Política

Eleição é marcada por protesto e indícios de irregularidades

Demora na divulgação do resultado da eleição levou indígenas a interditar o aeroporto de Santa Elena

As eleições municipais da Venezuela aconteceram no domingo, 11, e foram marcadas por um sério descontentamento político, falta de opositores e vitória maciça de representantes do Partido Socialista Unido (PSU), sigla do presidente Nicolás Maduro. Em Santa Elena de Uairén, localizada na fronteira com o Município de Pacaraima, houve demora na divulgação dos dados do candidato eleito, contrário à Maduro, o que causou protestos no aeroporto local e até o sequestro de um major do Exército Boliviano.

De acordo com informações da jornalista Nadja Bastos, o comerciante Emilio Gonzalez, do partido Independente Para o Progresso (IPP), foi eleito em Santa Elena com uma média de 35.04% dos votos com um total de 2.471 votos, contra 34.37% dos votos com um total de 2.424 votos para o segundo candidato, José Martinez, do PSU, mesmo partido de Maduro. Emílio é nascido na Venezuela, de mãe venezuelana e pai brasileiro, indígena da etnia Pemon Taurepang.

Ao final do processo eleitoral, no entanto, houve atraso na divulgação do resultado dos votos pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE), responsável pelo processo no país. Normalmente, tal qual o Brasil, a informação é repassada aos eleitores no final do dia da eleição ou, no mais tardar, no início da manhã do dia seguinte, por conta da extensão territorial da Gran Sabana.

“É um pouco difícil que o resultado saia no mesmo dia. Ele pode sair no final da noite, na madrugada, no mais tardar no início da manhã porque é um local muito grande, com muitas comunidades indígenas, que só se chega por helicóptero ou avião. Então, é muito difícil que o material chegue com rapidez. O resultado era para ser passado no máximo de madrugada ou ontem de manhã, mas, os eleitores temiam que o CNE tomasse a prefeitura da mão de Emilio”, relatou Nadja.

Com a demora da divulgação do resultado, o momento causou preocupação aos eleitores de Gonzalez, a maioria de etnia indígena, que temiam uma tentativa de burlar o sistema e evitar com que o comerciante assumisse o cargo. Por conta disto, um grupo de indígenas se reuniu na manhã de ontem, 11, em diversos pontos estratégicos em Santa Elena, na entrada da sede do Exército, do CNE e na pista do aeroporto da cidade, impedindo o tráfego de aeronaves, como forma de protesto.

Os indígenas estavam usando camisetas de apoio a Gonzalez e com os rostos pintados. Um major do Exército Bolivariano da Venezuela chegou a ser sequestrado por indígenas e ficou refém por seis horas dentro do aeroporto, até se chegar a um acordo e ele ser liberado. “Depois do aeroporto, o grupo de manifestantes seguiu até a entrada do Exército, quando o governador do Estado Bolívar chamou Emilio para conversar, entrar em um acordo. Se o Estado Bolívar não entregasse para ele a prefeitura, todos os índios que estavam ali, que estavam na cidade e em frente do aeroporto iam fazer uma grande guerra civil”, disse Nadja.

“Depois que Emilio saiu do Exército e começou a chegar perto da população, pediu calma e informou que ele ia ser proclamado o prefeito de Santa Elena. O problema é que até agora o CNE ainda não entregou oficialmente os papéis para Emilio assinar como o prefeito”, completou.

Nadja avaliou que, a vitória de Gonzalez só foi possível por conta dos eleitores indígenas, descontentes com o regime de Nicolás Maduro, que conseguiram fazer com que o resultado da eleição fosse diferente do restante do país. “Dentro do regime madurista, eles ganharam quase todas as prefeituras dos estados da Venezuela e essa é a última que eles não conseguiram ganhar, por conta dos índios. Os índios tomaram a frente e foram contra, conseguiram que isso chegasse a um ponto final, lutando pelos direitos deles. Então, o senhor Emilio Gonzalez ganhou em Santa Elena e foi evitada uma guerra civil entre indígenas e a Guarda Nacional”, concluiu. (P.C)