Cotidiano

Crise na Venezuela favorece aumento da exportação de gêneros alimentícios

Mesmo que a Venezuela seja suspensa do Mercosul, a tendência é que as exportações para o país vizinho continuem subindo

As exportações de gêneros alimentícios de Roraima para a Venezuela somaram aproximadamente US$ 3,7milhões em julho de 2017, o maior valor já registrado para o mês de julho. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 386%. Já em comparação com junho de 2017 o crescimento foi de 96%. Mesmo com a crise que o país vizinho está passando e com a reiteração do acordo entre Brasil e Paraguai de suspender a Venezuela do Mercosul, a tendência é que as exportações para o país continuem subindo.

Após reunião entre o presidente brasileiro Michel Temer (PMDB) e o Presidente do Paraguai, Horacio Cortes, ocorrida na segunda-feira, 21, os dois mandatários divulgaram um comunicado conjunto em que reafirmam o pleno acordo com a decisão de suspender a Venezuela do Mercosul, reiterando a importância da vigência das instituições democráticas como condição essencial para a permanência no bloco econômico.

Mesmo com a iminência da saída do país vizinho do bloco, a tendência é que as exportações de arroz e açúcar de Roraima continuem subindo, assim como as exportações de carne e de outros gêneros alimentícios de outros estados brasileiros para a Venezuela.

Segundo o coordenador de estudos da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento de Roraima (Seplan), Milton Nascimento, a comercialização entre o estado roraimense e a Venezuela não sofrerá qualquer impacto, já que é um “comércio natural” entre os dois países. “Os venezuelanos entram em Roraima com caminhões e adquirem grande quantidade de produtos dos mercados da região, principalmente gêneros alimentícios, devido à crise que o país está passando”, afirmou.

Um estudo divulgado pela Seplan, na semana passada, mostra que o crescimento das exportações no mês de julho deu-se pela elevação acentuada nas exportações de arroz e de açúcar para a Venezuela, tendo vendido para o país vizinho US$ 1,5milhões em arroz e US$ 1,4 milhão em açúcar. Os dois produtos somados representaram 79% de tudo o que foi exportado no mês de julho. Além destes dois produtos, destacou-se na pauta de exportação de julho o óleo de soja, com US$ 301 mil, também tendo como destino a Venezuela, e a madeira com US$ 190mil, com destino a Holanda e a França.

SUPERÁVIT – Em relação ao saldo da Balança Comercial, que se refere à diferença entre as exportações e as importações no período, observou-se que, em julho, o saldo ficou superavitário em aproximadamente US$ 3 milhões. No acumulado de janeiro a julho de 2017, este valor chega a cerca de US$ 7,3 milhões. “A nossa balança sempre foi positiva, mas estes números nos surpreenderam positivamente. Foi além da nossa expectativa”, comentou o coordenador.

Roraima não sofrerá impactos, avalia professor de Relações Internacionais

O professor do Núcleo de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Gustavo Simões, avaliou que a saída da Venezuela do Mercosul não gerará impactos na relação com Roraima. “A Venezuela já está suspensa do Mercosul desde dezembro do ano passado, e o país nunca foi membro pleno do bloco, já que nunca internalizou os acordos internacionais, mas isso tomou novos rumos este ano, com a ruptura da ordem democrática do país. Porém, Brasil e Venezuela têm acordos bilaterais de fronteira, e isso não deve ser afetado”, afirmou o professor.

Segundo ele, as questões econômicas e de desburocratização de acessos entre os dois países não deverão sofrer grandes impactos, assim como a importação da energia elétrica utilizada em Roraima. “A grande imigração de venezuelanos para o Brasil é causada por outros motivos, os mesmos inclusive que ocasionaram a suspensão da Venezuela do Mercosul, como a grande crise econômica, financeira e democrática que o país vizinho atravessa”, complementou. (R.D.)