Cotidiano

Ex-integrantes destacam importância das ações para o desenvolvimento de Roraima

Dia 5 de maio é celebrado o Dia de Marechal Rondon, sertanista que deu nome ao primeiro projeto que trouxe universitários brasileiros ao estado

Roraima é um estado conhecido pela miscigenação. São vários os motivos que trouxeram pessoas de outras cidades e regiões ao extremo Norte do país. Um deles foi o Projeto Rondon, criado em 1966, numa parceria entre Governo Federal e as universidades brasileiras. A ideia, na época, era proporcionar uma experiência multicultural e a integração de estudantes universitários com outras localidades, principalmente na Amazônia Ocidental. Foi dessa forma que muitas pessoas chegaram à Roraima e fixaram residência.

Antes de iniciar na carreira política, a deputada federal Maria Helena Veronese foi rondonista. Formada pela UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), no Rio Grande do Sul, a parlamentar pisou pela primeira vez em Roraima em abril de 1971.

“A UFSM era uma das universidades participantes do Projeto Rondon. Naquela época, o Brasil possuía algumas áreas isoladas e por isso o projeto recebeu o nome de ‘Rondon’, em homenagem ao marechal Rondon, que sempre pensou em reintegração. Nosso slogan, inclusive, era ‘Integrar para não entregar’. Atuávamos como estagiários pelo período de um mês. Voltávamos para casa carregando um pouco de uma cultura nova”, relatou.

Ela relatou ainda que um dos primeiros empregos em Roraima foi como estagiária do então advogado Luiz Rittler Brito de Lucena, no Fórum Sobral Pinto. “Atuei também na Defensoria Pública. O Projeto Rondon me proporcionou muitas experiências positivas. Como eu cursava duas faculdades, Direito e Belas Artes, fui indicada a voltar para Roraima no mesmo ano, em novembro de 71. Nessa época, dei aula de música e tive como alunas Geisa Brasil, a governadora Suely Campos e Socorro Eluam”, relatou.

A história da parlamentar em Roraima estava apenas começando. Em 1973, Maria Helena retornou ao estado, dessa vez de forma definitiva. “O projeto Rondon sempre visou a aproximação e integração da Amazônia ao restante do Brasil e eu pude acompanhar isso tudo de perto em Roraima. Vivi a época do Território Federal, quando Roraima transformou-se em estado, a criação dos municípios e das rodovias que ligam o estado ao Amazonas e à Venezuela. Pude acompanhar esse crescimento de perto e tudo iniciou a partir do projeto”, lembrou.

Além da deputada, o advogado Iguatemi Rosas também foi um dos integrantes do Projeto Rondon. Nascido no Rio Grande do Sul e também graduado em Direito na UFSM, o ex-rondonista também chegou a Roraima na década de 1970. “Na época vim como contratado do projeto e atuei na administração do campus, que funcionava próximo ao aeroporto. O projeto era muito interessante e dava oportunidades às pessoas. Atuei também com o advogado Rittler de Lucena e fui um dos fundadores da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], em Roraima”, relatou.

Com o passar dos anos, Rosas fixou residência no estado, onde casou e teve cinco filhos. “Conheci minha esposa em uma das viagens a Rondônia. Trouxe-a para cá, casamos e dessa união nasceram cinco filhos. Construí minha vida, meus negócios e criei meus filhos aqui em Roraima. Tenho orgulho disso”.

PROJETO RONDON
Jovens contribuindo para o desenvolvimento do país

O projeto de levar a juventude universitária a conhecer a realidade de um Brasil multicultural e multirracial e, especialmente, de proporcionar aos estudantes universitários a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento social e econômico do país foi idealizado pelo professor Wilson Choeri, da Universidade do Estado da Guanabara, atual Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), em 1966, durante a realização de um trabalho de sociologia intitulado “O Militar e a Sociedade Brasileira”, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.

O sonho esboçado nos bancos escolares se concretizou no ano seguinte, no dia 11 de julho de 1967, quando 30 estudantes e dois professores, com a nova ideia, partiram do Rio de Janeiro para o Território de Rondônia. O projeto permaneceu em franca atividade, tornando-se conhecido em todo Brasil.

Se valendo do sucesso da operação piloto em Rondônia, o gabinete do Ministério da Guerra, naquela época, decidiu coordenar um grupo de trabalho provisório ligado ao gabinete do Ministro do Interior, que coordenariam a primeira Operação oficial do Projeto Rondon, em janeiro e fevereiro de 1968. Essa medida fez com que o então intitulado “Projeto Rondon” fosse institucionalizado em caráter permanente.

O Rio Grande do Sul, por meio da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), já se fazia presente nessa primeira missão, juntamente com universidades do Rio de Janeiro e São Paulo. A UFSM foi a primeira a instalar o Campus Avançado no ex-Território Federal de Roraima, na cidade de Boa Vista. Tendo como um dos diretores, o atual coordenador do Projeto Rondon na UFSM, o professor Ubiratan Tupinambá da Costa.

O Projeto Rondon foi extinto com a abertura política, em 1989, dando lugar mais tarde ao Projeto “Universidade Solidário”. Em 2005, no governo do Presidente Lula, o “Universidade Solidária” foi extinto e o Projeto Rondon retornou, agora sobre o comando do Ministério da Defesa com o apoio do Ministério da Educação e demais Ministérios.

O projeto segue vivo, também por meio da Associação Nacional dos Rondonistas, criada pelos primeiros coordenadores do projeto, que não deixaram que a ideia e os ideais do Projeto Rondon acabassem.

Instalações do Projeto Rondon favoreceram criação da UFRR

A história do Projeto Rondon em Roraima nasceu em agosto de 1969, quando a UFSM participou de sua primeira Operação Nacional e instalou seu campus avançado no estado. Com base nas pesquisas do jornalista Francisco Candido, um dos maiores problemas do campus avançado em Boa Vista, era a comunicação.

A única frequência de rádio brasileira captada era a da própria universidade, sendo as demais dos países vizinhos: Venezuela, República Cooperativista da Guiana e as ondas de Rádio da Colômbia.

O campus de Roraima foi coordenado, de 1977 até 1985, pelo professor Ubiratan Tupinambá da Costa, conhecido como Bira, pró-reitor adjunto da Prae (Pró-Reitoria de Assistência Estudantil) e responsável pelas operações do Projeto Rondon na UFSM desde 1977.

Em Roraima, as atividades desenvolvidas alcançavam diferentes áreas do conhecimento, com destaque para a atuação dos acadêmicos de cursos relacionados à saúde e a educação. “Além dos atendimentos à comunidade, a UFSM oferecia cursos de extensão para qualificação dos professores locais”, destacou Cândido.

A sede da UFSM em Roraima fechou em 1985 e as instalações foram fundamentais para a criação da UFRR, em 1989, conforme explicou o jornalista. “A experiência adquirida durante a atuação no norte do país, todavia, permanece. Ela é estímulo para o desenvolvimento de novas atividades de ensino, pesquisa e extensão”.