Cotidiano

Comissão visita abrigos de refugiados

Na próxima semana, a Comissão promoverá audiência pública para apresentar resultados das visitas

Dois abrigos foram visitados na manhã de ontem, 10, pela Comissão Externa da Crise da Imigração Venezuelana, da Câmara Federal. Objetivo era avaliar in loco a situação dos acampamentos e trabalhar na formulação de ações de melhoria.

Os abrigos visitados em Boa Vista foram: um no Jardim Floresta e outro no Tancredo Neves. A meta, de acordo com o Exército, era que os parlamentares observassem as mudanças feitas no abrigo do Tancredo Neves, que recebeu obras de escoamento de água.

Considerando que o abrigo do Tancredo também é voltado para pessoas solteiras, foi pensando na visita ao acampamento do Jardim Floresta. O espaço abriga famílias e assim, a comissão pode comparar as atividades e ter uma visão mais ampla do trabalho feito até agora.

O coordenador da Comissão Externa, deputado Carlos Andrade (PHS), informou que a visita nos abrigos foi positiva para compreender a demanda dos migrantes. “A intenção também é verificar se todas as ações planejadas junto com o Palácio do Planalto também estão sendo colocadas em prática, algo que pedimos do Governo Federal há muito tempo”, afirmou.

Membro da comissão, a deputada federal Maria Helena Veronese (PSB) também avaliou o trabalho exercido pelo Exército Brasileiro como positivo. “Nós tivemos essa resposta depois de muito cobrar do Governo Federal e essa resposta está sendo até uma surpresa porque estamos vendo abrigos limpos, organizados, com fornecimento de alimentação e protegidos especialmente da chuva ao invés da situação em que as pessoas se encontravam”.

COBRANÇA – O coordenador da Comissão, Carlos Andrade ressaltou que uma questão que precisa de atenção é o sistema de saúde estadual. O parlamentar diz que os hospitais continham sobrecarregados e no planejamento foi feito um requerimento solicitando que o Hospital de Pacaraima fosse federalizado, algo que não ocorreu.

“Garantiram aos deputados que iam fazer isso até o final de abril e não foi feito. Outra seria a instalação de um hospital de campanha e que também não foi cumprido”, argumentou.

Andrade explica ainda que o sistema de saúde está saturado, mas não se pode culpar somente a migração por isso. “Não podemos dizer que são os imigrantes que fazem isso acontecer. O sistema já estava sobrecarregado. Por isso precisamos criar demandas para dar qualidade de vida para quem reside em Roraima”.

ONG – Pablo Matos, representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), afirma que o Governo Federal tem feito seus esforços para coordenar o fluxo de refugiados no Estado, mas ressalta que a pior opção seria uma tentativa de fechamento da fronteira.

“Isso seria contra os tratados nacionais do qual o Brasil faz parte. O segundo ponto é porque seria contra a defesa de uma entrada regularizada”, explica. O representante da Acnur acredita que mesmo com o fechamento da fronteira, os refugiados continuarão vindo em busca de melhores condições e comida.

“A pessoa com fome vai vir de qualquer forma, então, uma tentativa de fechar a fronteira seria uma maneira de incentivar que as pessoas viessem e não buscassem a sua identificação. As Nações Unidas são contra isso. As pessoas têm que vir e buscar a Polícia Federal para que o Brasil possa coordenar, de maneira ordenada, o fluxo de refugiados”, pontuou.

REUNIÃO – Durante a visita também foi realizada uma reunião com a Força Humanitária Logística do Exército Brasileiro. O tenente-coronel Souza Filho, do Exército Brasileiro, informou que a Comissão solicitou a visita para entender o funcionamento e como estavam sendo executadas as ações e ida aos abrigos.

“Recebemos a comissão pela manhã e tivemos a oportunidade de apresentar o trabalho que foi feito durante os 50 dias que chegamos ao Estado e o planejamento das ações futuras”, informou.

O tenente-coronel ressaltou que o Exército é responsável pela coordenação da montagem e apoio logístico, com serviços de transporte, saúde e alimentação. Já a coordenação dos abrigos fica a cargo de organizações não governamentais.

Venezuelanos querem comida diferenciada para crianças

Durante a visita, a equipe de reportagem da Folha foi abordada por crianças venezuelanas pedindo melhoria na alimentação. Os pequenos disseram que não há variedades de alimentos e gostariam de refeições similares à sua culinária, como arepas.

Uma mãe venezuelana, Elyoris Moreno, disse ser agradecida por estarem abrigados e cuidados pelo Exército, ao invés da situação em que estavam, embaixo de chuva. A crítica é de forma construtiva, somente para melhorar o atendimento.

Elyoris diz que o filho Ângelo Soto, de dois anos, não pode consumir açúcar. No entanto, são sempre servidos achocolatados para as crianças no café da manhã. “Não queremos reclamar, de forma alguma. Só queríamos que tivessem comidas variadas, atendendo a necessidade das crianças. Os pais não têm esse problema”, ressaltou.

Sobre a demanda, o tenente coronel Souza Filho, do Exército, disse que é uma reclamação pontual e que iria levar o questionamento à coordenação. “Temos buscado uma alimentação diferenciada, até voltada para as gestantes. Nós também passamos nos abrigos diariamente e recebemos opiniões. Essa, no entanto, é uma surpresa, mas vamos avaliar para ver se podemos solucionar a questão de alguma forma”, frisou.

Comissão realizará audiência pública  na próxima sexta

A Comissão Externa promove na próxima semana, sexta-feira, 18, uma audiência pública a partir das 9h até 12h na Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR). Na ocasião, serão apresentados os resultados das avaliações.

Também serão convidados membros do Governo do Estado, Prefeitura de Boa Vista, Polícia Federal, Exército Brasileiro e comunidade em geral para discutir a questão migratória em Roraima.

“Nós entendemos que esse assunto é de alta relevância para a comunidade roraimense e também para os imigrantes. É uma situação que afeta todo mundo, tanto brasileiros quanto venezuelanos”, ponderou o coordenador, deputado Carlos Andrade. (P.C.)