Política

Especialista diz não haver solução para crise e imigração vai agravar

Nos últimos dois anos o número de venezuelanos em Roraima cresceu desproporcionalmente. Segundo dados oficiais, cerca de 80 mil estrangeiros passaram pelo Estado neste período, e deste total, cerca de 50 mil decidiram e estão à procura de emprego, fugindo das graves consequências da crise política e econômica no país vizinho. Em entrevista ao programa Agenda da Semana, na Rádio Folha AM 1020, o doutor em ciência política da Universidade Federal de Roraima, Cleber Batalha, afirmou que a situação tende a piorar e que a crise está apenas no começo. 

Conforme Batalha, o maior desafio do Brasil é acolher os imigrantes, na sua maioria sem qualificação. “Para o governo venezuelano, retirar da sua agenda a geração de emprego para este povo é um alívio e acaba passando a responsabilidade para países vizinhos como Colômbia e Brasil, que até então não estavam preparados para receber essa demanda”, explicou.

Boa parte dos imigrantes que optam pelo Brasil não tem ensino superior ou alguma qualificação. Aqueles com mais condições acabaram imigrando para países como: Canadá, Espanha, Argentina, Panamá, entre outros.

“Em Roraima estamos recebendo os indesejados, aqueles que para o governo são problema. A posição que o Brasil tem que adotar é de acolher essas pessoas da melhor forma possível”, disse.

O acolhimento, que hoje é feito pelo Governo do Estado e instituições sem fins lucrativos, é de responsabilidade do Governo Federal. “Há mais de dois anos Roraima vem pedindo apoio da Presidência para sanar este crescente problema. A imigração colaborou para o aumento da demanda de serviços públicos e a quantidade de pessoas vivendo nas ruas. Qualquer abalo político na Venezuela terá reflexos em Roraima”, pontuou.

Ele lembrou que a crise é resultado de uma mudança no modelo político econômico do país vizinho, iniciado em 1999, quando Hugo Chávez assumiu a presidência. “Eles estão saindo do capitalismo para o socialismo e as consequências disso não são imediatas, mas de longo prazo. A chance de mudança está nas eleições, porém isso não deve acontecer, uma vez que Nicolás Maduro tem grandes chances de se reeleger”, lamentou.

Com a reeleição de Maduro, o processo de estatização deve continuar e tomar ainda mais força. “Eles utilizam um modelo que foi falho em vários países. Em alguns lugares chamam de comunismo, em outros de socialismo, mas a verdade é que ele não funciona. As ameaças de embargo por parte dos Estados Unidos não devem interferir o andamento deste processo. A Venezuela está deixando de depender deles para depender da China, Rússia e Cuba”, disse.

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