Política

Deputados de oposição suspeitam de manobra política em invasão de terras

Durante o debate na Assembleia, os deputados governistas abandonaram o plenário

A ocupação de uma área particular na entrada do município do Cantá, logo após a ponte dos Macuxi, sob o comando da Federação das Associações dos Moradores do Estado de Roraima (FAMER), foi alvo de discussões ontem, 4, na Assembleia Legislativa. Os deputados de situação, pertencentes ao grupo governista, abandonaram o plenário durante a implantação da CPI das terras (ver página 6A) e os deputados do G14, grupo de oposição ao governo, aproveitaram a oportunidade para afirmar que a ocupação seria uma manobra política.

A suspeita ocorre por conta das características que envolvem a ocupação como a quantidade de veículos automotores que circulam no local, sendo alguns de manutenção considerada cara, portanto, incompatível com a realidade de quem realmente precisa de um teto.

O deputado George Melo (PSDC), ao usar a tribuna nesta terça-feira, 4, disse que essa ocupação pode ser uma manobra para tirar o foco das questões mais urgentes. O deputado Janio Xingu (PSL) também usou a tribuna para questionar o que ele classificou como “invasão do Cantá”. “O município foi invadido por mais de 10 mil pessoas, mas o que me causa estranheza é que eu nunca vi tanto carro de luxo na vida. Isso é tudo premeditado”, protestou.

O parlamentar Marcelo Cabral (PMDB) se uniu às discussões e disse que a Assembleia Legislativa tem um papel fundamental em situações como esta. “Se instalaram lá mais de quatro mil famílias. Mas não tem estrutura nenhuma para essas pessoas. Isso é um absurdo, vamos fiscalizar. Fui a favor da CPI que irá investigar, para apurar as pessoas que estão criando e manipulando as invasões em Roraima”, concluiu Cabral.

Para o deputado Joaquim Ruiz (PTN), na área invadida não há pobreza e que parece mais um jogo político. “Se analisarem na mídia local, vão ver que o cidadão que está à frente dessas invasões é o mesmo”, alertou.

Ruiz disse ainda que é importante, sim, apurar para identificar os responsáveis pelas invasões de terras privadas, e que se o Governo “for indenizar aqueles ali, estará cometendo uma desfeita com o Estado de Roraima, que precisa melhorar a  saúde e a educação e não abrigar bandido comandando invasão”, criticou.

Mecias de Jesus afirma que instalação de CPI pode solucionar questões agrárias em Roraima

O presidente da Comissão de Terras da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE/RR), deputado Mecias de Jesus, reiterou ontem, 4, que em hipótese alguma incentiva, estimula ou autoriza movimentos de ocupação de áreas que, atualmente, têm se tornado um problema para a administração pública no Estado.

Ele refutou as informações difundidas de que estaria apoiando a ocupação da área, localizada em frente ao Haras Cunhã Pucá, no município do Cantá. Isso porque na segunda-feira, 3, o deputado esteve pessoalmente no local, juntamente com o deputado Soldado Sampaio, onde foi constatado que se trata de propriedade particular.

“Estão tentando de forma covarde me incluir nisso. Eu estive no local não para autorizar, concordar ou avalizar. Mas para verificar a situação e debater na Comissão de Terras, da qual sou presidente e que tem a atribuição de acompanhar, de saber tudo que se passa com relação às terras do Estado”, disse.

“Além disso, foi proposta a CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] na ALE, o que torna desnecessária a reunião que seria realizada pela Comissão de Terras, uma vez que a CPI tem muito mais autoridade e autonomia para investigar e verificar tudo que estiver relacionado ao tema”, complementou.

Mecias foi enfático ao afirmar a necessidade de debate sobre o tema e que a instalação de uma CPI poderá trazer a solução para as questões agrárias. “E a Comissão de Terras da Casa faz questão de estar presente nas discussões para que se busque a solução definitiva, de forma a evitar conflitos como ocorrem em outras regiões do país”, declarou.

“Nossa preocupação é com o caos social que uma ocupação com mais de dez mil pessoas pode trazer. Eu defendo o direito de propriedade, mas o Governo do Estado precisa buscar uma solução para centenas de pais e mães de família que não têm um teto pra morar”, finalizou.