Cotidiano

Dependentes continuam no Beiral

Moradores da área pedem mais ação policial ou projetos que atendam as pessoas que continuam ali

Desde agosto do ano passado, mudou o cenário no bairro Caetano Filho. A prefeitura indenizou e retirou a maioria dos moradores e ali pretende construir o Projeto Rio Branco. No passado, a área conhecida como “Beiral”, ganhou fama por ser ponto de venda de drogas e prostíbulo de baixa categoria.

Após a demolição da maioria das casas, lá não estão apenas as ruínas. Encostada em muros e nas sombras das árvores é possível observar a degradação da pessoa humana, materializada em dependentes químicos.

Eles estão sempre por ali. A equipe de reportagem da Folha esteve lá. O consumo de drogas deixou de ser oculto pelas paredes das casas de madeira e becos escuros. Agora, é escancarado, em plena luz o dia!

Os indivíduos perambulam por ali, sozinhos ou em grupos, e, aparentam completa alienação. Quase todos têm a mesma silhueta: corpos esquálidos, vestidos em roupas puídas e sujas.

Normalmente, dormem no chão, sobre caixas de papelão, junto a animais de rua. Vasculham cestos de lixo a procura de comida e de latas. As latas de alumínio eles vendem para arrumar um trocado. 

A situação preocupa moradores e comerciantes das proximidades. A dona de um mercado, que preferiu não se identificar, se sente insegura e diz que nada melhorou desde que as aproximadamente 240 casas indenizadas foram demolidas.

“Nunca chegamos a ser assaltados. Fora isso, não melhorou muita coisa. Diz que vão cercar aí, mas até agora nada. Tem que ter mais polícia rodando. Projeto social não dá jeito”, afirmou a comerciante.

Pensa diferente a estudante Nilcilene Guedes, de 19 anos. Ela passa diariamente pelo centro da cidade, seja por conta do terminal de ônibus ou para fazer alguma compra na Jaime Brasil. A reportagem falou com ela enquanto almoçava em um quiosque, com a família que mora no interior.

Para a jovem, a criação de um projeto de ajuda aos dependentes químicos é uma forma de solucionar o problema e fazer com que as pessoas tenham chance de recomeçar a vida.

“Acho que deveria haver alguma forma de retirar essas pessoas dessa situação. Uma ação que os ajudasse, tipo os alcoólicos anônimos. As pessoas que estão aqui ficam perambulando. A gente não sabe a índole delas. Pode ter gente ruim, mas pode ter gente boa, capaz de se recuperar. Tem que ter alguma coisa. Não só demolir as casas, mas também ajudar”, declarou.

Estado e Município dizem trabalhar por dependentes

Para o dependente químico ou familiar de usuário que desejem buscar auxílio, existem opções no Estado. Comunidades terapêuticas, como a Casa do Pai, Fazenda Esperança e Alto Refúgio, oferecem serviços de ajuda para abandono do vício. Também é possível buscar assistência na rede municipal e estadual.

No entanto, a maioria das organizações não governamentais sofre com falta de apoio, recursos financeiros e reduzido número de vagas frente à alta demanda.

A Secretaria Municipal de Gestão Social informou que realiza intervenções semanais em vários pontos de Boa Vista, inclusive no Beiral. A equipe tenta se aproximar para fazer os encaminhamentos por meio do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas).

Com relação ao atendimento feito pelo governo, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) ressaltou que a busca ativa de moradores com transtornos mentais e/ou usuários de álcool, crack e outras drogas, é atribuição do município.

As atividades, segundo a Sesau, devem ser no local, de forma itinerante, em ações compartilhadas e integradas às Unidades Básicas de Saúde (UBS) e, quando necessário, com equipes dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), dos serviços de Urgência e Emergência e outros pontos de atenção, conforme a necessidade do usuário.

Nos casos de busca voluntária por tratamento de transtornos ligados ao consumo de álcool e outras drogas, o Estado oferece para a população atendimento no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (o Caps AD 24h), na Rua Sócrates Peixoto, 138, Jardim Floresta.

Há também a Unidade de Acolhimento, que recebe pacientes encaminhados pelo Caps AD, sendo dependentes químicos maiores de 18 anos, de ambos sexos, que se encontrem em sofrimento psíquico com necessidade de cuidado específico e prolongado.

“Já em situações de crise, as pessoas são conduzidas ao Hospital Geral de Roraima (HGR) e depois de saírem do surto, seguem o tratamento no Caps”, pontuou a nota da Sesau. (P.C)

Governo confirma ações de combate ao tráfico

Quanto às manifestações de insegurança por moradores e comerciantes, por meio de nota a Secretaria de Comunicação do Estado informou que as forças policiais atuam na área combatendo o tráfico de entorpecentes e ilícitos de qualquer natureza.

Diz a nota, que a Polícia Militar de Roraima (PMRR) realiza o policiamento ostensivo e repressivo por meio de rádio patrulhamento naquela área, como nos demais bairros da Capital.

No mesmo bairro do Beiral, está a sede do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), integrado pelas companhias especiais: Força Tática, Choque, Canil e Grupo de Intervenções Rápidas Ostensivas (Giro), o que em tese facilita a atuação.

“O poder público está engajado na promoção da segurança de toda a população. Em específico e de forma mais intensa, nas áreas onde a criminalidade é mais acentuada, de acordo com dados oficiais”, informa.

DENUNCIAR – No caso de alguém observar alguma ilegalidade ou ser abordada a recomendação é: acionar a polícia. O Estado ressalta que essas denúncias são essenciais para elaboração do plano de combate à criminalidade.

“De acordo com estatísticas e denúncias da população, são organizadas operações pontuais, com o objetivo de coibir qualquer atividade ligada ao crime ou que afetem a ordem pública de um modo geral”, frisou o governo.

A nota também afirma que o número de ocorrências na área diminuiu consideravelmente após a retirada das famílias para a implantação do projeto de revitalização. Mesmo com a queda, porém, ainda há registros de crimes. Os com maior incidência na região e adjacências são furto, roubo e ações ligadas ao tráfico de entorpecentes.

PMBV – Sobre o assunto, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Trânsito apenas informou que a segurança pública, que inclui o combate ao tráfico e furto, “é uma responsabilidade do Governo do Estado”. (P.C)

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