Polícia

Corpo de piloto é encontrado três dias depois de desaparecer no Rio Catrimani

Conforme já se especulava, piloto não sobreviveu depois de ter caído da corda durante resgate feito por helicóptero da empresa

Quase 72 horas depois de cair no Rio Catrimani, durante um resgate malsucedido, o corpo do piloto Elcides Rodrigues Pereira, de 64 anos, conhecido como “Peninha”, foi encontrado por homens do Corpo de Bombeiros por volta das 10h do sábado, 17, boiando e preso às galhadas na margem do rio, já em estado de decomposição. Ele foi removido para a base da Missão Catrimani, região norte do Estado, na Terra Indígena Yanomami, no Município de Caracaraí, onde fica a pista de pouso e decolagem de aviões. De lá seguiu para Boa Vista, chegando à Capital às 16h20.

Um avião modelo Caravan, da empresa Paramazônia, pousou na pista do Hangar do Governo trazendo o corpo e parte da equipe dos bombeiros. Assim que desceram da aeronave, os envolvidos nas buscas deram entrevista à imprensa, em coletiva, para explicar as ações que culminaram na localização do corpo. “Por volta das 10h, a equipe do Corpo de Bombeiros localizou o corpo nas proximidades da Cachoeira do Poraquê, seis quilômetros do local do acidente, cinco horas de barco da Missão Catrimani”, disse o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Doriedson Ribeiro.

Segundo os bombeiros, todos os procedimentos possíveis para que a vítima fosse localizada com vida foram realizados. “Nós encaminhamos a primeira equipe para o local, às 7h do dia 15, com quatro bombeiros. E a segunda equipe, encaminhamos dia 16, às 11h, com mais três especialistas para que fosse composta uma equipe mista. Desde que iniciamos a operação, 51 horas depois conseguimos localizar o corpo do piloto”, destacou o comandante.

Outros integrantes da equipe de busca e resgate informaram que, por conta da cheia do rio, a correnteza está muito forte, o que dificultou os trabalhos. “Nós tivemos que ultrapassar algumas corredeiras fortes, onde fomos obrigados a tirar material do barco, então a complicação era grande, mas não foi obstáculo”, destacou o tenente Estevan dos Santos.

Os militares disseram que o corpo estava na superfície da água, a aproximadamente três metros da margem do rio, preso nos galhos das árvores. A operação contou com o apoio dos ribeirinhos. “O Corpo de Bombeiros fez as buscas, mas, como em qualquer ação, contamos com o auxílio de quem vive na região, dos moradores locais. O pessoal da Missão Catrimani nos deu apoio de hospedagem. Tivemos que pernoitar numa maloca indígena. O apoio da comunidade é sempre necessário”, ressaltou o tenente Estevam.

Quando questionados sobre as condições do corpo, o comandante afirmou que não estava em bom estado, mas que aguardaria o laudo do Instituto de Medicina Legal (IML), que a partir do exame emitirá parecer sobre as condições do cadáver.

A aeronave que transportava o piloto e técnico em enfermagem, que sobreviveu ao acidente, foi localizada pelos bombeiros. Foi feita a marcação do local exato onde o avião está, pois os militares disseram que está submerso a alguns metros.

Para fazer o transporte do corpo, a empresa na qual o piloto trabalhava concedeu apoio aéreo, auxiliando o Corpo de Bombeiros na missão de buscas. “Informou inclusive que a equipe do Cenipa [Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos] já foi informada e esteve no local também para fazer a averiguação com relação às circunstâncias do acidente”, acrescentou o coronel.

ALERTA – Durante a coletiva de imprensa, os especialistas em buscas, resgate e salvamento enfatizaram a importância de serem acionados nos primeiros momentos após acidentes de qualquer natureza. “A recomendação é que informe o Corpo de Bombeiros, as autoridades de emergências, para que possam fazer os primeiros procedimentos de atendimento. Logo que soubemos da ocorrência, de imediato enviamos uma equipe que iniciou as atividades no local, porque as primeiras horas são as horas mais importantes para se fazer o salvamento. Então, o quanto antes os bombeiros forem informados é melhor para fazermos o salvamento e o resgate das pessoas”, frisou o comandante.

REMOÇÃO – A família foi informada pelos bombeiros sobre a localização do corpo ainda na tarde de sábado. Uma equipe do IML fez a remoção do corpo do hangar até sua sede, onde passou por exame cadavérico. Devido ao tempo em que o corpo estava na água, a identificação não foi imediata. Um dos peritos do Instituto iniciou os trabalhos de identificação e conseguiu comparar as impressões digitais da vítima com as que estavam no sistema, confirmando horas depois que o corpo era mesmo do piloto.

A família fez a liberação às 20h, ainda do sábado. O corpo foi enterrado no fim da tarde de ontem, 18, depois de um cortejo que saiu da Igreja Batista Memorial, no bairro Tancredo Neves, zona oeste, até o Cemitério Campo da Saudade, no bairro Centenário, também zona oeste de Boa Vista.

ACIDENTE – Um vídeo gravado pelo técnico em enfermagem Ednilson Cardoso, de 28 anos, que estava junto com o piloto no momento do pouso forçado nas águas do rio, mostra os últimos contatos que “Peninha” fez pelo rádio. Na ocasião, ele avisou que iria pousar no Rio Catrimani e que desligaria o motor da aeronave. O registro feito pelo técnico tem pouco mais de um minuto e meio e encerra assim que o avião toca a água.

O pouso forçado foi na quarta-feira, 14, por volta das 15h. No avião estavam o piloto e um técnico de enfermagem, que seguia para trabalhar na missão de atendimento aos indígenas. A aeronave pertence à empresa de táxi aéreo Paramazônia. Um helicóptero da própria empresa tinha sido enviado até o local para resgatar os passageiros, mas somente o técnico chegou a Boa Vista. No resgate, o piloto acabou caindo no rio e desaparecendo nas águas.

A Missão Catrimani ainda aguardava um relatório da empresa responsável pela aeronave para saber detalhes sobre o acidente e posteriores apurações. No dia do acidente, a Folha tentou contato com a empresa Paramazônia, mas as ligações não foram atendidas. (J.B)