Cotidiano

Entidades divulgam carta aberta contra manifestações xenófobas

Documento discorda dos protestos contra venezuelanos presentes em alguns municípios de Roraima e na internet

Quarenta e cinco entidades representantes da sociedade civil organizada assinaram uma carta aberta e se posicionaram publicamente sobre a questão migratória e as manifestações contra venezuelanos em Roraima. A carta foi apresentada à imprensa no Salão Nobre da Prelazia da Diocese de Roraima e contou com a presença de representantes das entidades, entre elas, organizações não governamentais, sindicatos, grupos religiosos, conselhos e partidos políticos.

O documento assinado e apresentado pelas entidades manifesta inicialmente agradecimento e apoio da população ao trabalho desenvolvido pelas entidades, mas também discorda das manifestações xenófobas que vem se intensificando a cada dia nas cidades do Estado e na internet, por meio de aplicativos e redes sociais. “É preocupante que, diante de uma situação de emergência e de fragilidade extrema, pessoas e grupos fomentem e promovam o ódio aos imigrantes e àqueles e àquelas que se dispõem a ajudá-los em sua luta diária pela sobrevivência”, diz trecho da carta.

O documento reivindica ainda respostas e ações coordenadas das três esferas governamentais, de ordem federal, estadual e municipal e cita omissão do poder público diante da situação em que milhares de pessoas se encontram sem atenção às suas necessidades básicas.

As entidades acreditam que a falta de alimentação, abrigo, medicamento e segurança não pode mais continuar e que a ausência de iniciativas humanitárias eficientes por parte dos poderes públicos não podem mais alimentar um ambiente de incerteza e medo na sociedade local, que acreditam contribuir para o surgimento de comportamentos xenófobos e de incitação à violência.

“Muitas coisas que estão aflorando com a presença dos migrantes é uma evidência daquilo que já estava faltando aos brasileiros e que agora aparece com mais nitidez”, afirmou o bispo da Diocese de Roraima, Dom Mário.

DEMAIS AÇÕES – Além da carta aberta, as entidades reforçaram que vão continuar seu trabalho de promoção de ações de solidariedade e cidadania, além da elaboração de recomendações e acompanhamento de fiscalização dos órgãos de controle do Estado.

“Vamos fortalecer também um trabalho em rede com as nossas comunidades, sobretudo, na questão do acolhimento e de ajuda na documentação dos imigrantes e outros serviços que nós temos estrutura para realizar. Junto disso, vamos pleitear aos órgãos públicos tudo aquilo que é dever e competência dos nossos governantes para melhor atender aqueles que vêm até nós”, completou Dom Mário.

A Irmã Telma, presidente do Centro de Migrações e Direitos Humanos (CMDH), reforçou a importância de não só buscar culpados, de apontar erros no poder público venezuelano e se preocupar somente com índices que apontam o impacto nos serviços públicos de educação e saúde.

“Se fala muito em índices, mas se esquecem que esse número representa a história de uma pessoa. Uma pessoa de 60 anos que morre de desnutrição no nosso país estando aqui há mais de um ano é uma responsabilidade nossa e não do governo venezuelano. Só podemos gerenciar da fronteira para cá e a nossa humanidade não pode permitir que pessoas continuem sendo desumanizadas, humilhadas e tendo seu direito retirado, como estão”, disse.

O profissional em telecomunicações Eliseu Dias é venezuelano e chegou a Roraima há seis meses. Ele comentou que a ação é positiva para que o brasileiro abra os olhos e enxergue a situação dos imigrantes que deixam tudo para trás ao sair do seu país de origem. “Tem que entender que a pessoa deixa a família, deixa a comodidade que tinha. É difícil para uma pessoa que mora no Brasil vencer na vida, mais ainda quando tem as portas fechadas. Tem que se entender que nem todo o povo venezuelano é ruim, tem muitas pessoas capacitadas, com experiência e que podem servir para ajudar o povo brasileiro também”, comentou.

 PROTESTO EM MUCAJAÍ 
Suposto pastor não é filiado à Ordem dos Ministros Evangélicos

O pastor Elton Souza, presidente da Organização dos Ministros Evangélicos do Estado de Roraima (OMERR), aproveitou o momento para questionar o envolvimento de um suposto pastor evangélico na manifestação ocorrida no início da semana no Município de Mucajaí. O presidente afirma que a OMERR não reconhece o homem em questão como pastor do município.

Segundo o presidente, logo que a informação chegou à OMERR e à Ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil, os membros entraram em contato com o Conselho de Pastores de Mucajaí, que disse não reconhecer o homem em questão e que o suposto membro não é filiado à ordem dos pastores. A mensagem repassada é que a multidão presente na manifestação foi quem intitulou um dos organizadores como pastor.

“Acredito que por precisar de uma voz presente, ativa, alguém começou a dizer e chamar de pastor e assim se foi. Mas, nem os pastores tradicionais de Mucajaí, tão pouco a Ordem, reconhecem a pessoa em questão como pastor”, afirmou. “Jamais a OMERR e a OMEB deixariam de aplicar uma medida disciplinar muito séria, caso se caracterizasse como um pastor dentro das nossas associações. Deixamos claro que foi um ato isolado de uma pessoa que intitularam como pastor”, concluiu Elton. (P.C)