Cotidiano

Cresce participação de crianças e adolescentes no crime organizado

Atualmente, o CSE possui 84 internos e roubo é o principal ato infracional cometido por eles em Roraima

A entrada de crianças e adolescentes no mundo do crime tem aumentado em Roraima, sobretudo no tráfico de drogas. Segundo a titular do Dopes (Departamento de Operações Especiais) da Polícia Civil, delegada Eliane Gonçalves, a maioria deles está sendo cooptada por chefes do crime organizado que são internos no sistema prisional roraimense. O objetivo é que essas crianças e adolescentes deem continuidade ao tráfico de drogas fora das unidades prisionais.

“Conseguimos perceber um aumento considerável, nesses dois últimos anos, crianças e adolescentes que passaram a integrar com mais ênfase o crime organizado. Eles passaram a ser companheiros das grandes “cabeças” do crime no estado. Primeiramente eles eram cooptados para assumir a culpa de quem era maior de idade. Ficavam um tempo detidos e eram liberados. De uns tempos para cá, isso foi mudando. Pessoas que estão presas e com penas significativas, sem esperança de sair, estão cooptando esses adolescentes para que pratiquem os delitos no lugar deles, principalmente relacionados ao tráfico de drogas”, relatou.

Ainda segundo a delegada, esses meninos e meninas passam antes por uma espécie de “iniciação” e, em seguida, são inseridas no crime organizado. “Eles chamam de ‘batismo’. Para isso, ganha um número e um apelido do apenado e é colocado depois para ‘trabalhar’, coordenados pelos criminosos de alta periculosidade. Mas muitos não pensam é que isso se torna um problema para o resto da vida. Essa criança ou adolescente já vai ter passagem pela Polícia, já vai ser identificado e ter o nome comprometido, digamos assim”, observou.

Mas, segundo dados da Setrabes (Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social), atualmente no CSE (Centro Socioeducativo Homero de Souza Cruz Filho) a quantidade de internos, entre 2015 e 2016, vem se mantendo dentre da média de 80 socioeducandos. Hoje o número exato é de 84 infratores cumprindo medidas socioeducativas.

E com intuito de amenizar o problema, a delegada Eliane Gonçalves garantiu que o Dopes está trabalhando na identificação dos apenados que cooptam esses meninos e meninas para o mundo do crime. “Identificando esses criminosos, podemos evitar que essas crianças e adolescentes tenham o futuro comprometido”, destacou.

O apelo da delegada para que esse número no mundo do crime não permaneça em crescimento é “abrir os olhos” dos pais e responsáveis. “É um apelo mesmo. Sabemos que a lei que trata sobre crianças e adolescentes é bastante benéfica, pensando em ‘recuperar’ realmente o infrator menor de idade, talvez por isso a maioria hoje é reincidente. Pedimos que os pais fiquem atentos quanto à educação, cuidados, segurança e instrução”, alertou.