos cobertos, fizeram disparos contra o ar e outros lançaram bombas caseiras nos jardins do prédio. Alguns funcionários do Parlamento tentaram assustá-los com extintores de incêndio.

A MUD controla o Parlamento desde 2015, mas suas ações são boicotadas por Maduro e pelo Tribunal Supremo de Justiça, leal ao chavismo. Ontem, os deputados realizariam uma comemoração do Dia da Independência, frustrada pelo governo.

Os chavistas foram retirados do prédio, mas até o começo da noite de ontem ainda cercavam a Assembleia Nacional. “Ainda somos reféns dos grupos armados do regime”, disse no começo da noite o deputado Juan Guaidó.

Imagens que circulavam ontem nas redes sociais mostravam as paredes sujas de sangue e cartuchos de bala nos corredores do prédio. “Quase 100 jovens morreram nessa confusão”, disse o deputado Armando Armas. “Uns socos não são nada.”

Repúdio. Maduro, que participou do Desfile da Independência em outra área de Caracas condenou a violência. “Quero paz para a Venezuela. Não aceito violência de ninguém”, disse. “Quero que se investigue a verdade.”

O presidente do Parlamento, Julio Borges, chamou o presidente de covarde. “Um governo que faz isso é um governo débil”, afirmou.

Membro de um coletivo chavista e apresentador de um programa na TV estatal, o militante Oswaldo Rivero assumiu a responsabilidade pela invasão. “Nos esconderam a comida e nos atacam como terrorismo”, disse, em referência à oposição. “Eles são contra o povo.”

Ato. Mais cedo, membros do governo chavistas supreenderam o Parlamento e organizaram um ato surpresa na Assembleia Nacional, capitaneado pelo vice-presidente Tareck El Aissami, que chegou acompanhado do ministro da Defesa e chefe da Força Armada, Vladimir Padrino López, assim como de membros do gabinete e de partidários chavistas.

Aissami fez um discurso de cerca de 15 minutos, no qual acusou a oposição de “sequestrar” o Poder Legislativo. Os adversários de Maduro dominam a Casa, com folga, desde sua esmagadora vitória nas urnas em dezembro de 2015. “Essa oligarquia traiu Bolívar e sua causa”, disse o vice-presidente.

Com informações do Estadão