Política

Ex-gerente da Petrobras é preso pela PF em Roraima na Operação Paralelo

Roberto Gonçalves está sendo acusado de receber propina de uma empresa que fez doação para a campanha do senador Jucá

Uma ação da Polícia Federal cumpriu mandado de prisão contra o ex-gerente da Petrobras, Roberto Gonçalves, que estava em Roraima. O mandado foi parte da 39ª fase da Operação Lava Jato e prendeu preventivamente Roberto, que é acusado de movimentar US$ 5 milhões em propinas recebidas em offshore no exterior por empreiteiras do esquema de corrupção da Petrobras. 

Entre os beneficiários desse esquema de corrupção, segundo o Ministério Público Federal, estão senadores peemedebistas. Por terem foro privilegiado, seus nomes não foram divulgados.

Gonçalves foi detido pouco antes das 10h em uma residência em Boa Vista. Ele era procurado no Rio de Janeiro, onde ocorreram as ações de busca e apreensão. Segundo a PF em coletiva com a imprensa, ele visitava familiares na Capital e não haveria indícios de que estivesse tentando escapar de um pedido de prisão.

Batizada de Paralelo, a nova fase também mira o uso do mercado clandestino de valores para pagamento de propinas. As autorizações para cumprir os mandados foram expedidas pelo juiz Sergio Moro, responsável pela operação no Paraná.

Segundo os procuradores, a nova fase da Lava Jato demonstra uma “progressão” na coleta de informações pela investigação e demonstra que “ainda há muito a ser investigado” na Petrobras. “Busquem, por meio de um acordo de colaboração premiada, acertar sua situação com a Justiça”, afirmaram.

Gonçalves, que já havia sido alvo de um mandado de prisão temporária no final de 2015, mas foi liberado à época por falta de provas mais contundentes de sua participação no esquema, deve chegar à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba nesta quarta-feira, 29.

O nome Paralelo é uma referência à atuação clandestina da corretora, “à margem dos órgãos de controles oficiais do mercado financeiro”, de acordo com a PF.

OUTRO LADO – O advogado de Roberto Gonçalves, James Walker Júnior, afirmou que seu cliente nunca foi apadrinhado de nenhum político ou partido na Petrobras. Segundo ele, Gonçalves era funcionário de carreira da estatal e que todos os cargos que ocupou na empresa foram devido ao seu esforço pessoal e à sua condição de “engenheiro com formação no exterior”.

Ele afirmou que foi surpreendido com a decisão da prisão e que seu cliente se encontrava visitando parentes de sua mulher, em Roraima. O advogado não quis comentar as informações específicas divulgadas pela força tarefa da Lava Jato, por não ter tido ainda acesso às peças no processo que justificaram o pedido de prisão.

Empresa ligada a Gonçalves fez doação a senador por Roraima

De acordo com a Procuradoria da República no Paraná, o dirigente da UTC Engenharia Ricardo Pessoa e o operador financeiro e intermediário entre os executivos e agentes públicos Mário Goes admitiram o pagamento de propinas a Roberto Gonçalves. Os colaboradores comprovaram documentalmente quatro depósitos de US$ 300 mil feitos no exterior, a partir de conta em nome da offshore Mayana Trading, mantida por Mário Goes.

“Além disso, a apuração interna da Petrobras imputou ao ex-gerente executivo parte das irregularidades encontradas nas licitações e contratos do Comperj [Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro], como a contratação direta em 2011 do Consórcio TUC, formado, dentre outros, pela Odebrecht e pela UTC Engenharia. Paralelamente, autoridades suíças que investigam desdobramentos do caso Lava Jato transferiram ao Brasil investigações por crimes de lavagem de dinheiro relacionadas a Roberto Gonçalves, com base em acordos de cooperação internacional”, informou a procuradoria, por meio de nota.

O empreiteiro Ricardo Pessoa da UTC Engenharia é o mesmo que no ano passado, em outra fase da operação Lava Jato, delatou que fez doações para as eleições de 2014 em Roraima para o senador Romero Jucá (PMDB). Jucá foi citado por delatores como beneficiário de um esquema de desvio na estatal. Em depoimento à PF em fevereiro deste ano, o senador admitiu que pediu a Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, doações para a campanha de seu filho, Rodrigo Jucá (PMDB), que foi candidato a vice-governador de Roraima.

Em depoimento de delação premiada, Pessoa afirmou ter dado R$ 1,5 milhão ao PMDB de Roraima, em 2014. O empreiteiro disse, ainda, que entendeu que o pagamento estava relacionado à contratação da UTC, pela Eletronuclear, para obras da usina nuclear de Angra 3. Romero Jucá nega e atribui a doação ao “trabalho que desempenha como senador”