Saúde e Bem-estar

Conheça os principais mitos e verdades a respeito da memória

Em meio a tantas investigações e especulações, fica difícil saber o que é realmente verdade e o que são os mitos da memória

O funcionamento do cérebro e das capacidades humanas de memorização e concentração são alvos constantes de estudos científicos e também de especulações. Seja no senso comum ou nas pesquisas científicas, sempre surgem supostas verdades sobre o desempenho da mente. Acontece que, em meio a tantas investigações e especulações, fica difícil saber o que é realmente verdade e o que são os mitos da memória.

Conheça alguns dos mitos e verdades sobre a memória:

* A capacidade de armazenamento de informações da memória é limitada

Falso. Antes acreditava-se que as pessoas nasciam com uma determinada capacidade de memorização, considerada fixa. Hoje sabe-se que se trata de uma capacidade flexível, que pode ser aprimorada por meio de técnicas e práticas. No entanto, temos um período de sobrecarga da memória e da aprendizagem. Por esta razão, é importante programar pausas entre as tarefas.

* A memória pode piorar com a idade.

Verdadeiro. Mesmo sem nenhuma doença, pessoas mais velhas costumam ter mais dificuldade em armazenar novos conhecimentos e também em lembrar-se de fatos guardados na memória. Isso ocorre porque, a partir dos 65 anos, a velocidade de processamento das informações diminui. Mas o treinamento específico e outras medidas preventivas podem minimizar o problema.

* Ter boa memória significa ser inteligente.

Não necessariamente. Memorizar muitas coisas nem sempre é sinal de inteligência, mas dificilmente uma pessoa inteligente e bem-sucedida não terá boa memória.

* Truques como amarrar um cordão no dedo ajudam a lembrar.

Não necessariamente. A memória funciona por associações. Ou seja, estamos relacionando sempre os eventos entre si para nos lembrarmos deles mais facilmente. O cordão poderá servir de lembrete para recuperar rapidamente uma determinada informação no cérebro, desde que ela esteja bem associada ao cordão. Caso contrário, a pessoa constata que tem um lembrete, mas não consegue lembrar especificamente o que fazer.

* Esquecer a chave de casa ou o lugar onde estacionou o carro é um sinal de que a memória está ruim.

Não necessariamente. Em geral, estes fatos estão ligados à distração ou à falta de organização. A falta de atenção pode levar uma pessoa a não fixar uma informação – como o piso do shopping em que deixou o carro estacionado. A pessoa só deve ficar preocupada quando isso se repete de maneira frequente.

* Quem tem boa memória aprende uma segunda língua com mais facilidade.

Verdadeiro. A capacidade de se lembrar rapidamente dos sons, do vocabulário e da estrutura do novo idioma torna o aprendizado mais fácil.

* Se não for estimulado, o cérebro perde a agilidade para memorizar de modo eficiente.

Verdadeiro. A retenção de novas informações depende do número e do fortalecimento das conexões existentes entre os neurônios, a sinapses. Estas dependem de tarefas que demandem concentração.

Algumas pessoas nascem com capacidade de memorização boa e outras não.

Verdadeiro. Mas até as pessoas que nascem com menor capacidade de memorização podem melhorá-la pela prática de exercícios e de estratégias compensatórias.

* Guardamos memórias falsas.

Verdadeiro. Lembrar coisas que não aconteceram é comum. Trata-se de mescla de memórias ou de armazenamento do que se ouviu contar, mas não se viveu.

Fonte: Ana Alvarez, doutora em Ciências e especialista em memória/ Estadão

Roberta D’Albuquerque é psicanalista, escreve semanalmente em diversos jornais do Brasil sobre infância e comportamento

Esquecidas

Há seis meses, foi encontrada em Nova York uma caixa que esteve perdida pelos últimos quarenta anos. Eram 2.924 fotografias feitas em parques da cidade no verão de 1978. Quarenta anos! Foi o tempo que ficaram esquecidas, ou melhor, que permaneceram distante dos olhos de qualquer pessoa. O que não significa que estavam esquecidas. As fotos? Sim, são lindas, comoventes. Comoventes como os verões.

Não há época do ano, para mim, que cheire mais a esperança. Especialmente, para nós, no hemisfério sul que experimentamos as viradas de ano durante a estação. É como se a partir do sol e do calor tudo pudesse mudar.

Penso em minhas recordações da infância, nas imagens de minha infância e as que estão mais nítidas em minha memória se concentram nos meses de calor. Há sempre um biquíni de babados, um picolé derretido na mão, um mar ao fundo, um banho de mangueira.

No entanto, de todas as fotografias que vi a que mais me comoveu foi a de um grupo de jovens adultos pulando corda. Brincavam em um parque, não havia crianças por perto, não o faziam para entreter ninguém, nem para acompanhar filhos ou alunos. Pareciam levar a brincadeira a sério. Divertiam-se, uns descalços, outras com saltos de plataforma baixa, havia algo de competição em seus olhares, sorrisos espertos experimentavam a sensação de se aproximar e se afastar do chão por prazer. Pulavam para eles.

Nasci no mesmo verão de 1978. Desde que vi a fotografia do grupo tenho pensado que há de pular cordas. Sejam elas quais forem. Há de fazer por nós, há de fabricar deliberadamente as próximas recordações. Tenho pensado que vale investir no que não está esquecido, ainda que esteja distante dos olhos. No que nos faz verão. Bora?
Ps: as fotos estão expostas desde o último dia 3 até 14 de junho, na Arsenal Gallery, no Central Park, e no site do The New York Times.

Artigo por Roberta D’Albuquerque