Cotidiano

Com salários atrasados, terceirizados do setor da limpeza paralisam atividade

Cerca de 50 funcionários da empresa Cometa Serviços, responsável pela realização de serviços de limpeza do Hospital Geral de Roraima (HGR) e Centro de Hemoterapia e Hematologia de Roraima (Hemoraima), paralisaram os serviços na manhã de ontem, 10, em razão do atraso no pagamento dos salários. A manifestação teve início na frente do HGR e continuou na sede da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau).

Durante todo o período da paralisação, apenas metade do serviço de limpeza estava sendo feito nas duas unidades de saúde atendidas pelos funcionários da empresa. De acordo com o funcionário L., de 50 anos, o atraso no repasse dos salários estaria ocorrendo há três meses, o que tem impedido pais e mães de família de honrarem com os compromissos do dia a dia. “É uma vergonha a postura que a empresa vem adotando diante dessa situação. São três meses de salários atrasados e nada de uma solução. Eles [direção da empresa] prometem resolver a questão e não cumprem. Não tem como suportar uma situação assim”, afirmou.

Imagens cedidas pelos funcionários à Folha mostram que a situação de limpeza dentro das unidades, principalmente no HGR, é preocupante, um reflexo do descontentamento dos terceirizados diante do problema, que alegaram ainda sofrer pressões constantes de demissão por parte da empresa. “Infelizmente não há condições de prestarmos um bom serviço sabendo que não vamos receber no dia certo, mesmo trabalhando direito. A nossa função é esgotante e extremamente arriscada, visto que lidamos com risco de contaminação. Quando o funcionário resolve reivindicar seus direitos, é ameaçado de demissão pela direção da empresa”, desabafou outro funcionário.

Sem ter como se manter, muitos terceirizados já não sabem mais o que fazer. Esse é caso de R. N., de 39 anos. O servidor de limpeza do Hemoraima contou à reportagem que corre o risco de ser preso a qualquer momento, devido ao atraso no pagamento da pensão alimentícia de dois dos três filhos que possui com a ex-companheira. “A Justiça já me intimou em relação ao atraso de dois meses de pensão de duas filhas que eu tenho com minha ex-esposa. Infelizmente não tenho com pagar porque não recebi meu salário. Até para elas passarem um final de semana comigo é complicado, porque não tem dinheiro nem para pagar a gasolina no carro para ir buscá-las”, comentou. (M.L)

Pagamento deve ser efetuado na próxima semana

Durante a paralisação dos funcionários, uma mulher que se declarou proprietária da empresa Cometa chegou à sede da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) e exigiu que as equipes de reportagem, inclusive da Folha, fossem retiradas do local. “Não quero que façam nenhum tipo de imagem, porque vou conversar somente com os funcionários. Não quero que vocês [veículos de imprensa] fiquem aqui. Se retirem, por favor”, declarou.

De acordo com a funcionária E. M., a proprietária da empresa Cometa informou que até a próxima quarta-feira, 16, o pagamento dos valores atrasados será repassado para os funcionários da empresa. “Eu trabalho há dois anos na empresa e eles só pagam quando a gente resolve fazer paralisação. Nessa reunião de agora, ela [proprietária] disse que a gente poderia escolher entre ir para casa, que ela rasgaria o contrato, ou voltar ao trabalho, que a situação estaria resolvida. Ela teve uma reunião com a Sesau antes, e agora se comprometeu que até a quarta-feira da semana que vem o dinheiro já estará na conta. Que essa situação só não foi resolvida de imediato porque todas as terceirizadas estão na mesma situação”, informou.

Ao sair do prédio da Sesau, a proprietária da empresa se limitou a informar que o pagamento será feito na próxima semana. “A situação já foi resolvida. Se vocês quiserem voltar ao trabalho, podem voltar. Se não quiserem, não precisam nem aparecer”, disse de dentro do carro. (M.L)

Sesau diz que pagamento é de responsabilidade da empresa

Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) reafirmou que o pagamento dos funcionários terceirizados que prestam serviços de limpeza do Hospital Geral de Roraima (HGR) deve ser garantido pela empresa contratada, mesmo que haja atraso nos repasses por até 90 dias, o que não é o caso. “A Sesau já adotou as providências necessárias e o serviço já começou a ser restabelecido. Novos repasses serão feitos para a empresa nos próximos dias”, complementou.

Ainda de acordo com a Secretaria de Saúde, nos casos de eventuais descontinuidades no serviço, a limpeza é concentrada nos locais essenciais como centro cirúrgico, trauma, setor de esterilização e pronto atendimento. (M.L)