Polícia

Em 2016, DDIJ registrou 28 casos de menores envolvidos com tráfico

Em 2016, foram 28 Boletins de Ocorrência Circunstanciada lavrados contra menores envolvidos com tráfico de drogas no Estado. Os registros foram feitos pela Delegacia de Defesa da Infância e Juventude (DDIJ), setor da Polícia Civil de Roraima. No Conselho Tutelar Municipal de Boa Vista, no bairro Buritis, zona Oeste, são crescentes os registros de crianças e adolescentes vendendo e consumindo entorpecentes.

A conselheira tutelar, Antônia Batista, disse que recebe muitas demandas dos bairros Nova Cidade e Bela Vista, além do conjunto Pérola, no bairro Airton Rocha, todos na zona Oeste. Elas envolvem principalmente crianças de 7 e 8 anos de idade que atuam como “aviões” – pessoas que transportam a droga até o comprador e depois levam o dinheiro para o traficante.

O tóxico mais vendido pelas crianças e adolescentes é a pasta base de cocaína, que também é a mais consumida pelos atendidos no Conselho Tutelar. Segundo Antônia Batista, eles acabam experimentando o produto entregue pelos traficantes para serem comercializados.

Oriundos de famílias de baixa renda, eles costumam ser filhos de mães muito jovens, na casa dos 20 anos, muitas vezes morando somente com elas. Antônia Batista afirmou que eles passam muito tempo sozinhos enquanto seus responsáveis trabalham. É a oportunidade para se relacionarem com colegas da mesma faixa etária, já envolvidos no mundo do tráfico. Isso quando alguém de dentro da família já não é usuária e influencia o menor. Acontece ainda de os próprios pais consumirem drogas dentro de casa ou serem ex-usuários.

“Geralmente os pais só procuram o Conselho Tutelar quando os filhos já estão há um ou dois anos envolvidos no mundo das drogas. Há aqueles que têm histórico de uso e não querem o mesmo para seus filhos, vindo até nós. Percebo que os pais não estão mais conseguindo impor limites. A maioria das crianças estuda, mas há as que desistiram da escola porque os pais não conseguem mais obrigá-las a frequentar as aulas”, relatou.

ORIENTAÇÃO – É inclusive a escola quem mais leva a conhecimento do Conselho Tutelar Municipal que há adolescentes e crianças usando e vendendo entorpecentes. A também conselheira tutelar Dulce Leila disse que recebe muitos relatórios de desempenho de colégios atestando o mau comportamento dos seus alunos.

Quando a entidade visita as famílias dos estudantes, descobre que os seus pais não sabiam da prática do filho ou eles mesmos já precisavam de ajuda para lidar com a rebeldia dos jovens. Mas há os casos em que os próprios pais procuram o Conselho desesperados.

“Recentemente, uma mãezinha ligou pedindo para irmos à casa dela porque seu filho de 8 anos a agredia. Houve outra que veio aqui e deu um relato muito forte: seu filho de 15 anos, enorme, mais forte do que ela, estava drogado e a agredindo. Ela, sem saber o que fazer, me confessou que pensou em pegar uma faca e atingi-lo. A que ponto chegou hoje o relacionamento de um filho com uma mãe? Onde está a autoridade? Hoje os pais têm medo dos filhos”, lamentou Dulce Leila.

O acolhimento é feito pelo Conselho Tutelar, que orienta as famílias e encaminha os jovens aos psicólogos do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS-AD) e dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) dos bairros. Menores de 12 anos só podem ficar nestes três lugares devido ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Mais velhos do que isso são alvos de Boletins de Ocorrência na Delegacia de Defesa da Infância e Juventude. Eles não chegam a ser encaminhados ao Centro Socioeducativo (CSE) porque o crime de tráfico de drogas não é considerado violento, de acordo com o ECA.

A respeito de ações educativas do Conselho Tutelar, Dulce Leila disse: “No momento, não temos nenhum projeto elaborado para essa área, até porque geralmente nós é que somos convidados pelas escolas. Mas estamos considerando fazer algo, porque as drogas tomaram conta dos nossos jovens. A situação é muito triste”. (NW)