Cotidiano

Conselho de Medicina classifica saúde de Roraima como caótica

Análise foi feita com base em relatórios das visitas feitas pelo CRM no ano passado ao HGR e à maternidade

Caótica. Essa foi a classificação feita pelos Conselhos Federal de Medicina e Regional de Medicina de Roraima sobre a saúde estadual. A avaliação foi apresentada em coletiva de imprensa realizada ontem, 25, com representantes das duas entidades. A reunião contou com a presença do presidente do CFM, Carlos Vital, e da presidente do CRM-RR, Blenda Garcia, integrantes do CFM e médicos que compõem a diretoria do Conselho Regional.

Para Carlos Vital, as condições das unidades de saúde e a condição epidemiológica do Estado denotam uma situação extremamente preocupante e de urgência, conforme avaliação que fez a partir de relatórios das ações de fiscalização realizadas pelo CRM no Hospital Geral de Roraima (HGR) e no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth.

“Os relatórios são impressionantes e denotam o apoio emergencial para que possamos encontrar uma solução em curto prazo e assim minimizar este caos pela qual a saúde estadual está passando. Sabemos que a situação do país como um todo na área específica da saúde não é satisfatória, mas existem peculiaridades em Roraima que já foram superadas há décadas em outras capitais, e acredito que o ponto principal desse problema é trabalhar a questão de gestão na área de saúde”, disse.

Carlos Vital continuou: “Atendendo ao apelo do Conselho Regional de Roraima e dando sequência a nossa série de visitas aos Estados, nossa equipe está em Roraima para verificar de perto estes problemas e juntos vamos encaminhar e cobrar uma solução das autoridades estaduais e federais, do Ministério Público e do Judiciário, por se tratar da aplicação de forma eficaz e responsável dos recursos da área da saúde”.

Especificamente sobre o desabastecimento de medicamentos, Carlos Vital detalhou que é necessário desenvolver mecanismos para encontrar uma solução para esse problema, já que as empresas ganham a licitação, mas não entregam os medicamentos alegando o aumento no custo do frete e assim acabam desistindo.

O presidente do CFM afirmou ser esse um dos principais pleitos políticos que o Executivo deve encampar de forma afirmativa junto ao Governo Federal, pois não há tempo para simplesmente aguardar que uma ou outra empresa decida pelo fornecimento e envio dos medicamentos hospitalares, enquanto a população sofre por seguidos cancelamentos de cirurgias eletivas até que este estoque de medicamentos e insumos seja suprido nas unidades hospitalares.

“Existe ainda outra questão a ser verificada. Roraima é o estado com menor população do Brasil, concentrando pouco mais de 505 mil habitantes, com um orçamento considerado um dos menores do país para a saúde. Mas por outro lado na divisão per capita por ano, se registra valores acima da média. São investidos R$ 733,20 por habitante/ano, contra a média nacional, que é de R$ 502,70 por habitante/ano. Portanto, mais uma vez é de se entender que o problema está concentrado na gestão destes recursos. Com este investimento acima da média nacional, por qual razão não se tem no Estado uma saúde mais equipada com medicamentos e o acesso à população bem superior a outros Estados? Repito: tudo é uma questão de gestão que se encontra deficiente”, complementou.

Saúde está no fundo do poço,
afirma presidente do CRM

A presidente do Conselho Regional de Medicina de Roraima, Blenda Garcia, detalhou que há quase um ano a entidade enviou para os órgãos competentes um amplo relatório da vistoria realizada no Hospital Geral de Roraima, em junho de 2017, com visitas nos setores da enfermaria, administração, Grande Trauma, centro cirúrgico, UTIs, cozinha, radiologia, blocos de internação, laboratório e lavanderia, quando foram avaliados pela Comissão de Fiscalização do CRM.

“Na fiscalização, encontramos inúmeros problemas, os quais foram devidamente encaminhados para o Ministério Público de Roraima e para a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Roraima para a devida ciência. Estes, por sinal, têm sido os nossos principais parceiros na busca de soluções para este problema. Junto com o MPRR e o judiciário temos oficializado o Estado para que resolva problemas pontuais na saúde, mas nem sempre são acatadas, e assim buscamos instaurar vários inquéritos para a resolução destes problemas”, disse.

Em relação à visita do presidente do Conselho Federal de Medicina a Roraima, Blenda Garcia disse que, diante do agravamento da situação da saúde em Roraima, oficializou a presença dos integrantes do CFM, para que tivessem conhecimento do atual quadro que o Estado passa desde o agravamento dos casos de sarampo, bem como as inúmeras faltas de medicamentos e insumos no HGR, que é a principal unidade de acolhimento da população estadual.

“Temos que cobrar uma solução emergencial para Roraima, pois com a saúde no fundo do poço, não temos mais a quem recorrer. O problema é grave e, se nenhuma ação for feita pelo governo federal em atenção a este momento pelo qual estamos passando, ficaremos em uma situação de extrema vulnerabilidade na área da saúde, pior do que muitos Estados. A presença dos conselheiros federais e do presidente do Conselho Federal de Medicina reforça este nosso pedido, e esperamos uma resposta a curto tempo para este caos”, detalhou.

Médicos compram luvas e máscaras

Outra situação apresentada durante a coletiva foi o atraso do pagamento dos médicos cooperados, que está para completar um mês, e, mesmo com vários entendimentos junto ao Governo do Estado, nenhuma solução foi adotada para garantir o pagamento dos salários dentro do mês dos profissionais.

“Esta é outra situação que estamos enfrentando. Os profissionais, além de estarem submetidos a péssimas condições de trabalho, precisando comprar luvas, máscaras e outros itens de higiene para poderem trabalhar, ainda são penalizados com o atraso de seus salários. Outro dia nem sabão as unidades de saúde possuíam e foram os médicos e enfermeiros que compraram. Sem contar as gazes, fios cirúrgicos e até material anestésico que faltam nas unidades de saúde. Estamos enfrentando um dos piores momentos na saúde pública, a qual vem se agravando a cada dia. É lamentável”, disse.

Desabastecimento é atribuído
à imigração venezuelana

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) esclareceu que estão sendo adotadas ações com responsabilidade, com foco numa saúde efetiva, primando pela ética, transparência e respeito com as pessoas.

O desabastecimento nos hospitais do Governo do Estado se dá, em especial, ao súbito aumento no atendimento de estrangeiros. Por dia, entre 600 e 800 imigrantes atravessam a fronteira do Brasil. Isso resultou em aumento de 3.500% no atendimento a venezuelanos nos hospitais do Governo do Estado, e um gasto extra de R$ 70 milhões.

Informou ainda que a Sesau espera para esta semana a chegada de 25 toneladas de medicamentos em uma aeronave da Força Aérea Brasileira. Com isso as unidades serão abastecidas imediatamente e que está adquirindo outros materiais e insumos que vão garantir o bom andamento das ações de saúde.
Esclareceu, por fim, que o pagamento de servidores está seguindo o calendário reprogramado para o dia 10 de cada mês.