Cotidiano

Corpo de garimpeiros mortos em terra indígena foram carbonizados

Corpos foram carbonizados, o que possibilitou ao grupo entregar apenas fragmentos dos restos mortais ao IML para identificação

O avião que partiu domingo com a equipe destinada a resgatar os corpos dos seis garimpeiros mortos na Terra Indígena Yanomami, na região do Homoxi, Município de Alto Alegre, retornou ontem à Capital, por volta das 16h. O material colhido foi entregue ao Instituto Médico Legal de Roraima (IML). A diretora do instituto, Marcela Campelo, conversou apenas com um familiar de cada garimpeiro.

De acordo com Geraldo Lima, sobrinho de uma das vítimas, apenas cinzas e pequenos fragmentos foram encontrados. Ele afirmou à Folha, após conversa com a diretora, que o local onde os garimpeiros estavam foi incendiado e alguns tambores de óleo diesel encontrados nas proximidades pela equipe de resgate. “Não há como saber quantos corpos vieram. São apenas pequenos fragmentos. O maior pedaço que encontraram foram duas espinhas. Disseram que o fogo atingiu grandes proporções, porque até o topo de uma palmeira foi atingido e estava em cinzas. Só podemos agora esperar o resultado do trabalho dos legistas”, disse.

As famílias agora aguardam o reconhecimento dos corpos de Arthur Machado Cardoso, Leandro Rodrigues, Raimundo Oliveira dos Santos, Harisom da Silva, Hudson Fábio Monteiro, Raimundo da Silva, que foram mortos a flechadas por índios Yanomami, conforme vem noticiando a partir de relatos dos familiares e de lideranças de entidades indígenas.

Conforme informações repassadas pelo secretário-chefe da Casa Militar, coronel Nelson Silva, a equipe de resgate foi comandada por um delegado e dois peritos da Polícia Federal, um servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) e um da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), além de uma liderança indígena dos Yanomami, dois legistas do Instituto de Criminalística e um odontologista da Polícia Militar de Roraima.

“Não temos informações detalhadas sobre a situação dos corpos. O que foi encontrado já está no IML e agora precisamos esperar o resultado das análises dos peritos. O inquérito vai continuar sendo realizado pela Polícia Federal. O delegado afirmou que vai repassar todas as informações colhidas à superintendência e depois divulgar os resultados”, disse o coronel.

Segundo ele, para dar seguimento ao inquérito da PF os peritos registraram o local da chacina com imagens, vídeos e colheram provas. “A missão foi cumprida. Demos as respostas aos familiares e agora só podemos esperar o resultado dos peritos e do inquérito”, frisou.

PF – A Polícia Federal (PF) informou que vai se pronunciar através de coletiva de imprensa nos próximos dias e frisou que ainda são necessárias algumas análises antes da divulgação.

FUNAI – A Folha entrou em contato com a Funai e foi informada que um posicionamento só será dado à imprensa após a conclusão do caso e das investigações.

HWENAMA – A Folha também tentou contatar o representante da Associação dos Povos Yanomami de Roraima (Hwenama), que fez parte da equipe para auxiliar o contato e interação com os indígenas na região do Homoxi, onde ocorreu o massacre, mas não obteve resposta.

DNPM – O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em Brasília, também foi procurado pela Folha para saber detalhes sobre minérios na Terra Indígena Yanomami e sobre ações para coibir o garimpo ilegal, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria, às 18h40.

PF estima retirada de 160 Kg de ouro por mês de garimpos

Antes do avião com a equipe de resgate aterrissar em Boa Vista, a Folha entrou em contato com a Polícia Federal (PF) para saber sobre as operações de combate a garimpo ilegal em área indígena. De acordo com a assessoria do órgão, operações estratégicas com a finalidade de prevenção e repressão a diversos ilícitos na Terra Indígena Yanomami são realizadas com regularidade.

Conforme a PF, a estimativa é da retirada, de forma ilegal das áreas de garimpo, cerca de 160 kg de ouro mensalmente, o que totaliza a sonegação de aproximadamente R$ 17 milhões mensais. “Acredita-se que os financiadores do crime utilizam o ouro ilegal como ativo financeiro para lavagem do dinheiro proveniente de outras atividades ilícitas, cujas movimentações atípicas alcançam valor aproximado de R$ 1 bilhão.”

Informou ainda que, os últimos oito anos, as operações Baixo Rio Branco, Curaretinga, Escudo Dourado I e II, Xawara e Warari Koxi foram deflagradas. Para combater o garimpo ilegal, a PF conta com a parceria do Exército Brasileiro, Força Aérea Brasileira, Ministério Público Federal, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Funai e Polícia Militar do Estado de Roraima.

De acordo com a nota enviada à Folha, em todas estas operações houve prisão em flagrante de garimpeiros, destruição de balsas, apreensão de munições, armas, mercúrio, balança de precisão, rádio comunicador, gêneros alimentícios, moto-bomba, gerador, bem como a destruição de diversos acampamentos utilizados pelos garimpeiros. “Destacamos que o objetivo principal destas operações de campo é justamente a desarticulação da atividade garimpeira dentro das reservas indígenas”, frisou.

No decorrer das investigações foram identificados cinco grupos criminosos formados por aviadores, empresários ligados ao ramo de joalheria e proprietários de balsas e motores para a extração do ouro. Vários aviões foram utilizados para o transporte com o fim de levar pessoas, maquinário, alimentação, mercúrio e munição para arma de fogo.